{POV Daniel}
Quando acordei na manhã seguinte, pensei que tudo fosse um sonho. Até notar que um Elídio adormecido ainda me abraçava do mesmo jeito, e então sorri sozinho. Me virei devagar na cama e fiquei de frente pra ele. Eu tinha sonhado com aquele momento por tanto tempo e, agora que estava acontecendo, parecia irreal demais.
Levantei minha mão e toquei sua bochecha com as costas dos dedos, acariciando delicadamente. Percebi ele abrindo os olhos devagar, mas não parei com o carinho.
"Dani?" ele murmurou. "Tudo bem?"
"Tá sim. Pode dormir. Tá cedo ainda." ele proferiu um hum e voltou a fechar os olhos, prendendo mais o braço ao meu redor e escondendo o rosto no meu peito. Plantei um beijo no topo de sua cabeça e me afastei quando senti que tinha caído no sono.
Sentei na cama e me espreguicei, sentindo a minha barriga doer de fome. Eu não comia desde o último show. Isso não podia ser bom.
Fui ao banheiro e dei uma chuveirada rápida, me vesti e corri pra fora de casa para ir até a padaria no fim da rua para comprar algumas coisas.
O dia estava muito bonito. Ri do meu próprio clichê, enquanto caminhava e cantarolava para o estabelecimento.
Já estava voltando quando meu telefone começou a tocar. Puxei o aparelho e vi o nome de Elídio, mas recusei a chamada e apressei o passo. Já estava quase na frente do prédio.
Quando entrei no apartamento, Lico estava sentado no sofá, assistindo alguma coisa na televisão. Ele me ouviu abrir a porta e se virou, abrindo um grande sorriso. Coloquei as bolsas sobre a mesa e me aproximei, sentando ao seu lado. Mordi o lábio inferior e deixei as mãos fechadas em minhas coxas, me sentindo bastante sem jeito. Lico também não parecia saber o que fazer, mas após alguns segundos, ele colocou a mão na base das minhas costas, se curvou na minha direção e deixou um beijo em minha bochecha.
"Onde você estava?"
"Eu fui até a padaria pra comprar algumas coisas para comermos. Pode ir comendo, eu faço o café rapidinho."
Mesmo com o meu pedido, ele me acompanhou até a cozinha e ficou por perto enquanto eu preparava a bebida na cafeteira, encostado na bancada da cozinha. Quando tentei passar por ele para pegar algo na geladeira, ele me puxou para perto. Ficamos frente à frente e ele colocou as mãos na minha cintura. Seu sorriso era lindo. Me inclinei na sua direção e selei nossos lábios, aprofundando o beijo imediatamente, nossas línguas se cruzando em um beijo lento.
Nos separamos com um selinho e sorrimos um para o outro, eu finalmente chegando a geladeira para pegar o que queria. Logo estávamos sentados a mesa, comendo os pães que eu havia comprado antes e conversando diversos assuntos.
"Nosso último show é hoje." ele comentou casualmente, enquanto colocava uma fatia de queijo dentro do pão cortado. "Você está animado?"
"Muito. Essa foi uma das nossas melhores temporadas e estou ansioso para dar um desfecho bom. Mas eu bem que estou precisando de umas férias." ele concordou com a cabeça. Sabia que também estava exausto.
"Dani" ele chamou após alguns momentos em silêncio. "Você quer contar aos rapazes sobre o que tá rolando entre a gente?"
Pensei em sua pergunta por um tempo, enquanto bebericava o café fumegante em minha xícara. Olhei para ele e acenei negativamente com minha cabeça.
"Hoje não. Nós temos que conversar ainda. Na verdade, nem eu sei o que tá rolando entre a gente." meu comentário fez Elídio rir. "Podemos contar, mas não vamos fazer isso hoje. Quero curtir mais um pouco antes de voltar aos assuntos mais sérios."
Elídio concordou e sorriu, pegando a minha mão que estava repousada sobre a mesa e plantando um beijo nas costas dela.
Terminamos de comer e arrumamos a bagunça, sentando juntos no sofá para assistir alguma coisa. Eu havia sentado ao lado de Elídio, mas ele me puxou para os seus braços e fiquei recostado em seu corpo; ele com o braço ao meu redor, eu com a cabeça em seu ombro.
