No dia seguinte, Cipriano estranhou os escravos já não estarem de pé. Pois, muitas vezes, nem precisava chamá-los.
- O que há? - Perguntou ele para o capataz de guarda.
- Cantaram, dançaram, e bateram os tambores quase a noite toda.
- O quê? E você permitiu?
- O que poderia fazer? Com certeza estavam fazendo aqueles rituais esquisitos.
- Bando de bruxos! Se querem fazer baderna, que façam trabalhando!
- E se eles... Estivessem fazendo algo contra... Essa fazenda? Como por exemplo uma praga?
- Então você deveria ter impedido, imbecil! Agora vá, saia da minha frente! Esses escravos vão se arrepender... Saia!
- Claro... É... Já estou saindo.
Cipriano abriu a porta, e deparou-se com os escravos dormindo. Ele então, gritou para que todos acordassem, fazendo eles levantarem em um pulo.
- E então... Cantaram? Dançaram? E com certeza beberam... Bando de inúteis. Façam isso... É o mínimo que podem fazer para tentar fugir dessa vida miserável de vocês. Mas não se esqueçam, vocês têm trabalho. Todos de pé! Ou todos irão para o tronco!
Cipriano bateu com o chicote no chão, e saiu, deixando os escravos assustados.
- É... Amanheceu. - Disse Rosário.
- E agora estamos aqui, prontos para a noite, certo? - Perguntou Edmundo.
- Certo! - Responderam.
- Quando a família chegar, farão um sinal, como uma coruja. Não me perguntem como, quem fará é a senhorita Virgínia. - Disse Rosário.
- A Virgínia? Ela virá? - Perguntou Maria Vitória.
- Tem uma idéia para distrair o capataz da porteira, espero que dê certo.
Maria Vitória sentou-se atordoada, e sentiu-se feliz, pois chegou o dia de ir embora, e de se ver livre. Tudo haveria de dar certo. Os escravos também seriam libertados das garras do Barão, vivendo longe.
- Está cansada, filha?
- Na verdade estou bem disposta.
- Que bom! Fico imensamente feliz por isso, te ver bem é uma alegria. Ainda sente febre?
- Não... Até agora nada. Acho que a notícia de estar livre hoje mesmo, fez com que eu me empolgasse, e acabasse melhorando.
- Fico tão aliviada, pois pensei que te perderia. Quase não estava acordando, mal ficava de pé...
- A fraqueza ainda está em mim, mas não me impedirá. Estou bem para ir até a horta, campo, ou o que for preciso. Sei que a noite estarei fora daqui.
- Meu coração até fica apertado...
- Ei, tu vais comigo, não se preocupe.
- Não é isso... É que tenho medo... Essa invasão na fazenda me parece um tanto perigosa.
- Não se preocupe, tudo ocorrerá bem.
- Maria Vitória, esses capatazes estão todos armados. São muitos, não sei exatamente o que pode acontecer... Eu tenho tanto medo, meu coração está tão aflito...
- Fique calma, tenha energias positivas! Tranquilize-se.
Maria Vitória beijou o rosto de Dandára, e saiu para perto de Rosário.
Edmundo chegou perto de Dandára, abraçando-a, e a acolhendo.
- Você está bem?
- Edmundo... Sobre hoje a noite...
- Já sei, está aflita, não é?
- Como sabe?
- Dandára, conheço-te a muito tempo. Sei dos teus sentimentos. Sei quando está triste, aflita, preocupada...
- Será que dará certo?
- Eu não sei... Nunca participei de uma fuga. Mas muitos aqui sim, infelizmente voltaram, foram pegos.
- Foi tudo muito precipitado, Edmundo. Tudo muito rápido... Eu tenho muito medo...
- Dandára, respire um pouco, não fique aflita, isso só irá piorar... Rosário explicou tudo que foi dito pelo senhor Celso, tenho certeza que tudo acabará bem.
- Assim espero.
- É melhor sairmos logo... Daqui a pouco alguém chega aqui novamente, e muito mais agressivo.
- Sim... Eu já vou.
