notas
oi, gente, gente antes de começar esse conto eu queria dizer umas coisinhas:
a primeira é que ele ficou bem menor que eu esperava, mas eu não consegui contar essa história de outra forma. eu rodei e rodei e rodei e eu não passava desse ponto, então para ser justa comigo e com as personagens em questão, eu decidi deixar assim.
a segunda é que era para ser sobre Evangeline Samos e Elane Haven. de certa forma, ainda é sobre elas, são as mesmas características, os mesmo nomes e vocês vão encontrar referências. mas eu não sei se posso dizer que teremos mais do que isso. talvez a Evangeline ou a Elane de RQ não tivessem tomado as mesmas atitudes que as minhas, talvez a personalidade não seja a mesma. eu não escrevi pensando nisso. era o plano, mas as coisas comigo às vezes fogem dos planos.
espero que aproveitem o conto apesar disso tudo.
with 13 hearts for you,
ka.
Os flashes estouram no momento em que eu desço as escadas. Eu já deveria estar acostumada, mas tenho vontade de rosnar para todos eles, para cada máquina fotográfica que clica dezenas de vezes enquanto eu endireito ainda mais minha postura e dou os necessários treze passos até o carro que me espera.
Houve um tempo em que eu gostava de ser vista, que eu sonhava em ser rainha e reconhecida. Houve um tempo em que eu faria qualquer coisa para isso.
Não mais. Não agora.
O que eles não contam sobre esse lado, sobre a fama, é que isso custa sua alma. Custa sua vida, suas escolhas. Que transforma você em um maldito prêmio.
Que você se torna uma maldita raposa rodeada por caçadores com jaulas, caixas e armas, rastreando todos os seus passos, todos os seus erros. Prontos para expor qualquer coisa que possa render algumas moedas.
Remexo nos meus anéis e garras de metal, brincando com as pontas afiadas, enquanto o carro segue seu caminho até o evento de hoje à noite. Meu vestido é feito com uma malha prateada que poderia muito bem ser mercúrio líquido, decorado com dezenas de anéis e pedras de cobre, ouro e prata. É um dos vestidos mais bonitos que eu já criei e junto com a tiara de platina e obsidiana entrelaçada nos meus cabelos platinados, eu sou a imagem perfeita de uma princesa. A princesa de Rift. A princesa que revolucionou o mundo da moda com suas criações inteiras de metais afiados.
A princesa que eu fui criada para ser, até perceber que eu teria que abrir mão dela para isso.
Eu achei que pudesse lidar com esse acordo, tê-la as escondidas, longe dos olhares do mundo, apenas nós duas em meios aos lençóis. Mas o amor é uma chama frágil. E eu nunca poderia ficar com ela, não do jeito como eu queria. Não aqui. Não com os abutres prontos para tomar tudo de nós, circulando em sua nuvem negra, esperando a oportunidade de me jogar no chão e derrubar meu reino.
Se o mundo em que vivemos fosse diferente, não precisaria ser assim. Mas não é nossa realidade.
Eu sou de uma família nobre, uma família dona de uma cidade inteira. Eu fui criada para ser rainha. Para estar ao lado de um rei. E eu achei que isso era tudo o que eu queria, mas não é.
O carro chega no evento e alguém abre minha porta e me ajuda a descer. Eu não reparo na mão que me ampara, eu só consigo ver os flashes outra vez, os gritos e os aplausos. Eu sou uma princesa, uma princesa de aço, então eu arrumo a postura e finjo não perceber nada a minha volta apesar da ânsia de vomito que se instala na minha garganta.
O tapete é vermelho e quilométrico. Alguém me obriga a parar e posar para fotos e eu não sorrio. Encaro a todos com meu olhar mais glacial, com minha postura gelada e fria. Repito todo o treinamento na minha cabeça, ignorando os pedidos e os arquejos, e quando me mandam prosseguir pelo tapete, meus passos são firmes, mas indiferentes. Eu sou uma princesa de aço, repito para mim mesma.
Não faço ideia de qual seja o evento dessa noite, mas pego uma taça de champanhe com o garçom que passa e olho ao redor. É um museu e diversas artes estão expostas, há pessoas demais aqui dentro e todas sorriem, algumas câmeras capturando todos os momentos. Há uma passarela de desfile no meio do salão, com cadeiras postas em fileiras aos lados dela, mas ninguém está sentado então não me importo.
Suspiro e caminho para as portas francesas a minha esquerda até uma varanda. É lá que eu a encontro, em um vestido preto que se confunde com as sombras da noite, a pele brilhando, os cabelos vermelhos arrumados em cachos largos. Linda. Minha.
- Evie. – ela sorri para mim.
- Elane. – ignoro a falha na minha voz.
- Você não ligou. – ela faz um beicinho.
Olho para os lados, não por estar envergonhada por causa dela, mas por causa do hábito de verificar se não há algum telefone apontado para nós. Chego mais perto de Elane e sussurro perto de seu ouvido.
- Senti sua falta.
- Eu também. Por que não me ligou?
A conversa com meu pai passa pela minha mente. As palavras duras, a lembrança de qual é meu dever, as fotos que ele jogou em mim. Fotos minhas e de Elane, tiradas provavelmente do prédio do lado. Fotos nossas na minha cama, um sorriso em nossos rostos, nossos corpos nus. Eu não me preocupei em fechar as cortinas nesse dia. Estávamos no trigésimo andar, ninguém poderia nos ver. Doce engano.
Meu pai comprou as fotos e fez algum contrato para que elas não fossem publicadas e eu manchasse o nome da família Samos. "Você vai causar a desgraça da nossa família se continuar com essa brincadeira, Evangeline. Dê um jeito nisso ou eu darei. Não vou deixar você arruinar tudo o que somos por uma coisa idiota."
Afasto as palavras dele da minha cabeça e remexo nos meus anéis.
- Evie? – Elane toca minha cintura.
É um toque leve, mas quase me faz desabar.
- Eu não sei o que fazer. – sussurro. – Não sei se aguento mais isso.
- Eu conheço um lugar. – ela diz. – Vem, me deixe te levar.
Olho ao redor outra vez, o museu ficando ainda mais lotado, os lugares no desfile já tomados pela metade.
- Não podemos sair daqui. E eles nos encontrariam de qualquer forma, são malditos caçadores.
Ela sorri para mim. Tão linda, tão pura, tão minha. Não quero abrir mão dela.
- Eles não vão nos achar, vão perseguir as próprias caudas tentando nos rastrear. Conheço alguns lugares em que podemos nos esconder. – ela pisca.
Ela pega minha mão e eu posso ouvir os sussurros atrás de nós. Não seria adequado sair, não seria o que a princesa Evangeline Samos faria.
Tomo minha decisão. Entrelaço os dedos ainda mais nos de Elane. Sempre será ela.
É uma cena, estamos em plena vista aqui fora, mas pela primeira vez eu não me importo. Foco meus olhos nos olhos de Elane, no modo com a luz brinca com eles, e deixo que ela me mostre o caminho.
Eles podem atirar, mas nós somos à prova de balas.
THE END
notas
esse conto pode te trazer uma nova experiência ouvindo a música que o inspirou.
já pensou nisso?
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https://open.spotify.com/track/6EwNJz8CuVsrsLvXprJ20Q?si=_k221lunRG-HaqNjJDj28g
não esquece de me contar o que achou e deixar sua estrelinha!!
with 13 hearts for you,
ka.