Qual é o meu problema?
Eu estava sendo uma inconsequente toda vez que ia novamente àquela fraternidade. Judie com certeza sabia que eles estavam lá, por isso me mandou ir atrás do Grayson, ou talvez ela realmente não soubesse de nada e só quisesse me ajudar...
April e Grayson, juntos... só de pensar naquela cena novamente já me embrulhava o estômago, nunca tinha passado pela minha cabeça que a April tivesse um caso com o filho do seu padrasto, aquilo era tão esquisito, mas nem tanto vindo de Grayson, tinha quase certeza que ele fazia coisas piores que isso, não quis levar meus pensamentos adiante quando percebi aquele fato.
E, ele meu beijou.
Caramba!
Eu deixei um homem bêbado me beijar...
*
E alí estava eu, outra vez, na minha cama pensando naquele arrogante e no seu beijo tão... avassalador?
Dylan nunca tinha me beijado daquele jeito, seus beijos eram sempre delicados e castos, na verdade, foram poucas as vezes que nos beijamos durante o nosso curtíssimo relacionamento.
Meus pensamentos mais uma vez foram interrompidos abruptamente pelo estrondo da porta sendo aberta.
Olhei em direção a entrada e vi Ray, que parecia desesperado.
— Você sabe onde a Judie se meteu? Eu não encontrei ela na festa e eu preciso dela...
O Grayson surtou, começou a xingar todo mundo e está gritando que odeia um garota por ela estar sempre na cabeça dele, e eu não estava entendendo nada, então resolvi chamar a Judie por eles se entenderem bem ou eu só esteja mesmo desesperado porque ele não quer me escutar. — disse em um só fôlego, me deixando pensativa.
Quem é essa garota?
— Eu não sei onde ela está, desculpa.— murmurei e ele imediatamente me olhou estranho.
Lá vem!
— Hillary, eu sei que a gente nem se conhece direito, mas, você poderia me fazer o favor de me ajudar com o Grayson? — ele praticamente implorou.
Ele só pode estar de brincadeira com minha cara.
— O quê? — aumentei o tom de voz. — Ray, eu só pioraria mais as coisas. Grayson me odeia!
— Não, Hillary, ele não te odeia... ele já te disse isso alguma vez? — desviei o olhar quando sua voz engrossou.
— Não. — afirmei em um tom quase inaudível e percebi ele relaxando um pouco os ombros tensos.
— Eu sei que o Grayson é meio difícil de lidar... — ele suspirou, se aproximando. Franzi as sobrancelhas e ele sorriu. — Ok, muito difícil. Porém, eu tenho certeza que ele não te odeia, ele só é revoltado com a vida e nunca deixa as pessoas se aproximarem de mais dele.
E ele até estava rindo falando de você ontem... talvez ele ache você divertida. — sorriu, tentando aliviar o clima, o que não funcionou muito. Eu sabia que o Grayson estava rindo era da minha cara e não porque eu era divertida, porque eu realmente não era... nem um pouquinho.
Mas talvez não fosse tão difícil assim ajudar o Ray nessa.
— Ok, eu vou te ajudar. Deixa só eu pegar minha bolsa. — ele sorriu aliviado, assentindo.
Que Deus me ajude.
Depois de alguns minutos, Ray estacionou o carro no jardim da fraternidade e quando entramos a casa estava totalmente revirada e não havia mais festa... e tinha quase certeza que não foram os universitários que fizeram aquilo.
— Ele está no jardim... lá atrás.
— Ray informou, apontando para uma porta que dava acesso ao jardim de trás da casa.
— Você quer que eu fale com ele? Eu pensei que eu fosse ajudar de outra forma... mas falar com ele?
— perguntei receosa. Eu tinha certeza que ele nunca iria me escutar.
— Você está mais calma, e eu tenho qua...
— Hillary! — um grito alto e grave interrompeu Ray. — Mas que porra, Hillary! Por que você tem que ser tão estranha e tão chata? — era a voz do Grayson.
— Eu não vou falar com ele!
— decidi. Ele estava perturbado e me xingando, eu não ajudaria em nada.
— Ele não vai te fazer nada... eu vou ficar na porta caso ele tente algo, o que eu acho improvável. Hillary, ele não é um monstro, ele é só um idiota metido a bad boy chato pra caralho, ok? E eu acho que você é a mais inteligente pra falar com ele, pra saber o que fazer, se eu for lá com certeza a gente vai brigar e eu vou piorar tudo. Por favor faz isso por mim, e por ele? — pediu, meu cérebro já estava tendo dificuldades de processar tudo aquilo.
Mas não custava nada tentar.
— Ok, eu vou.— declarei incerta e começei a ir em direção ao jardim. Ray, como prometido, ficou na porta me observando.
Logo avistei Grayson sentado na cadeira de uma pequena mesa redonda bem lá no fundo do quintal, ele parecia transtornado com a cabeça entre as mãos.