Dandára não conseguia esconder a preocupação, pois tudo parecia muito precipitado. Com os capatazes soltos, armados, e furiosos, tudo parecia perigoso, e realmente era.
Cila chegou perto de Rosário, e disse:
- Leve para a cozinha, aquelas ervas que ficam perto da horta, aquelas que os capatazes pensam ser apenas mato. Prepararei uma fusão, e o Barão tomará no jantar.
- Sim, levarei no cesto, junto as frutas. Tomarei cuidado para que não vejam.
- Faça isso.
- É... Dona Cila?
- Diga...
- É... Nada não. Quando tudo isso passar, nós conversamos.
- Sobre o quê, menina?
- Não se preocupe, depois falo. Melhor começarmos logo esse dia.
- Assim você me preocupa.
- Fique tranquila, vamos logo.
Maristela estava de pé em frente à janela. Peixoto dormia. Ela estava inquieta, e precisava falar com alguém. Então, apressada para que a noite chegasse logo, ela jogou um travesseiro em Peixoto.
- Acorda, acorda, acorda!
- Ai... O que foi? O que aconteceu?
- Peixoto, você fica aí dormindo... Eu preciso conversar.
- Maristela?! Ô Maristela... me acordou para conversar?
- Ah Peixoto... Estou tão nervosa, ansiosa... Preciso conversar com o meu marido.
- Eu sei, eu sei... Me diz, o que te deixou nervosa?
- Como assim o quê? Hoje a noite irão tirar Maria Vitória, com a mãe, e os outros da Fazenda. Isso me deixa aflita, ansiosa para que a noite chegue logo.
- Eu sei como é... Será que dará certo?
- É claro que sim, Peixoto! Aliás, estarei lá na hora exata!
- Lá aonde?
- Ai, Peixoto, ainda está dormindo? Estou falando que estarei lá na fazenda do meu pai.
- É... Então, Maristela, eu realmente queria falar com você sobre isso. Você não vai!
- O que disse?
- Que você não vai! É uma invasão, é perigoso. Você não vai!
- Eu não acredito nisso, Peixoto... Minhas sobrinhas estarão lá, e você quer que eu fique aqui parada?
- Maristela, tenho certeza que as meninas não passarão da entrada. Você ficará aqui, com a nossa filha, e eu irei. Não sei exatamente o que farei lá, mas irei.
- Se você vai, eu também vou!
- Não vai, Maristela!
- Peixoto, quem está lá, presa naquela fazenda, é a minha sobrinha. E quem está lá, prendendo ela, é o meu pai. Então eu vou!
- Maristela, estou pensando na sua segurança. Então por favor, entenda que hoje você ficará aqui, sentada, bonitinha, aguardando o meu retorno.
Maristela deu leves tapas em Peixoto.
- Você não me ouve, você quer que eu fique aqui sem saber de nada, e você sabe que eu não suporto ficar desinformada!
- Meu amor, você ainda vai me agradecer.
- Agradecer pelo o quê, Peixoto? Olha... Esquece, eu vou atrás de alguém que me escuta...
- Maristela, não fique chateada...
- Vou atrás da minha filha, rum.
Peixoto sorriu, e Maristela saiu indignada com a atitude do marido.
- Berenice... Filha, está acordada? - Disse Maristela, batendo na porta do quarto.
- Olá, mamãe... Estou sim. Pode entrar.
- Que ótimo! - Disse Maristela, entrando, e indo em direção a filha.
- Também não conseguiu dormir mais? Eu estou tão ansiosa por hoje a noite...
- Ai filhinha, não sabe o que aconteceu.
- O quê? Algo grave?
- Algo gravíssimo!
- Mamãe, está me assustando.
- Pois prepare-se! Seu pai... Imagina, o seu pai!
- O que tem o meu pai?
- Seu pai ordenou que hoje a noite eu fique aqui em casa, enquanto todos estarão lá na fazenda.
Berenice começou a rir, enquanto estava sentada em sua cama.
- Então foi isso?
- Acha pouco? Seu pai nunca me impôs essas coisas, filha. Ah... Eu não quero ficar aqui...
- Mamãe, o papai está preocupado com sua segurança, ele tem medo.