Lico estava focado no filme de comédia que passava na TV, mas a minha cabeça estava longe dali.
Eu estava me sentindo tão bem, tão em paz; mas não conseguia evitar aquela pulguinha de medo de tudo aquilo não durar. Nós não tínhamos conversado sobre o que estava acontecendo. Tínhamos muita coisa para colocar em pratos limpos. E se não desse certo? E se tudo terminasse terrivelmente mal?
Deixei escapar um resmungo de insatisfação, atraindo a atenção de Elídio. Ele me afastou um pouco e me olhou nos olhos, parecendo curioso.
"Algum problema?" acenei que não, mas ele não acreditou. Me olhou com uma sobrancelha arqueada e eu dei uma piscadela, voltando a me aconchegar perto dele.
***
Foi provavelmente um dos melhores shows que já tínhamos feito. Parecia que todos os cinco estavam em perfeita sincronia e tudo havia fluído muito bem, sendo difícil até manter a pose durante as cenas.
Tiramos as fotos com os fãs após a segunda sessão e voltamos para o camarim, finalmente podendo comemorar o nosso sucesso e respirar em paz, sem nenhum compromisso.
Elídio e eu tínhamos combinado de não ficar muito tempo um do lado do outro para não dar muito na cara; mas era difícil ficar longe quando se estava tão feliz assim.
Eu agora estava em um lado do camarim, conversando com Andy e Marco, enquanto Elídio conversava com algumas pessoas da produção do outro lado da sala. Eu tentava prestar atenção no assunto em que estava envolvido, mas sempre me pegava olhando para Lico e sorrindo como um grande bobo apaixonado.
"O que está acontecendo entre vocês?" Andy questionou desconfiado, me olhando com uma sobrancelha arqueada. "Você não tirar os olhos do Lico é normal, mas ele não para de te olhar de volta. O que vocês fizeram?"
"Nada, Anderson. Tá louco?" eu ri nervosamente, balançando a cabeça. Andy e Marco se entreolharam e balançaram a cabeça, não comprando nem um pouco a minha mentira.
"Ei, que tal a gente ir pr'aquele barzinho que tem aqui perto?" uma das meninas da produção sugeriu. "Temos que comemorar o sucesso dessa temporada."
Ouvi os burburinhos animados com a ideia, mas eu não me empolguei muito. Eu realmente não era o tipo que curtia esse tipo de programa. Só queria ir pra minha casa.
"Ah não, Dani. Nem vem com essa cara." Andy me recriminou ao ver minha expressão desanimada. "Só hoje não vai te matar."
"Ah, mas eu nã--"
"Ele vai nem que seja amarrado." Elídio ameaçou de onde estava, piscando na minha direção quando o olhei, indignado. "Precisamos comemorar. Nós merecemos.",
Crispei os lábios, concordando com a cabeça. Era só uma noite.
***
Conseguimos uma mesa encostada em um canto afastado da muvuca do tal barzinho e logo todos se separaram, cada um para um canto. Eu fiquei sentado, sozinho, já arrependido por ter aceitado ir com eles.
"Desamarra essa cara, Dani." Lico falou, colocando dois copos de cerveja na mesa e sentado ao meu lado. "Até parece que estamos te torturando."
"A sensação é essa mesma." comentei emburrado, fazendo ele dar uma gargalhada e balançar a cabeça. Não consegui evitar sorrir junto.
Ficamos sentados sem conversar, cuidando de esvaziar os copos na nossa frente. Elídio bebia uma cerveja sem álcool, pois estava dirigindo. Ouvia ele cantarolando a música que a banda tocava no palco e se balançando na cadeira em uma espécie de dancinha.
Sua mão estava embaixo da mesa, apertando gentilmente e discretamente a minha coxa.
"Lico" chamei perto de seu ouvido para me fazer ouvir em meio ao barulho. "Você pode ir dançar, se quiser. Eu sei que você gosta."
"Tá tudo bem." ele respondeu. "Estou exatamente onde quero estar."
Sorri timidamente e meneei com a cabeça, voltando a minha atenção para frente. Vi Anderson passar cambaleante na nossa frente e balancei a cabeça, dando uma risada. Não queria imaginar a ressaca que ele teria no dia seguinte.
