O que pesa mais, uma pena ou uma bola de boliche?
A resposta era tão óbvia que chegava a ser retórica. Foi isso que Eleanor pensou quando Miles se inclinou em sua direção e perguntou em seu ouvido, com hálito de Cherry Coke e Cerma se ela estava se divertindo.
Eleanor revirou os olhos e Miles disse mais alguma coisa que ela não entendeu sobre karaokês e o filme do Batman que iria estrear.
Tina estava ao seu lado bebendo como se não houvesse amanhã. O que Eleanor desconfiava que o motivo pelo qual era convidada para as festas não era pra se divertir, mas sim cuidar da Tina bêbada.
Estava tocando Where's my mind tão alto que a garota conseguia sentir os acordes ressoando no próprio peito. Ela gostava dessa música.
Por muito tempo (mais especificamente dois anos e meio), a garota tinha a sensação inquietante de que algo nela, pelo menos 70% de si estava totalmente desfragmentado. Como uma parede muito frágil que sabe que com mais 3 marteladas vai ceder.
A melodia a fazia sentir como se algo que estivera por muito tempo sem eixo fora de si, finalmente entendesse que está tudo bem estar fora do lugar.
Eleanor se balançou um pouco com a música, deixando os olhos fechados, sentindo-se febril e levemente nostálgica.
Talvez fosse os poucos goles que deu na bebida.
Pensou no seu trabalho de artes. Seu professor não entendia, (e como poderia?), que se Eleanor realmente colocasse no papel tudo que sentia e pensava, seria como uma martelada.
Se ela realmente dissesse tudo que pensava, não haveria volta.
Se Eleanor finalmente expressasse tudo, não haveria ninguém no mundo que pudesse a convencer que ela não era egoísta.
***
Era mais de meia noite quando ela chegou no dormitório.
Eleanor se embolou nas cobertas e dormiu encarando a tela de artes em cima do cavalete. Parecia estar zombando dela.
Ela a encarou até pegar no sono.