O céu é para todos [COMPLETO]

By marivilefort

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Sky acaba de sofrer uma decepção amorosa. Ela decide criar um plano mirabolante de ficar com 99 pessoas sem... More

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Agradecimentos

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By marivilefort


Matheus

Chego em casa sujo de lama e tinta. Estou exausto.

Subo as escadas, ouvindo a música alta vinda do andar de cima. Passo pelo quarto de Rebecca, e desvio o olhar.

Eu era o único que tinha conseguido entrar lá. Meus pais nem chegaram perto, não quiseram mexer. Eram muitas coisas. Muitas coisas que uma pessoa tinha e de repente não as tinha mais, porque havia ido embora e não levado nada.

Seus objetos me pareciam efêmeros demais, e ao mesmo tempo, muito importantes.

Sigo para cima, porém vejo a porta entreaberta do quarto dos meus pais. Minha mãe fuma na janela, com as luzes apagadas e sei que está chorando. Ela tem feito muito isso.

- Cheguei, mãe. –Aviso minha presença, adentrando o cômodo, querendo seguir para o banheiro da suíte e tomar um banho.

- Ei, filho. Foi bom hoje? –Seu rosto se vira para mim e a lua ilumina suas lágrimas, as deixando prateadas.

- Sim, sim. Foi bem legal. –Ela acaricia meu cabelo, enquanto falo isso.

- Precisa cortar essa juba.

- Estou deixando crescer, você sabe. Onde tá o meu pai? –Mudo de assunto para ela não ter de protestar sobre meu cabelo.

Minha mãe bufa.

- Lá em cima, bebendo, como sempre.

Assinto. E estou prestes a me virar para ir ao banheiro, quando ela começa.

- Eu me pergunto, sabe, Matheus, se um dia... eu vou conseguir superar isso. É, superar eu sei que eu nunca vou, mas, seguir com a vida, sabe? A sua irmã faz muita falta, um pedaço de mim foi embora, e não deveria ser assim. Deveria ter sido eu primeiro.

Sua voz embarga e o nó na minha garganta se alarga.

- Ela ia querer que a gente continuasse, mãe. Então temos que tentar, de alguma forma, por ela.

Minha voz sai estranha, segurando o choro. Não parece eu. Nada parece eu. Nada parece certo.

Ela assente. Limpando as lágrimas.

- Assim que tomar seu banho, faz um favor para mim? –E eu já sei o que ela vai me pedir, e concordo. –Vai lá em cima e chama o seu pai para dormir. Eu não aguento mais lidar com ele desse jeito. Vai acabar caindo a qualquer momento, e machucando...

- Tudo bem, mãe.

Vou para o chuveiro, pensando que até falar com minha mãe eu estava bem. Não tinha percebido que havia passado pela sala e Becca não estava lá, assistindo Faustão e pintando as unhas, ou fazendo um bolo com calda de chocolate na cozinha. Se as luzes do seu quarto estivessem acesas, poderia até imaginar que estaria fazendo escova para ir na faculdade amanhã.

Deixo a água escorrer todos aqueles pensamentos que não levam a lugar nenhum.

Troco de roupa e subo para o terraço.

A música continua a estrondar a vizinhança e meu pai dorme encurvado na cadeira. Vê-lo tão vulnerável faz meu peito doer.

- Ei, pai. Levanta. Vai dormir na cama. –Sacudo seus braços, falando a mesma frase mil vezes, até ouvir um murmúrio mínimo vindo dele.

- Onde a gente tá? –Seus olhos ficam alertas, e olham de um lado para o outro.

- Em casa. –Respondo me agachando para ele me ver. –Vamos descer, você tava dormindo na cadeira.

- Tá, tá. –Ele abana as mãos como que pedindo tempo, e quase volta a dormir, porém eu o cutuco e ele volta a levantar.

Desequilibrado e tropeçando nas coisas, consigo guia-lo até o fim das escadas e botá-lo na cama. Minha mãe já está roncando pelo efeito dos remédios.

Fecho a porta, porém ao invés de ir para o meu quarto, vou para o de Rebecca.

Acendo a luz e me sento em sua cama. Olho para os tons de laranja e rosa.