- É? Pois ficaremos as duas aqui, sentadas, bonitinhas, esperando ele voltar.
- Eu já esperava isso, imaginei que ele fosse me deixar aqui. Aliás, imaginei que vocês dois fossem me deixar aqui.
Maristela suspirou, sorriu, e disse:
- Filha, eu não quero ficar aqui.
- Então... a senhora vai mesmo o papai não querendo?
- Eu? Logo eu que sou uma mulher tão obediente ao marido?
- Mamãe, eu te conheço... E conheço bem.
- Ah, é mesmo? Então saiba que vou, aliás, nós vamos. Mas você nem pense em entrar na fazenda, ouviu? Assim que o Peixoto sair, encontramos ele lá. Mas você ficará dentro da carruagem.
- Não é mais fácil falar para o papai que nós vamos?
- O Peixoto quando põe algo na cabeça, ninguém tira. E ainda ficará no meu pé o dia todo. Farei surpresa. Tenho que ir! Minhas sobrinhas estarão lá, e devo ficar atenta, para que nenhuma delas, e nem seu avô se machuquem.
- Está bem. Mas... mamãe... A senhora não tem medo do Barão?
- Medo do meu pai? Claro que não! Apesar de que cada vez mais pareço conhecê-lo menos.
- Não dá pra acreditar em tudo que ele fez, não é? Será que se minha avó fosse viva, isso tudo teria acontecido?
- Não! Com certeza não. Sua avó era o total oposto dele... Era maravilhosa.
- Queria tê-la conhecido.
- Teria amado ela, e ela teria amado você. Aliás, ela teria amado a todas vocês...
- Ontem a senhora sentiu-se mal, não foi? Após ouvir que meu avô tentou agarrar a Iracema.
- Eu já imaginava... É algo terrível, e difícil de aceitar. Porém, tenho que manter a postura. E claro, aceitar que o meu pai não é um bom homem.
- Sinto muito, mamãe.
- Eu também sinto, minha filha. Mas está tudo bem... Quer dizer... Vai ficar tudo bem. Agora levante-se, vamos tomar nosso café da manhã, e seguir rezando para que o tempo passe logo.
- Sim, vamos!
Berenice se levantou, e vestiu-se com a ajuda da mãe. Estavam ansiosas para a noite, que haveria de chegar.
Ana Laura andava inquieta pela sala, pois, ao acordar, teve uma conversa parecida com a de Peixoto, e Maristela. Celso não queria permitir sua ída até a fazenda.
- Laura, ainda está com isso?
- Estou insatisfeita, não vou esconder isso.
- Laurinha, por favor, entenda que será melhor assim.
- Não, Celso! Ficarei aqui, aflita, sem saber de nada?!
- Você ficará aqui, cuidando da casa, para receber as pessoas que virão.
- É verdade... Não havia pensado nisso.
- Está vendo? Tem que ser assim.
- Celso... Mas e a Hilde? Ela trabalha para nós... E se acabar falando algo para alguém?
- Chamarei ela para uma conversa. Vou esclarecer tudo, e confiar em seu silêncio.
- Sabes que ela tem muito preconceito, até mesmo da Iracema que é indígena.
- Mas ela trabalha em nossa casa. Deve aprender que aqui ela recebe nossos convidados, e os trata bem. Irei esclarecer isso.
- É bom. Então estarei aqui, esperando vocês retornarem, mas estarei aflita!
- Fique tranquila, só te peço isso. E... O Tião, e a Iracema?
- Estão no Jardim. Acordaram, e lá estão... Acredito que sentindo a natureza como a própria Iracema diz.
- Eles são boas pessoas, não são?
- São sim, meu amor. São maravilhosos! Corações grandes, puros, sem nenhuma maldade... Espero sinceramente que no fim de tudo isso eles fiquem bem.
- Também desejo muito isso, de coração!
- Ah, meu amor... Há outra coisa que me deixou muito feliz.
- O que foste?
- A Virgínia.
- Virgínia? Algo especial?
- Ela está mudada, Celso. Assim... Continua com seus comentários únicos, não é? Porém, está mais disposta, percebeu que até se ofereceu a ajudar? Deu idéias, soluções... E ela diz não gostar da Maria Vitória, muito menos dos escravos. A Virgínia de uns tempos atrás não moveria uma só unha por nenhum deles.
