Oieee meus amores! Aqui está o capítulo de domingo! Vejo vocês agora só na terça-feira.
Um beijinho. E boa leitura xuxus. <3
[...]
Deixei o celular encima do sofá e fiquei aguardando Jú. Avistei uma cabeleira loira descendo as escadas apressada. Ela desceu o último degrau e veio até aonde estava. Juliana me olhava, com entusiasmo estampado no rosto. Seus olhos castanhos brilhavam, posso apostar aí tem coisa.
─ Oi. ─ Digo sem graça.
─ Oi Irís, como você está amiga? ─ Pergunta e se senta ao meu lado se jogando. Estranho. Conhecendo a Juliana como conheço está aprontando. Depois do último episódio ela estaria agora me dando uma bronca, por não me defender.
─ O que você está aprontando Jú? ─ Pergunto desconfiada e olho de relance pra ela.
Juliana está com uma blusinha folgada, calça moletom e seus cabelos loiros estão em um rabo de cavalo meio desajeitado.
─ Nada boba. Me diz, o que aconteceu? Você ainda está com a roupa de mais cedo. ─ Jú murmura. E se senta virada pra mim. Me olha com aqueles olhos castanhos escuros, me encarando desconfiada.
─ Vim me desculpar pelo o que aconteceu hoje na escola. ─ Digo apressadamente, Jú me olha e me dar um sorriso fofo.
─ Eu que deveria me desculpar Irís. Sou muito explosiva às vezes. Isso você já sabe. Esquenta com isso não. ─ Diz com a voz baixa e desvia os olhos depois. Se joga mais no sofá toda largada. E fita o teto da sala.
─ O que aconteceu Jú? ─ Pergunto baixo. Já entendi que algo está incomodando minha amiga.
Juliana me olha com um olhar perdido, e sei que aconteceu alguma coisa.
─ Depois do que aconteceu no pátio, eu decidi e contei para a diretora sobre o bullying que o pessoal do terceiro ano estão fazendo. ─ Ela começa a falar, mas é como se eu não escutasse mais o que ela estava falando.
Juliana contou que eu sofro bullying. Continuo a olhando. Me sento reta no sofá, ficando quase sem ar. A Juliana falou isso, e nem me contou nada?
─ Você disse meu nome? ─ Foi só o que consegui perguntar. Continuo a olhando, e vejo que seus olhos castanhos escuros estão me observando cuidadosamente.
─ Claro que não!
Foi como se um peso tivesse saído de minhas costas. Eu ainda não consigo admitir pra mim mesma que sofro de bullying, como iria explicar isso logo para diretora? Ainda bem que Jú não citou meu nome. Mas o que ela fez não me agradou em nada. A encaro por longos segundos, com uma das minhas sobrancelhas arqueadas.
─ Nem me olhe assim. Você queria que eu fizesse o quê? Isso já tem anos Irís. Estou cansada de ver você sofrer, e pode ter outras vítimas lá na escola. Você nunca parou para pensar nisso? ─ Ju fala tão rápido.
Sei que isso a afeta, vi como ela ficou no pátio. Não posso ser ingrata com minha amiga. Ela deveria ter ido sim me comunicar o que estava pensando em fazer, mas sei que ela está só querendo meu bem, e sei que ela tem razão. Pode ter outras vítimas. Eu estava tão fora de mim, sabia o que acontecia, mas nunca admitia nem para mim mesma e nem para minha amiga. E nunca fiz nada para poder ter voz e falar de uma vez por todas, todos os constrangimentos que passei naquela escola.
─ Você tem razão.
─ Eu tenho? Mas em que parte Irís?
─ Em tudo Jú. Você está certa em contar para diretora o que estava acontecendo. Eu que fui fraca e não contei antes. ─ Digo e coloco minhas mãos no meu rosto, frustrada.
─ Ei amiga, não pegue pesado consigo mesma. Você não é fraca, você é uma das pessoas mais fortes que já conheci. ─ Jú me olha com aquele olhar fofo dela, e me abraça de repente.