Andei abraçando meu corpo, por conta do frio da noite, e me arrependendo amargamente por não ter pego um casaco.
Agradeci mentalmente por o jardim ser iluminado o suficiente pra não me deixar tropeçar em nada.
Quando estava na frente de Grayson, ele imediatamente percebeu minha presença e levantou a cabeça, me assustei pois ele estava com os olhos um pouco avermelhados. Pareceria um filme de terror se Grayson não fosse tão... lindo, mesmo estando naquele estado.
Eu me sentei na cadeira a sua frente e ele franziu o cenho.
— Quem mandou você sentar? Aliás, quem te chamou aqui? — perguntou em seu tom arrogante de sempre.
— Calma, Grayson, eu vim te ajudar a pedido do Ray. — disse calmamente.
— Então você e o Ray são amiguinhos agora? — perguntou, irritado. — Eu não preciso da sua ajuda, e nem da de ninguém.
— disse se enrolando um pouco com as palavras.
Levantei e comecei a andar um pouco pra longe e ele ficou em alerta.
— Pra onde você vai? — perguntou parecendo preocupado. Ele não queria que eu fosse?
Suspirei, colocando as ideias em ondem, eu não era de desistir tão fácil... Pelo menos era isso o que eu achava.
— Pra lugar algum! — declarei e voltei meu olhar em sua direção.
— Grayson, eu vim aqui te ajudar e é isso que eu vou fazer, mesmo que não queira. — disse convicta fanzendo-o bufar.
— Eu já disse que eu não preciso da sua ajuda, esquisitona. — reforçou com um sorrisinho me fazendo revirar os olhos e fechar as mãos em punhos.
Me aproximei um pouco mais e olhei em seus olhos.
— Grayson... porque você não gosta de mim? Porque você sempre tem que me falar palavras que magoam? Porque você sempre diz coisas ruins a meu respeito?
Eu nunca te fiz nenhum mal, eu nem sequer falo com você. Você é que sempre faz questão de puxar alguma conversa pra no final me machucar. Porque você sempre faz isso? — perguntei já chorando. Eu tenho que parar de chorar por tudo.
Ele me encarou por alguns segundos e depois desviou o olhar.
— Ok, eu desisto! — declarei segui o caminho de volta a fraternidade.
— Porque você é uma maldita feiticeira. — declarou de repente me fazendo parar de andar. Arfei, me virando pra encara-lo novamente.
— O quê? — murmurei com a voz falha, ele já estava me irritando.
— Desde que você chegou naquela maldita universidade, com aquelas roupas ridículas e falando coisas melosas sobre livros de romance, eu te achei estranha e até maluca, por gostar tanto de estudar e por usar roupas para pessoas com o triplo da sua idade...— eu tinha certeza de que ele sentia meu olhar queimando sua pele. — mas ao mesmo tempo achei engraçado o jeito com que você corava a cada palavra que eu falava. Primeiramente, eu não tirei você da cabeça por ser tão estranha e diferente das pessoas que eu conheço por lá, mas depois da primeira vez que você veio pra fraternidade com aquele vestido... eu não consegui tirar da cabeça o quanto você é linda, você é bonita, bonita pra caralho. — ele me encarou e eu senti, outra vez, vontade de ir embora.
Mas só não se ache tão importante, eu acho garotas bonitas o tempo todo. Mas, o seu jeito é diferente... — ele fez uma pausa e eu continuei o encarando completamente perplexa.
Ele deve estar drogado também.
— Você fica corada só por alguém falar a palavra foder em uma frase. E é estranhamente gostoso ver você corar... Merda! O que eu estou falando. Esquece tudo o que eu disse! — ele passou a mão pelos cabelos... um ato, que eu percebi, que ele faz quando está nervoso. — Eu nunca fui tão sincero com alguém antes... você já pensou em ser psicóloga? Eu só olhei pra você e já senti um vontade de falar tudo isso... Que merda é essa? — perguntou. Antes eu precisava ajudar ele, mas, agora eu é que precisava de ajuda pra poder me mover pois não fazia ideia se conseguiria sozinha.
— E-Eu não sei. — essa foi a única coisa que eu consegui dizer no momento. — Eu acho que você já está mais calmo... então eu já vou indo.
— minha voz continuou baixa. Comecei a praticamente correr de volta a fraternidade.
Qual a parte de nunca mais voltar naquela fraternidade o meu cérebro não entendia?
— Espera! Por favor, não vai — Grayson disse de repente e eu percebi que ele estava me seguindo, pois já estava bem próximo de mim quando me virei... muito próximo, e ofegante. — Quero dizer... você pode dormir aqui, não é bom você ir embora à essa hora. Como os quartos já estão todos ocupados você pode dormir no meu, e não se preocupa, eu durmo no chão.
— ele estava sem graça e seria fofo se eu não estivesse com a preocupação de que ele realmente estivesse mais que bêbado, drogado. Ele estava sendo legal de mais comigo.