"Oi, você não é do YouTube?" ouvi alguém falar perto de Elídio e virei para olhar, vendo uma mulher loira parada ao lado. "Acho que te vi naquele canal de stand-up famoso. Os Improváveis, não é isso?"
Engoli uma risada e fingi estar bebendo para esconder meu sorriso atrás do copo. Vi Elídio me olhando de lado e tentei me recompor.
"É, sou eu." ele confirmou, sorrindo falsamente. Normalmente ele corrigiria aqueles erros, mas talvez ele estivesse cansado demais pra isso.
"Você não quer sentar comigo e minhas amigas na nossa mesa? Pode trazer seu amigo junto." ela me olhou e piscou. Eu ergui meu copo em direção a ela e pisquei de volta, antes de abaixar a cabeça e rolar os olhos.
Estava mais interessado na resposta que Elídio iria dar. Ele não havia tirado a mão da minha perna em nenhum momento daquele diálogo.
"Não, obrigado." declinou educadamente ao convite. A desconhecida deu os ombros e se virou para sair, não parecendo incomodada com a recusa.
"Tem certeza?" eu perguntei quando ela já estava longe. "Talvez a mesa dela seja mais interessante."
"Para de tentar me afastar, Dani." ele brigou comigo, me olhando com a testa franzida. Coloquei minha mão sobre a dele e voltei minha atenção para as outras pessoas, disfarçando o sorriso tímido que surgiu.
***
Chegamos no meu apartamento após passar um par de horas no bar. Levamos Andy carregado conosco. Ele havia bebido tanto que mal conseguia se manter em pé. O arrastamos até o sofá e o largamos ali, onde ele resmungou e se encolheu, agarrando uma almofadada próxima. Cuidei de pegar um balde e deixar ao lado dele, junto com um copo de água e um remédio para ajudar na ressaca; Elídio pegou um edredom e o cobriu.
Depois de deixar tudo arrumado, fomos juntos para o quarto. Elídio retirou os tênis e se jogou na cama, gemendo de alívio por poder esticar as costas. Eu ri, enquanto pegava uma roupa e sumia para o banheiro da suíte para tomar um banho.
Quando voltei ao quarto, Elídio já estava deitado embaixo do cobertor, apenas com a luz do abajur ligada. Me aproximei e sentei ao seu lado, cobrindo minhas pernas. Ele estava quase adormecido, mas se arrastou para abraçar minhas pernas e deitar a cabeça em minha coxa. Comecei a passar os dedos entre seus cabelos sem nem perceber.
"Não vai tomar banho? Tá fedido." disse brincalhão, ouvindo ele dar uma risada anasalada e depois balançar a cabeça que não. "Certeza?"
"Muito cansado." ele murmurou, bocejando em seguida. "Amanhã."
"Chega pra lá, me deixe deitar." ele se afastou de volta para o travesseiro em que estava e eu arrastei meu corpo para me deitar, ficando novamente de costas pra ele. Lico imediatamente envolveu meu corpo, me puxando para perto de si e eu fui de bom grado.
"Preciso sair do quarto antes do Andy acordar." ouvi ele murmurar enquanto entrelaçava nossos dedos. "Me acorde cedo, se conseguir."
"Hm-mm. Agora dorme. Boa noite."
"Boa noite, Dani." ele respondeu, deixando um beijo na parte detrás de meus cabelos. Fechei meus olhos e não demorei a dormir, tendo a respiração de Elídio para me embalar.
Fim do capítulo 10
***
Oi oi!
Postar de madrugada me faz sentir muito uma adolescente virando a noite pra escrever fanfic lgbt. Sdds. Eu fazia MUITO isso quando era mais nova. hahahaha
PASSAMOS DE 500 VISUALIZAÇÕES e já tem mais de 160 comentários. Eu não posso descrever o quanto eu fiquei feliz quando vi isso. Eu sei que parece pouco, mas pra mim é especial demaaais. Eu pensei real que ia flopar. Muuuito obrigada a todos que estão tirando um tempinho pra ler. ❤❤❤
Próxima postagem é só na sexta-feira ou no sábado, após a 00h. Espero que tenham gostado do capítulo e não esqueçam de dizer o que curtiram.
Até já, bjs!!!