- Eu me lembro bem disso! Confesso que achei que ela não tivesse jeito.
- Eu também pensei, mas ela me surpreende a cada dia que passa. É impressionante!
- Ela está crescendo, Laura. Está amadurecendo, se conhecendo a cada dia.
- Isso é verdade... Mas agora pensei nos meus pais. Será que já estão em São Paulo, será que encontraram meu tio?
- Eu espero que sim. E agora possam se dar conta de quem é o Barão.
- Fico preocupada, Celso.
- Ô meu amor, eu te entendo. Mas olha... Confia em mim, tudo acabará bem... Eu prometo.
Celso beijou Ana Laura, acariciando seu cabelo. Logo depois, juntos, conversaram com a empregada, a qual ordenaram a receber, e tratar bem aqueles que ali estariam. E claro, que não contasse para ninguém.
Malvina estava na sala. Estava quieta, pensativa, quando escutou a porta. Ela fez questão de abrir, e surpreendeu-se.
- Olá, posso ajudar?
- Dona Malvina?
- A própria. O que deseja?
- Não estás me reconhecendo? Sou Lázaro, irmão de Leôncio, vosso genro.
Malvina respirou fundo.
- Pois não... Desculpe, não o reconheci de fato. Entre.
- Com licença... Essa é minha esposa, Branca. Poderia informar-me se Leôncio encontra-se em vossa casa?
- Encontra-se sim, junto a minha filha.
- Podemos vê-los?
- Claro!
Leôncio chegou na sala, e correu para abraçar o irmão.
- Sabia que conhecia sua voz, meu irmão! Olá, Branca... Que alegria! Como chegaram até aqui?
- Sabíamos que estaria aqui, em São Paulo. Demoramos a encontrá-los, procuramos muito pela residência dos condes. Finalmente encontramos.
- Sentem-se, fiquem a vontade! - Disse Malvina.
Eugênia chegou na sala, e surpresa cumprimentou os cunhados. Estava um pouco nervosa, pois não os via a tempos, e eles já sabiam da mentira.
- Perdoe-nos, chegamos sem avisar... Mas... Como estão? E o senhor conde Afonso?
- Meu marido está doente. Sofreu uma forte emoção por parte da filha dele, não é mesmo Eugênia?
Eugênia respondeu:
- Sim, sofreu. Acredito que vocês já saibam de Maria Vitória, não sabem?
- Sim... Sabemos. Depois meu irmão conversará comigo. Deve-me explicações. - Disse Lázaro.
- E por falar em Maria Vitória, onde ela está? - Perguntou Branca.
Leôncio estranhou.
- Como assim onde ela está? Ela está na fazenda do meu pai. A deixei lá quando vim atrás de Eugênia.
Lázaro e Branca se entreolharam, mas nada revelaram.
- Ah, claro... Ela está lá sim. - Disse Lázaro.
- E como ela está? - Perguntou Eugênia.
- É... Eu... Não.. cheguei a vê-la. Quem avisou-me da vinda de vocês foi a Maristela... Mas... Maria Vitória deve estar bem.
- Espero que aquele velho miserável ao menos esteja tratando ela bem.
- Eugênia, por favor, você está falando do nosso pai! - Repreendeu Leôncio.
- Eu sei disso, e acreditem, sinto muito. Porém, não posso negar meu ódio pelo Barão.
Malvina levantou-se.
- Com licença... Irei ver o meu marido. Se desejarem algo, Eugênia os acolherá.
- Fique bem, dona Malvina. E melhoras ao senhor Afonso. - Disse Lázaro.
- Obrigada!
Malvina saiu para o quarto de Afonso, e Lázaro chamou Leôncio para conversar.
- Meu irmão, por favor, venha comigo.
- Vamos lá fora, Lázaro. Conversaremos melhor.
Os irmãos saíram, e Branca chegou perto de Eugênia.
- Minha querida, como você está?
- Péssima. Meu pai adoeceu, e... Você já sabe de tudo.