A abraço apertado, e sinto que logo vou chorar. Trato logo de segurar o choro. Não quero preocupar mais minha amiga, ela já faz tanto por mim. Não estou só abalada pelo o bullying que venho sofrendo desde o fundamental, mas como meu pai me tratou hoje. Ela me solta, e me olha.
─ Desabafa.
É incrível como ela me conhece, por mais que tente esconder e fingir que está tudo bem, ela sempre soube me decifrar.
─ Meu pai me bateu hoje. ─ Solto logo de uma vez. Se eu não falasse ela ia querer saber, eu não consigo esconder nada de Juliana.
Ela se levanta de repente e fica andando um lado para o outro.
─ Você está de sacanagem né Irís Oliveira?
─ Você sabe que não iria brincar com uma coisa dessas.
─ Como ele pode fazer isso Irís? Você aguenta aquele ser todo dia, é a filha mais exemplar que conheço. Você tem as melhores notas. Aguenta os dias de bebedeira dele. E como ele retribuí? Bate em você!
Jú fala gesticulando e andando de um lado para o outro. Fico zonza só de acompanhar.
─ Sim.
É só o que sai, abaixo a cabeça em derrota. Me sinto tão desprotegida, tão impotente diante dessa situação. Passo as mãos no cabelo angustiada, e sinto lágrimas se formarem nos meus olhos.
─ Que agitação é essa aqui meninas? ─ Sabrina entra de repente na sala de estar, nos olhando atentamente para entender o que está acontecendo.
Ninguém diz nada, sinto lágrimas rolarem no meu rosto silenciosamente, eu só deixo o choro sair. Estive segurando esse choro desde que meu pai me bateu antes de vir pra cá. Foi um tapa, eu sei, mas o que mas doeu foi enxergar em seus olhos verdes tão idênticos quanto os meus, e não vê mais o meu pai ali.
Sabrina percebendo que chorava veio até aonde estava, se sentou e me abraçou. Sabe aquele abraço de mãe? Eu senti isso quando ela me abraçou. Me senti acolhida.
─ Calma meu bem. Vai ficar tudo bem. ─ Sabrina murmurou. E eu só chorava. Parecia que tinha saído uma cachoeira dos meus olhos.
─ Irís... ─ Ouço a voz de Jú ao fundo.
─ Pega uma água.
Parecia que tinha passado segundos ou minutos, não sei ao certo dizer. Me afasto de Sabrina envergonhada. E limpo meu rosto.
─ Aqui. ─ Jú me dar o copo de vidro com bastante água e bebo apressada.
─ Irís me desculpa amiga, não percebi que falar daquele jeito ia fazer você chorar.
─ Não tem problema Jú. ─ Digo com a voz baixa e entrego o copo pra ela.
Quando ela vai dizer alguma coisa, meu celular começa a tocar. É um toque de um galo cantando, estranho né?
Pego meu celular do sofá. É bem simples, eu paguei com mesada que ganho do meu pai. Olho a tela, é meu pai. Meu coração gela na hora, Jú e Sabrina percebem meu nervosismo. Respiro fundo e atendo.
─ Oi. – Murmuro com a voz falha. Sempre fico com a voz meia rouca depois que chorava.
─ Irís Oliveira, venha agora para casa. ─ Disse com uma voz autoritária, como se tivesse moral para falar comigo daquele jeito. Respiro fundo.
─ Estou a caminho. ─ Digo friamente e desligo.
Assim que desligo, Juliana e Sabrina me olham com curiosidade.
─ É Roberto, pediu para ir pra casa.
Juliana me olha preocupada, Sabrina franzi as sobrancelhas sem entender nada aquela situação.
─ Irís você pode ficar aqui hoje amiga. Lugar é que não falta e meus pais não vão se incomodar. ─ Jú me oferece para ficar daquele jeitinho dela, preocupada.
