Do Zoom para dentro

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Depois de intermináveis nove semanas de curso no Zoom, a turma recém-certificada decidiu se arriscar em um encontro presencial. Eram 13 participantes: doze mulheres, incluindo a professora, e um homem. Se aquele fosse o último de seu espécime, a humanidade não estaria perdida. 

Gentil, nunca interrompia ninguém. Gostava de participar sem usar sua fala como forma de exibir o enorme conhecimento que tinha. Fazia a linha "sou gato, mas finjo não saber" e era o tópico principal do grupo de whatsapp.

Nayara, a participante que nunca foi considerada a mais bonita em lugar nenhum, preferia ignorar o efeito mamada que o elegeu o gostosão do curso online. Os dois tinham feito algumas atividades em dupla nas salas virtuais que a professora criava sem muito critério de seleção. A afinidade e sintonia entre eles era nítida.

Ela sentia que ele sorria mais quando falava com ela, ficava um tanto quanto tímido nas apresentações que faziam juntos e fazia questão de concordar com tudo o que ela dizia. Mas Nayara se recusava a viver um amor platônico online no meio de uma pandemia.

Talvez por isso ela tenha se arrumado sem grandes preocupações no dia do happy hour onde todos se conheceriam ao vivo pela primeira vez. Escolheu um vestido verde musgo de alcinha com bojo nos seios que dispensava sutiã.

Sem poder dar beijos e abraços, o jeito foi sorrir por trás das máscaras e reforçar os elogios mútuos para mostrar entrosamento. Quando ele chegou haviam várias cadeiras vazias. Mas foi ao lado dela que escolheu sentar. Ela era mais escura pessoalmente do que na tela. Ele gostou disso. O ring light que ela usava para iluminar o rosto tirava a profundidade do tom marrom escuro de sua pele, tão consistente e brilhante que mais parecia banhada em tinta de café.

Ela não conteve o sorriso quando percebeu o movimento dele. Todas as atenções repentinamente se voltaram àquela parte da mesa. Mas ele só respondia ao que Nayara dizia. Estava encantado e queria que todas soubessem.

Pediu ao garçom a mesma bebida que ela. Perguntou se poderia oferecer-lhe algo de comer e foi, pouco a pouco, suavizando a resistência dela em se deixar cortejar. Quando restavam apenas cinco pessoas na mesa e estava nítida a tensão sexual entre os dois, ele se aproximou pedindo um beijo.

Nayara se afastou. "Não quero tirar a máscara". Ele se constrangeu. Não disse nada, mas estava claro pelo seu silêncio que, apesar da sua "perfeição", ele era um homem que não estava acostumado a escutar não. Nayara se levantou em direção ao banheiro. Ele mexeu no celular procurando razões para não conversar com mais ninguém.

Quando voltou, ela carregava uma energia diferente. Até seu andar parecia ter mudado. Se sentou ao lado dele, aproximou-se do seu ouvido e sussurrou: "eu disse que não tiraria a máscara. Mas não falei nada sobre minha calcinha". Ele sentiu seu rosto corar. Podia perceber o calor invadindo suas bochechas e denunciando como estava sem jeito. "O que?!", perguntou como quem pede confirmação para crer que não está sonhando.

Em vez de responder, ela pegou a mão dele e colocou sobre sua coxa. Repentinamente a timidez  passou. Ele agarrou-lhe a perna como quem aperta uma almofada de foam. Massageando, esfregando os dedos e sentindo os pelos dela se arrepiarem. As poucas pessoas que restavam na mesa do bar foram embora. Provavelmente notaram que os dois já não estavam mais presentes.

Ela abriu lentamente as pernas, convidando-o a aproximar-se ainda mais. Ele tateou-a com cautela. Queria seu consentimento. Ela tentava disfarçar a excitação desviando o olhar. Do outro lado do estabelecimento, um cliente observava a cena atento. Era obvio o que faziam. Ninguém, no entanto, imaginava que iriam até o fim.

Os dedos dele estavam molhados. O que ele mais desejava era levá-los até sua própria boca e provar que gosto ela tinha. Mas se conteve em acariciá-la, usando a mão inteira para que ela liberasse mais daquele suco denso e quente.

Ela foi se aproximando do orgasmo. Conduziu a mão dele para que a penetrasse com dois dedos e por um segundo se esqueceu que estavam em um lugar público. Ela soltou um gemido que foi abafado pelo som ambiente, mas que chegou até o ouvido dele como melodia.

Ele se desvencilhou dela somente quando percebeu sua vulva parar de pulsar. Era a primeira vez que ele sentia na pele um orgasmo feminino. Quem diria. O gato do Zoom era tão bom digitando instruções durante a aula quanto dedilhando-a sob a mesa.

Terminaram as bebidas, se despediram ainda de máscara e ela, em vez de dar a ele seu número de telefone, o presenteou com sua calcinha.

Use máscara, tire todo restoWhere stories live. Discover now