- Eugênia, não pude acreditar... Como fez isso por todos esses anos?
- Não me pergunte isso, por favor. Existem coisas difíceis de se explicar.
- Eu entendo, Eugênia. Acredito como deve ser difícil para você... Não é tão simples...
- Sei que devo satisfações a família, o que fiz foi errado. Mas saiba que o Barão é sujo, nojento, e tenha certeza que ele é o pior de todos nessa história.
- Que o Barão não vale nada, disso estou ciente. Nem imagino como deve ter sido para você viver naquela casa.
- Você não faz idéia, Branca. Um verdadeiro inferno! Mas vem comigo, deve estar cansada.
- Sim, realmente estou.
- Venha se deitar, descansar os pés, é necessário.
- Fico muito agradecida!
- Aonde você estava com a cabeça Leôncio? Viveu um romance com uma escrava, a engravidou, fez sua atual esposa criar a filha da outra, mentiu para a família inteira... Será que você enlouqueceu?
- Perdoe-me, meu irmão, eu sei que...
- Sabe? Não sabes de nada! Veja só a confusão que você criou... Já imaginou se nossa mãe estivesse viva, a vergonha, e desgosto que ela teria?
- Nosso pai também é culpado. Praticamente comandou toda a história, depois fugiu.
- Você foi junto com ele! E agora, hã? Como tudo ficará? Sua filha presa na fazenda...
- Como assim Maria Vitória está presa na fazenda?
- Eu... Eu quis dizer que ela está lá na fazenda, presa nessa história, nessa vida.
- Minha filha... Tenho pensado muito nela. Fico preocupado, foi tudo muito rápido. Não sei o que pode estar passando...
- Ela está... Não sei como está.
- Meu irmão, eu precisei vim atrás de Eugênia, coitada, brigou com nosso pai, estava atormentada.
- Nada justifica o que fizeram, porém, entendo ter vindo atrás da sua esposa. Leôncio, sou o seu irmão mais velho, você poderia ter falo comigo.
- Eu fui covarde, Lázaro! Fui fraco, muito fraco... Agora, até o meu sogro está doente.
- Espero que ele melhore, de verdade! Agora... Você precisa voltar para a fazenda!
- Não posso voltar agora. Eugênia não vai querer sair de perto do pai. Por favor, volte você, e vá ver minha filha, e me mantenha informado através de cartas.
- Leôncio, você não entendeu a gravidade da situação. Tem... Tem coisas que só você pode fazer... Entende que seu sogro não está bem de saúde, mas você precisa voltar, e rápido!
- Mas o que há, Lázaro? O que tu tens? Insiste que eu volte para a fazenda... Há algo de errado acontecendo?
- Eu não sei! Mas e se estiver, me diz, como fica? Sua filha está lá, sozinha, sabe-se lá o que se passa na mente daquela menina.
- Estou a dias aflito, pensando em Maria Vitória. Porém, não posso deixar o meu sogro aqui, doente. E minha própria filha foi quem pediu que eu vinhesse atrás da mãe adotiva dela.
Lázaro pensou um pouco.
- Está bem, eu entendo. Mas não demore, por favor.
- Não vou demorar, prometo.
Lázaro pegou no ombro de Leôncio.
- Entendo que você é o mais novo de nós, meu irmão. Mas você já não é o rapaz de anos atrás, aquele que se casou com Eugênia forçado. Agora você é um homem, deve agir como um.
Leôncio nada respondeu, apenas abraçou o irmão. Depois, juntos, seguiram para dentro, e Lázaro foi ver a esposa no quarto que Eugênia lhe mostrou onde ela descansava, enquanto Leôncio, seguiu para ver o sogro.
- Lázaro? É você, querido?
- Sim, Branca. Sou eu.
- E então, como foi? Contou para Leôncio que Maria Vitória está presa na fazenda?
- Não, Branca. Eu não tive coragem. Estou sem acreditar ainda, Maristela estava dizendo a verdade, e Ana Laura também quando tentou nos alertar.
- Mas o que o Barão tem contra essa menina para fazer isso? Coitada.
- Meu pai só pode está maluco. Não tenho dúvidas!
