P.O.V – Zulema Zahir
Um filme se passava pela minha cabeça, na hora em que corremos em direção ao helicóptero, bom, no caso a Macarena, parece que já tínhamos feito essa cena, quando o porco do Sandoval fugiu e nós fomos atrás, segurando as grades da prisão juntas e deixando as outras prisioneiras passarem, só que dessa vez era Macarena que estava fugindo, eu segurando a maldita grade e fechando, deixando eles virem até mim.
Meu coração a qualquer momento iria saltar pela boca, eu sentia medo, medo de morrer, medo de ser pega, dar tudo errado e ir para a porra daquela prisão de novo sozinha, era o que eu mais tinha naquele momento, medo de perder a pessoa que era a minha casa por culpa minha, as palavras dela ecoavam na minha cabeça falando que ela também tinha um câncer, era eu o câncer dela e enquanto eu estivesse viva, ela não poderia seguir com a vida dela, foi nesse momento que eu tinha decidido que iria fazer isso, foi por ela que eu tirei a coragem de realizar isso, foi pela felicidade, foi pela vida e pela bebê dela, eu sentia que iria ser menina, instinto maternal, se é que ainda existia dentro de mim.
Em meio a tantos pensamentos, eu estava definitivamente perdida, nem senti quando as balas se chocaram contra o meu corpo, eu só ouvi os disparos, um atrás do outro.
Bang bang, he shot me down
(Bang bang, Ele atirou em mim)
Bang bang, I hit the ground
(Bang bang, eu caí no chão)
Bang bang, that awful sound
(Bang bang, aquele som terrível)
Bang bang, my baby shot me down
(Bang bang, meu querido me atingiu)
Meu corpo se inclina para frente e dou um grito de dor mas não dor física e sim, a dor emocional; deixando liberar toda a minha raiva e tristeza que havia naquele momento, foi quando eu caí e não vi mais nada, somente ouvi os barulhos dos carros passando por mim, o barulho do helicóptero, se afastando cada vez mais, me deixando sozinha no deserto.
Eu não poderia morrer sem ver a Rubia feliz com a sua pequena cria, precisava mantê-las seguras mesmo a distância e forjar a minha própria morte, pensava que iria fazer os homens de Ramala pararem de nós procurar. Não havia morrido naquele maldito deserto, afinal bicho ruim nunca morre, estava usando um colete à prova de balas, muito bom por sinal, precisava os afastar para poder me levantar do chão, foi quando eu abri os olhos e vi aquele helicóptero indo embora, senti que uma parte da minha vida havia indo junto com ela mas nunca admitiria que eu sentiria falta daquela puta rubia.
Now he's gone I don't know why
(Agora ele se foi, eu não sei por quê)
Until this day, sometimes I cry
(Até o dia de hoje, às vezes eu choro)
He didn't even say goodbye
(Ele nem sequer disse adeus)
He didn't take the time to lie
(Ele não perdeu tempo para mentir)
Os mexicanos foram embora e eu me levantei logo pensando que precisaria falar com alguém o mais rápido possível, pensei em ligar para Cepo mas eu sequer tinha o número dele e eu não podia voltar ao Hotel El Oásis porque há essas horas, toda a polícia já estariam investigando os corpos das pessoas que matamos, eu ainda tinha alguns diamantes guardados, precisava sair o mais rápido possível antes que viessem procurar ao redor, foi logo que eu pensei ligar para uma pessoa: La gitana.