─ Jú obrigada, mas é melhor eu voltar.
─ Querida eu não sei o que aconteceu, mas percebendo seu estado é grave. Fique por favor.
─ Foi uma briga que tive lá em casa Sabrina. Não se preocupe, e obrigada. Melhor eu ir logo. ─ Digo rapidamente.
Não quero que Sabrina saiba o real motivo do meu choro. Somos amigas de longa data. Mas o que ela vai achar da única pessoa que posso chamar de família? Jú é minha melhor amiga, e sei que não vai julgar meu pai, e sim vai querer me ajudar.
Sabrina acena e sorri carinhosamente para mim, e me abraça.
─ Se cuida menina. Qualquer coisa que precisar não hesite em me chamar. ─ Ela me deu um beijo casto na bochecha, se levantou e se fora entrando na copa.
─ Por que você não falou pra ela?
─ Não me senti a vontade Jú. Agora preciso ir.
Pego minha bolsa do sofá, me levanto, coloco o celular no bolso de trás. Coloco uma alça da minha bolsa em um dos meus ombros, e andamos lado a lado até porta de entrada.
─ Se acontecer qualquer coisa do tipo, você me liga? Estou falando sério Irís. ─ Jú pedi, e abre a porta para mim.
─ Claro Jú. E obrigada mesmo. Você sabe que te amo né? ─ Pergunto, e ela balança a cabeça confirmando. A abraço rapidamente e me afasto.
─ Te amo também bobona! E se cuida.
Sorrio de verdade, dou um aceno para ela, e sigo o caminho de volta para casa.
O que será que ele quer dessa vez? Estou com medo, medo de ser agredida novamente, não fisicamente, mas verbalmente. Hoje foi um dia e tanto, mas preciso ser corajosa pelo menos uma vez na vida, não posso ter medo de entrar na minha própria casa.
Minutos depois chego no portão com o coração na mão.
Respira Irís, você consegue. Penso.
Abro o portão, e entro no terraço procurando meu pai. Meu pai está perto da porta principal em pé. Ele é um homem bonito, se quisesse teria outra chance de ser feliz com outra mulher.
─ Que bom que veio! ─ Murmura com uma voz grossa. O que deu nele? Será que estou sonhando?
─ Oi Roberto. ─ Digo nervosa, ainda estou chateada pelo tapa que me dera mais cedo.
Ele me encara com a cara feia, mas não diz nada.
─ Bom, a chamei aqui com certa urgência. Por que estou saindo para uma viajem. E sua tia Rebeca vem para ficar com você, por esses dias. ─ Diz soando como se fosse um pai preocupado.
Cruzei os braços incomodada, mas de certa forma estava aliviada, pois ele estará viajando e minha tia vira para cá. Tia Rebeca tem 25 anos, no auge de sua idade gerencia um restaurante bastante conhecido aqui em Minas. Ela é solteira, e não tem filhos. Sempre que podia ia visitá-la. Vai ser bom ter ela por perto.
─ Tudo bem! ─ Digo com cautela.
Meu pai acena, e sorri pela primeira vez em anos, e entra na casa. Que bicho o mordeu? Entro na casa e vou direto para meu quarto cansada, jogo minha mochila no chão.
Pego meu celular do bolso e coloco no criado-mudo. E em seguida me jogo na cama. O que deu nele? Horas antes estava jogado no chão bêbado, e bateu em mim.
Estava tão brava com ele, desde que o conheço nunca ousou bater em mim. E agora me trata como fosse sua filha do coração. Fico pensativa sobre isso, e meus pensamentos vagam ali. Estou exausta fisicamente e emocionalmente, levanto e me preparo para ir tomar banho.
Não tenho nenhum apite para almoçar depois de tudo que aconteceu. Vou até minha cômoda, pego minhas roupas de casa, pego uma toalha limpa e me dirijo para o banheiro. Só quero ter um longo e relaxante banho, será que é pedir muito? Só quero que esse dia acabe logo.
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