Muitas vezes fico aqui, me sentindo triste, ansioso ou vazio.

Hoje não sinto nada.

Nem me forço a pegar algum de seus cadernos e me torturar tentando decifrar o que ela escrevia. Tudo parece íntimo demais.

O engraçado é que quando ela era viva, eu não perdia tempo eu fuçar tudo. Hoje parece quase profano.


Onde aquela maldita escondeu o chocolate?

Sei que ela tem, pois um ficante caidinho por Becca, a presenteou com um cesta de doces essa semana.

Fuço até na suas gavetas de calcinhas, e quase vomito ao encostar num vibrador.

Meu Deus, é muita radioatividade. Vou ter que me desinfectar depois, fisicamente e mentalmente.

- O que tá fazendo no meu quarto, Matheus? –Rebecca está parada na porta, com os braços cruzados.

- Achei que você tinha saído.

- Esqueci minha carteira. –Ela anda até a cômoda e pega, parando para se olhar no espelho, e dando uma ajeitada nos cabelos castanhos com mechas loiras. –O que você tá procurando?

Fico morto de vergonha e bravo por ter sido pego no pulo.

- Estava procurando aqueles chocolates que o João Pedro te deu. –Dou de ombros. –Deu vontade.

- Era só pedir, bobo.

Rebecca abre uma gaveta abaixo das de roupa íntima que eu não tive tempo de procurar, e tira uma barra inteira para mim.

- Valeu. –Sorrio.

- Fala para o papai e a mamãe para não se preocuparem que vou dormir na casa da Gabi.

Ela pisca e saí do quarto.


A lembrança quase não dói. Quase.

É feliz, porém melancólica o suficiente para me fazer pensar que não teremos mais conversas assim.

Acho que é assim que eles chamam a saudade.


Sky

Meu celular está cheio de mensagens e tenho ignorado todas.

Sério? Quem manda mensagem numa segunda-feira de manhã?

Aparentemente, Alex era esse tipo de pessoa.

Elu falava que tinha gostado do beijo, e queria que saíssemos juntos para um rolê.

Não recuso de primeira, mas também vou evitar dar esperanças. Estou dando um breve vácuo.

Estava quase cochilando na aula de Língua Portuguesa, quando meu celular vibrou com uma mensagem de Greta. Desbloqueio meu celular, porém antes que eu pudesse ler, fui adicionada em um grupo com muitas pessoas que eu conhecia, e outras não.

O título era FESTA DO BÊ – 25 DE ABRIL

O bom de ser rico como o Bernardo é que você poderia fazer uma super festa de aniversário a qualquer momento sem ter que planejar nada. Sério. Que sorte.

Li brevemente as informações. Seria num sítio em Santa Luzia, só teríamos que levar a bebida e pagar o transporte.

E é claro que Marlon e Diana estavam nesse grupo.

Abro a mensagem de Greta.

"Você não acha que o Bruno mente sobre o aniversário dele? Porque tipo, ele faz umas três festas por ano!"

Seguro minha risada.

"SIM!!! Ele nunca seria taurino. É sagitariano, mas é difícil comemorar tão perto das festas de fim de ano." Respondo.

"NÃO QUE EU ACREDITE EM SIGNO, LONGE DE MIM, MAS...."

"Isso é sério???"

"Nah. Já fiz o mapa dele. O ascendente e lua são sagitário, mas ele é taurino mesmo."

"Eita. Ele chamou praticamente o evento todo, inclusive os membros novos."

"Meu Deus, que horror. Até as criancinhas? Vamos para cadeia."

"Não, tá louca? Digo o pessoal mais velho que entrou. O Matheus, meu novato, tá nesse grupo. E eu nem vi ele conversando com o Bê. Que doideira."

"Ah, nem me importo. O Bê ama uma festa, quando não faz uma, ele está em uma. E deve ter seguranças pela quantidade de pessoas."

"Sim. São umas duzentas. Confesso estar animada kkkkkk"

"Nem fala. Vai ser tudo para aliviar o estresse."

"Você trate de se segurar, hein, Sky. Tem tudo para dar muita treta."

Mando o emoji de anjo em resposta, porque é assim que me comportarei até lá.

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