- O que tu vais fazer?
- Eu não sei, Branca. Sinceramente eu não sei.
- Não acha que Eugênia, e Leôncio merecem saber o que está acontecendo?
- Sim, merecem. Eu vou contar... Hoje a noite, assim que pensar em uma forma, eu irei falar com eles.
- Não demore... Não sabemos o que realmente está acontecendo naquela fazenda.
- Pensarei direito. Agora descanse, por favor, é preciso.
- Tu estás aflito, como poderei descansar, e deixar-te aqui, sozinho?
- Estou aqui, estou bem. Não se preocupe.
- Deite-se comigo, por favor. Não pode se alterar, Lázaro!
- Certo. Vem, deite-se ao meu lado.
Lázaro deitou, e Branca foi ao seu lado. Porém Lázaro estava inquieto por não ter confiado em sua filha Ana Laura, e não ter acreditado em Maristela.
Leôncio estava na porta do quarto do Conde Afonso. Malvina estava sentada na cama, quando notou a presença dele.
- Deseja alguma coisa, Leôncio.
- É... Sim dona Malvina. Gostaria de falar com a senhora, e com o Conde.
- Meu marido está descansando, não pode falar.
- Posso sim! Entre Leôncio, chega mais perto. - Respondeu Afonso.
- Muito obrigado, senhor!
- Imagino que tenha algo importante para dizer.
- Sim, eu tenho.
- Pois diga.
Leôncio respirou fundo, e disse:
- Vim para pedir perdão. Pedir perdão a vocês, por ter feito Eugênia criar uma filha que não era dela, e tê-los enganados com essa história. Por ter prometido ser um bom marido para vossa filha, e ter fracassado miseravelmente. Eu peço perdão, e assumo, a total culpa por toda essa confusão, e claro, pelo mal estar de Eugênia.
- Estás dizendo, que teve a grande culpa na história?
- Sim, senhor. Eu sou culpado. A minha própria irmã, Maristela, chegou a dizer-me isso.
- E o seu pai?
- É quem manipulou tudo. E eu, claro, fui fraco o bastante para dizer não.
- Não teria criado sua filha?
- Teria, mas não dessa forma. Hoje vejo que eu faria tudo diferente se fosse possível.
- Admiro você ter vindo até aqui, Leôncio. Foi de muita coragem assumir sua culpa. És sincero, não é?
- Sou sincero, senhor. Digo mais... Eugênia passou por muitas coisas, a falta do meu amor, a culpa de não poder ter filhos... As humilhações vinda do meu pai.
- O Barão... Juro, assim que eu estiver melhor, irei pessoalmente falar com o Leopoldo. Ele me deve satisfações sérias.
- Eu entendo. Mas o senhor precisa se recuperar, ainda está fraco.
- Já me sinto forte o suficiente para falar.
Malvina interferiu.
- Eugênia pediu para você vir até aqui?
- Não senhora, vim por vontade própria. A propósito, a senhora, dona Malvina, não deveria culpá-la tanto assim... Eugênia veio atrás de afeto, um mínimo possível... E a culpa foi minha. Eugênia veio atrás de amor, já que ficou muito perturbada na fazenda, teve crises, e... Enfim, compreenda a vossa filha, a acolha, acredito que isso será para o bem de todos.
- Amo a minha filha, não tenha dúvidas disso. Mas o que fizeram...
- O que eu fiz, dona Malvina. Eugênia fez apenas o que lhe foi ensinado. Obedeceu ao marido, e lhe foi fiel.
Malvina calou-se, e quis chorar, mas se segurou.
- Devo dizer a vocês, que aprendi a amar a Eugênia. Senti isso vindo para cá, quando senti saudades, e preocupação de onde ela estaria de fato. Quero recomeçar ao lado dela, e conseguirei isso. Ela irá recomeçar, com a ajuda de todos vai conseguir!
- Sabe, Malvina... Nosso genro parece sincero. E tens total razão.
Malvina suspirou, e disse:
- Então todos estamos de acordo. Meu marido, então...
- Então nós perdoaremos por completo a nossa filha. Tentaremos entender a Eugênia, e admiramos a sua vinda até aqui, Leôncio.