— Eu não posso ficar aqui. Ray pode me levar já que foi ele quem me trouxe.
— disse e ele abriu um sorrisinho esquisito.
— Aquele mesmo Ray que está dormindo há uns trinta minutos escorado na porta? — segui seu olhar e me deparei com Ray dormindo e quase caindo na porta e não consigui conter uma risada. Tadinho.
— Bom, eu acho que você não tem escolha. — continuou insistindo.
— Porque você quer que eu durma aqui? E desde quando se preocupa comigo?
— Ah, qual é? Não é como se eu fosse te pedir em casamento, é só pra você dormir aqui, não quero que você seja assaltada no meio da noite e depois venham colocar a culpa em mim por eu não ter te pedido pra dormir aqui. — é, até que fazia sentido... talvez até de mais pra alguém que estava bêbado.
— Ok, eu vou ficar, mas espero que você não ronque. — disse brincalhona e voltei andar.
— Ei, não vai achando que você pode fazer algo se eu roncar, o quarto é meu e você não tem moral pra isso!
— disse e começou a andar um pouco mais decentemente ao meu lado e logo estávamos dentro da fraternidade onde estava um silêncio que ao mesmo tempo que era acolhedor era muito estranho.
— Você fez um belo estrago aqui, não é? — disse observando o ambiente e ele apenas deu ombros para depois começar a subir as escadas todo desengonçado o que me faz rir.
— Quer ajuda? — ele pareceu não escutar minha pergunta pois continuou a subir e só me restou segui-lo
Ele abriu a porta do quarto e imediatamente a imagem dele e da April transando invadiu minha mente e eu tentei afasta-la a todo custo.
— Bom, eu vou trazer um colchão que está em um quarto aqui do lado pra mim e você fica aqui e não meche em nada, ok? — disse sério e assenti.. era incrível como ele parecia mais sóbrio.
Ele saiu pela porta e eu observei um pouco o quarto, voltei meu olhar para a mesma estante de livros que eu tinha visto no dia que entrei sem querer no seu quarto e dessa vez um livro em especial me chamou a atenção.
Um exemplar de Orgulho e Preconceito.
Peguei o livro mesmo sabendo que Grayson poderia ficar bravo, mas minha curiosidade falou mais alto.
Quando abri o livro imediatamente vi que várias páginas e falas estavam marcadas e acabei lendo algumas delas.
Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente.
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São muitos os meus defeitos, mas nenhum de compreensão, espero. Quanto a meu temperamento, não respondo por ele. É, segundo creio, um pouco ríspido demais... para a conveniência das pessoas. Não esqueço com facilidade tanto os disparates e vícios dos outros como as ofensas praticadas contra mim. Meus sentimentos não se manifestam por qualquer coisa. Meu temperamento poderia talvez ser classificado de vingativo. Minha opinião, uma vez perdida, fica perdida para sempre.
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Nada é mais enganoso do que fingir humildade. Geralmente, é apenas uma supervisão da opinião, mas outras vezes é uma vanglória indireta.
Fui passando as páginas e em uma encontrei um papelzinho que tinha algo escrito. Eu sabia que lê-lo poderia ser uma grande invasão de privacidade mas eu já tinha chegado até aquele ponto e minha curiosidade era maior que a sensatez naquele momento.
Peguei o papel e comecei a lê-lo.
Ela é linda, mas não como aquelas meninas nas revistas. Ela é linda pela forma como ela pensa. Ela é linda pelo brilho em seus olhos quando ela fala sobre algo que ela ama. Pra mim, ela é linda pela sua capacidade de me fazer sentir bem como nunca estive em vinte e um anos, no momento em que eu escuto o som de sua voz . Não, ela não é bonita por algo tão temporário quanto sua aparência. Ela é linda, bem no fundo de sua alma.
Seus olhos azuis acinzentados que brilham ao falar de alguma história qualquer de romance... eu poderia avisá-la que não deveria sorrir tanto por uma história ruim e melancólica, mas eu preciso vê-lo, preciso ver seu sorriso lindo e iluminado antes de tirá-lo quando abro a boca e acabo falando algo para machuca-la. É inevitável, é isso que eu faço, eu destruo tudo o que toco, e levo à escuridão todos os que tem o desprazer de me conhecer e por isso quero-a longe de mim. Não quero estragar toda a sua luz, com minha escuridão, o motivo de eu me importar tanto com ela, eu não sei. Mas eu também não consigo ficar longe dela, e muito menos ficar verdadeiramente irritado com ela por ser chamado de O Arrogante Grayson Jones.
Merda! Aquela garota é tão estranha e ao mesmo tempo tão linda. O que diabos está me fazendo pensar assim?
Notas da autora: Segundo capítulo da semana entregue com sucesso 🤗♥... não esqueçam de votar e comentar o que estão achando, meus amores.
Beijo de luz e até a outra semana ✨