Prólogo

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Oi... Eu não tenho a menor ideia de como começar a contar essa história. Talvez seja importante que saibam meu nome. Eu me chamo Adhara, tenho 280 luas, ou cerca de vinte e três anos. Eu sou, ou fui algum dia, de um reino muito distante, que certamente ninguém conhece; um reino sem ouro ou posses ou conforto, que possui muito sofrimento e pouco alimento.

Talvez, então, para você, eu não tenha importância alguma, mas eu preciso contar a minha história. E mais que isso, preciso alertá-los sobre o perigo do mundo em que vivem. Para tal fim, precisarei retroceder ainda mais no tempo, para quando eu ainda não era desse reino.

Vim de um país afastado de outros grandes polos do planeta, chamado Vale5; uma sociedade dividida em cinco cidades-estados — Vale Esperança, Vale Fortaleza, Vale Horizonte, Vale Salvador, e Vale dos Lobos, onde cada uma é governada por um Representante, cargo passado de maneira hereditária para os membros de determinada família.

A história que nos contam desde o início é que todos os vales sempre foram bons e tiveram uma convivência pacífica, inclusive se diferindo de outros países do mundo que vivem em guerra, mas isso não é totalmente verdade.

O que não nos contam é que, no início de tudo, muitos anos atrás, existiam apenas quatro vales, que viviam bem, unidos e em harmonia. Um pouco mais distante, perto das Florestas Profundas, vivia um outro povo, que ninguém conhecia bem e que acreditavam ser selvagem. Era chamado "O Povo dos Lobos", porque todos os homens e mulheres eram capazes de conversar com lobos, e até controlá-los.

O fato de que controlavam animais tão poderosos, além de terem acessos a todas as plantas que existiam na Floresta Profunda, começou a despertar o medo dos vales que viviam afastados. Os representantes temiam que, um dia, aquele povo se revoltasse e tentasse tomar seus territórios, então sugeriram ao Povo dos Lobos que se unissem a eles, tornando-se um novo vale, tendo um representante e podendo conviver como iguais, além de compartilhar suas riquezas e seus lobos.

O Povo dos Lobos não aceitou a proposta, então uma guerra se iniciou. Embora eles fossem poderosos, possuíssem os lobos e as plantas, não eram capazes de lutar contra pessoas que tinham armas de fogo tão poderosas, o que ocasionou na morte de grande parte da sua população. Os poucos que restaram fugiram para as profundezas da floresta, onde muitos acreditavam que não sobreviveriam por muito tempo.

O lugar onde costumavam viver foi reconstruído; o sangue das ruas foi lavado, casas foram erguidas e novas pessoas trazidas para morar. Assim surgiu o quinto vale; o Vale dos Lobos.

E foi nesse lugar, sujo e amaldiçoado, que eu nasci, com o nome de Anabel Pérlis, a filha mais velha do representante Antônio Pérlis, o que consequentemente me fez herdeira do lugar e do povo.

É claro que, nessa época, eu não sabia de nenhuma das coisas que estou contando agora. Para mim, o meu vale era o lugar mais lindo e pacífico que já tinha encontrado. Não poderia imaginar que a terra possuía tanto sangue, e que esse sangue amaldiçoou a terra, a tornando infértil e fria. E nunca, jamais, poderia imaginar que todas as pessoas que viviam no Vale dos Lobos estavam destinadas a pagar pelos erros de seus ancestrais.

Eu descobri quando tinha cerca de oito anos, e nem sequer possuía capacidade para entender todas as coisas de maneira tão profunda quanto entendo hoje. Um dia, um estranho homem procurou meu pai de nascimento e lhe contou sobre um povo que vivia nas profundezas da floresta.

Segundo este homem, o Povo dos Lobos havia sobrevivido e estava se reconstruindo para tomar de volta o vale. O processo estava quase totalmente pronto e quando voltassem, pretendiam derramar o sangue de todas as pessoas que vivessem no local, sem sobreviventes.

Antônio não acreditou de imediato, mas recebeu muitas provas de que aquelas palavras eram verdadeiras. E ao comprovar a veracidade das alegações, tentou entrar em contato com o líder desse povo distante, mas nada foi acertado.

Foi então que meu pai e o homem estranho criaram o plano de colocar um infiltrado do Vale dos Lobos para conquistar a confiança do rei. Muitos nomes foram citados e pensados, mas o meu foi o escolhido.

Eu sei... Não faz sentido nenhum. Como uma criança de oito anos poderia se infiltrar em algo? Ganhar a confiança de um rei? E como um pai poderia cogitar entregar a própria filha para viver com o povo inimigo?

Em todos os meus anos de vida, eu tentei entender esse momento. E acho que meu pai Antônio nunca, de fato, acreditou que eu fosse conseguir qualquer coisa que seja, mas deve ter pensado que seria uma ótima oportunidade de se livrar de mim sem parecer um monstro sem sentimentos.

Meu pai de nascimento não era um bom homem e, definitivamente, ele não gostava de mim e não suportava a ideia de que uma mulher herdaria o seu vale. Minha mãe ficou triste e arrasada, mas não fez nada para impedir.

Entãoeu mudei de nome, de história, de família, e parti para um lugar distante com amissão de tentar acabar com uma possível guerra que era muito maior do que eu emais longa que todos os meus anos de existência. E, claro, eu falhei.

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Para a alegria de muitos, sem PROLONGO dessa vez! Eu devo postar mais três ou quatro capítulos até o dia de publicar (DIA 6 DE SETEMBRO, NÃO ESQUEÇAM!)

Sobre Lobos e DestinosKde žijí příběhy. Začni objevovat