- Eu os agradeço imensamente.
- Agora, me prometa uma coisa.
- Claro que sim, o que quiser.
- Fará Eugênia feliz!
- Eu farei senhor, prometo pela minha honra. Mas há algo que eu também gostaria de pedir.
- Diga.
- Gostaria que... Vocês não negassem a minha filha. Maria Vitória tem grande carinho pelos avós maternos adotivos, e com certeza os considera muito.
Malvina sorriu, e olhando para Afonso, respondeu:
- Nós jamais negaríamos a Maria Vitória. Não tem a mínima culpa, e foi criada por nós durante anos. Tenho um carinho imenso pela minha neta, não se preocupe.
- Digo o mesmo que a minha esposa, Leôncio. Maria Vitória continuará sendo nossa neta, e assim será até nossos últimos dias.
- Obrigado! Muito obrigado!
Leôncio abraçou os condes. Eugênia chegou a porta do quarto, e ficou surpresa com o que viu. Malvina a chamou, fazendo-a juntar-se a eles.
O dia passou, e a noite chegou. Cila estava pronta para servir o jantar do Barão, com as ervas que lhe dariam sono pesado.
Maria Vitória sentia seu coração ainda mais acelerado, e Dandára sentia sua aflição aumentar cada vez mais.
- Está muito perto... Muito perto mesmo.
- Que todas as divindades do bem nos protejam, minha filha!
- Que assim seja, minha mãe.
Mãe e filha se abraçaram.
Cila serviu o jantar, e Leopoldo o aprovou.
- Escrava velha... A comida está... Diferente. O que pôs aqui?
- É... Um tempero diferente, sabe, senhor.
- Espero que não seja veneno.
- Isso jamais, senhor!
- Espere aí, depois quero que massageia meus pés, estou exausto.
- Sim, senhor. Eu o espero.
Maristela apareceu vestindo uma calça de Peixoto, e isso surpreendeu Berenice.
- Mamãe, o que está fazendo? Aliás... O que a senhora está usando?
- Berenice minha filha, estou indo a luta!
- Mamãe, já pensou o que meu pai achará disso?
- Ele não vai achar nada! Eu não vou ficar aqui, sozinha, de braços cruzados. Você está pronta?
- É... Eu acho que sim.
- Perfeito! Vamos seguindo para perto da Fazenda do seu avô. Mas já sabe, fique dentro da carruagem!
- Sim, mamãe. A senhora está engraçada vestida de homem.
- É mesmo, é? Hum... Sei. Acha que o Peixotinho vai gostar?
- Eu acho que ele vai surtar.
- Ai que emoção! Vamos, vamos!
Peixoto chegou até a casa de Celso, dizendo que Maristela ficou em casa junto a Berenice. Pois, mal sabia ele o que sua esposa aprontava.
Fausto estava na sala, ao lado de Celso, Tião, Iracema, e Ana Laura.
- Estão prontos? - Perguntou Celso.
- Chegou a hora da guerra! - Respondeu Iracema.
- Vamos com calma, Iracema.
Virgínia desceu as escadas, muito bela, e provocante.
- Virgínia, que vestido é esse?
- Ana Laura, eu tenho que estar muito bonita. Serei a atração da noite.
- Vá se trocar agora!
- Não temos tempo para isso. Deixe Virgínia, já estamos atrasados! - Disse Fausto.
- Então vamos logo. - Respondeu Tião.
Celso beijou Ana Laura.
- Tomem cuidado, por favor.
- Pode deixar, meu amor. Tudo dará certo!
- Assim espero. Estarei aqui, esperando por vocês. Vão com Deus!
- Amém, meu amor!
Ana Lauro pediu moderação a Virgínia e desejou que tudo corresse bem, e que ninguém saísse de lá ferido. Ela estava aflita, preocupada, e estava ansiosa.
- Espero de coração que ocorra mesmo tudo bem. - Disse Celso ao sair.
- Guerreiros estão perto da Fazenda. Iracema já sabe disso.
- Então vamos, realmente está na hora. Entrem na carruagem, vamos já! E que seja o que Deus quiser.
Continua...
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