"Aqui está. Obrigada por me emprestar." Falo quando entrego a camiseta branca pra ele que se encontra de frente para a sua porta. Ele pega a mesma e a joga dentro do quarto de qualquer jeito. Fico parada sem saber o que fazer ou falar.
Ele me observa de cima a baixo e começa a falar. "Bom, conheço uma cafeteria incrível aqui, e acho que você tá precisando de um café bem forte." Ele diz. Concordo com a cabeça. Começo a seguir ele.
Observo o jeito como ele está vestido. Sua calça agora é preta juntamente com suas botas. Sua camiseta é branca com alguns detalhes pretos surrados. Consigo ver um cordão com um pingente de cruz em seu pescoço.
Só agora que estou prestando atenção na quantidade de tatuagens que ele tem. São várias, de variados tamanhos e desenhos. A camiseta é um pouco transparente e acaba mostrando um pouco das tatuagens que ele tem no tronco. A que mais me chamou a atenção foi a âncora em seu braço.
Deixo isso de lado e presto atenção na rua, antes que eu caia. Quando vou atravessar a mesma escuto uma buzina e sinto meu braço seu puxado pra trás. No estante em que nossos corpos se tocam, sinto uma corrente elétrica no local. Minha cabeça só dói ainda mais. "Presta atenção." Ele diz e me solta.
Continuamos o caminho sem falar mais nada. Logo chegamos no local. É bem bonito e organizada. O cheiro do chocolate quente vai longe me fazendo 'ter água na boca'. Entramos e um barulho de sino ecoa por toda cafeteria. As vozes das pessoas acaba deixando tudo mais confortável. Sigo Harry até uma mesa para duas pessoas. Nos sentamos e eu logo pego o cardápio para não precisar olhar para ele.
"O que você vai querer?" Ele pergunta depois de alguns minutos. "Hã, um chocolate quente com croissant." Digo. Ele sorri por alguns segundos. Acho que nunca vi ele sorrindo tanto. "Eu também." Ele fala. Ele chama a garçonete que anota nossos pedidos. "Já trago para vocês." Ela diz e se retira.
Agora sinto Harry olhando diretamente pra mim. Desvio o olhar o máximo que consigo. "Não fique com vergonha." Ele diz. É fácil falar... "Não estou." Minto. Ele concorda com a cabeça. "Me diz, por que fez aquilo ontem?" Ele é direto. Olho nos seus olhos. "Apenas decidi acreditar no que todos falam." Intensifico a palavra todos.
"E você por acaso é ou era?" Ele pergunta. "Não." Falo. "E vai se tornar agora?" Ele pergunta mais uma vez. "Eu to tentando. Mas como você mesmo viu, está difícil." Falo. Ele respira fundo e coça os olhos.
"Então você vai ser uma coisa só porque terceiros dizem que você é?" Ele pergunta me deixando sem argumentos. "Todos dizem isso. Minha tia, os soldados, vizinhos, você.." não termino. "Mas você não é o que dizem. Pelo menos ainda não. Você não tinha que me escutar." Fala rápido.
Sinceramente não sei o que eu penso..
"Você é uma enfermeira, uma médica, você salva vidas." Ele diz. "Exato. Salvo vidas, a última que salvei me odeio por mim ter feito isso." Minha vez de deixar ele sem palavras. "Você não sabe de nada da minha vida e muito menos entende ou vai entender ela." Ele diz. "É verdade, eu não sei. Mas você acha que odiar uma pessoa por te salvar da morte é algo que dá pra entender?" Pergunto.
Ele respira fundo.
"Como você se sente?" Ele pergunta mudando de assunto depois dr alguns minutos em silêncio. "Só com dor de cabeça e um pouco de tontura. Diferente do que dizem, nunca tinha bebido na vida." Falo. "Eu imaginei. Quantos anos você tem? Dezoito?" Ele pergunta.
"Dezesseis." Digo. Ele parece ficar um pouco surpreso, mas não deixa isso transparecer.
Quem sabe eu possa conseguir arrancar algo sobre ele... "E você?" Pergunto. "Vinte e um." Pensava que ele era mais novo. "Seu namorado sabe do que você quer fazer daqui para frente?" Ele pergunta. Sei que está falando do Jackson. "Ele não é meu namorado." Falo. Se não me engano, Harry segura o riso.
"Com licença." A garçonete chega com nosso pedido. Agradecemos e começamos a comer. Eu realmente estava louca para comer algo com chocolate. Isso tá muito bom.
Olho para Harry, que já me observa novamente..
HARRY
Depois que tomei um banho e troquei de roupa, fico esperando ela no corredor. Em dez minutos ela sai do seu quarto. Está com um vestido branco rodado com detalhes rosa e vermelho. Seu cabelo ainda está um pouco molhado por ter tomado banho agora. Consigo sentir seu perfume natural, o cheiro que me cercou toda a noite.
Seus olhos claros observam tudo com desconfiança, mas ao mesmo tempo curiosidade. Acho que é por isso que são tão fascinantes. Ela me entrega a camiseta que usou e eu apenas a jogo na cama.
Começamos a seguir o caminho para a cafeteria. Já estive aqui antes, e posso dizer que é incrível.
Sinto que ela está aérea, e o fato dela quase ser atropelada só me confirma ainda mais esse fato.
Por coincidência, pedimos às mesmas coisas. Croissant e chocolate quente, os meus favoritos. Liam adorava isso.
Observo seu rosto. Ela está morrendo de vergonha é óbvio. Durante nosso conversa só percebi o quanto a sua língua é afiada. Ela não era assim com certeza.
Mereço muito mais por ter falado tudo aquilo..
Não consigo tirar os olhos dela. Não sei o motivo, mas algo nessa garota me faz ter um imã que me atrai a ela. Preciso descobrir oque é. Parece que nos seus olhos há um mapa. Um mapa que vai me levar para o que mais me falta na vida..
Lembro de quando aquele alemão tentou se aproveitar dela. Como eu queria ter socado aquele filho da puta. Sim eu quero defendê-la, faria isso por qualquer mulher.
E agora, ela vai se tornar uma prostituta, por culpa minha. Vai ter que se entregar á homens sujos e nojentos. Ela não pode fazer isso. Não posso deixar ela fazer isso por minha culpa!
"Você não vai se prostituir!" Falo mais alto do que imaginei que seria. Alguns nos olham e eu apenas ignoro.
Ela olha para mim sem entender. "O que?" Pergunta. "Você não pode fazer isso. Estamos em guerra, você pode pegar uma doença ou ter uma gravidez indesejada." Falo. "Você não pode dizer o que eu posso ou não fazer." Ela diz. Sinto o tapa de suas palavras.
Ficamos nos encarando por alguns segundos. "Qual o seu nome?" Pergunto. Ela fica sem reação por alguns segundos. "Você não vai saber.." diz com mistério.
Ela é um mapa.