We Sin

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No auge dos meus vinte e sete anos, eu julgava a minha vida como: tranquila. Extremamente tranquila. Eu era só um carinha introvertido que até conseguia fazer algumas amizades boas, e que não era um completo anti-social. Fora isso, eu apenas trabalhava com restauração de arte quase vinte e quatro horas por dia e me dava por satisfeito em assistir um filme ou outro no fim de semana.

Jimin, meu melhor amigo, é o extrovertido de carteirinha, de vez em quando me chama para algum bar descolado ou uma dessas baladas que mais sufocam do que divertem. E bem, eu sempre acabo dizendo sim, para que ele ao menos se dê por satisfeito por algumas semanas. Nunca me matou tomar alguns drinks.

Já sobre a minha vida amorosa? Bom, ela não existe.

Pelo menos não existia, até que eu conheci alguém. Obviamente que foi em uma das baladas sufocantes que Jimin me levava. Porque eu não poderia conhecer alguém como ele em um dos museus em que trabalho, muito menos nas igrejas.

Foi numa noite de sábado, em que o céu estava carregado, anunciando que uma tempestade cairia logo. Mesmo assim, Jimin disse que passaria no meu apartamento perto das dez. Eu me arrumei com o que eu tinha de mais moderno no guarda roupa e até dei um jeito no cabelo. Era só mais um dia, era só mais uma noite rindo com um amigo e tomando os drinks de graça que ele conseguia. Acabava rápido. Era o que eu sempre pensava.

Quando chegamos lá, Jimin não parava de falar sobre um cara que conheceu algumas noites antes, e que sabia estar ali também. Para mim ficou óbvio que ele me abandonaria para transar no banheiro e só apareceria algumas horas depois. Eu podia lidar com aquilo. Eu até gostava de beber sozinho por um tempo e responder perguntas bobas de pessoas aleatórias que me abordavam.

A música que tocava era genérica e, como sempre, o lugar parecia querer sufocar todos ali dentro. Meus olhos passeavam pela pista lotada e ninguém parecia muito interessante. Até que as luzes mudaram para um vermelho intenso, que deixou todos mais visíveis de onde eu estava.

Foi então que eu o vi pela primeira vez.

Alto, ombros largos, camisa preta colada ao corpo, a cintura fina, e o rosto mais angelical e pecaminoso que já vi na vida. Os lábios pomposos sorriam para alguém, seu nariz pequeno parecia ter sido esculpido, os cabelos negros caiam sobre a testa e pareciam úmidos pelo suor. Seu corpo seguia o ritmo da música e eu pude ver as mãos que seguravam sua cintura, e que queriam fazer caminhos diferentes. Ele não parecia se importar com nada.

Sua expressão era leve, como se nada ali pudesse mudar seu estado de espírito. Eu estava hipnotizado. Algumas pessoas entravam na frente e impediam minha visão, e assim que elas abriam o mínimo espaço, eu estava de olhos fixos nele de novo.

Eu realmente não tinha intenção nenhuma naquele momento. Eu só queria olhar para ele, desesperadamente. Até que seus olhos me acharam, no meio daquela gente toda, ele me achou. Meu coração acelerou e eu pensei que entraria em pânico.

Parecia errado alguém como ele olhar para alguém como eu. Mas ele olhou, não só uma vez, mas a cada vez que era possível que nos víssemos, nossos olhos estavam da mesma forma, grudados.

Em alguns milésimos de segundos, nos quais eu me perdi totalmente, ele se desvencilhou das mãos que o acompanhavam e seguiu em minha direção. Andou como se fosse a única pessoa naquele lugar, seus olhos fixos em mim, o lábio inferior preso entre os dentes, que foi se soltando lentamente, e quando chegou perto o bastante para que eu pudesse vê-lo com nitidez, a vermelhidão de sua boca com todo o resto que eu já lhes descrevi, fez com que o resto de minha sanidade fosse embora.

Ao chegar no balcão, ele me surpreendeu mais uma vez, me ignorando totalmente. Se espremeu entre as pessoas e curvou o corpo sobre o balcão, deixando-o próximo o bastante do meu para que eu sentisse o calor que vinha dele.

Locked Out of Heaven | TAEJINOnde as histórias ganham vida. Descobre agora