If I'm not the one then I'm the best mistake you ever had

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Na primeira vez que Jeon Jeongguk se aproximou de mim em uma festa no início daquele semestre, eu não tinha ideia de como pequenas coisas e decisões podiam se estender, nem como podiam mudar de uma hora para outra. 

Por isso, eu não evitei os olhares dele, nem neguei a bebida que ele me ofereceu, tampouco revirei os olhos pro papinho frouxo que ele lançou. Pelo contrário, dei corda, respondi furtivamente e assim o mantive ali, preso ao seu próprio joguinho, e a mim. 

Eu sabia quem era Jeongguk, sabia que ele era só mais um garoto bonito que pegava quem quisesse e esquecia nomes com certa facilidade. E eu não estava querendo nenhum drama, não queria que ele se apaixonasse por mim e me fizesse sua única opção. 

Mas eu queria, sim, atenção dele. Queria que ele usasse sua lábia comigo, que ignorasse a festa pra se concentrar em mim entre a cozinha silenciosa e o salão lotado. Queria que naquele momento, eu fosse a opção mais interessante. 

Era meu ego falando, eram meus queridos dezenove anos querendo mostrar para quem quisesse ver que eu estava vivo, sim, e podia viver como todos os outros. 

Esse sou eu sendo interessante, inconsequente e imaturo. 

Estar na universidade era sobre isso, não era? 

Me diziam que sim. Me enchiam a cabeça com os contras de ser tão quieto e isolado, de escolher paz e tranquilidade. Okay, então, que assim seja. 

Me dêem adrenalina. Me digam como viver. 

Foi por isso que começou. Porque me deixei levar pela velha história de não estar aproveitando o suficiente minha breve juventude. Foi apenas por isso que beijei Jeon Jeongguk naquela noite no começo do outono. 

E assim, eu dei início ao meu maior erro. 

Erro, sim, porque é muito fácil se perder quando se encontra algo novo e inebriante. Ele era assim, tinha cheiro de menta no cabelo, mas perfume doce na jaqueta. Os cabelos escuros caiam lisos pelo rosto e seus lábios pequenos estavam sempre avermelhados e convidativos. 

E por mais que não conseguisse esconder quem era, quando estava comigo, ele fazia parecer que no mundo não existia mais ninguém. Esse tipo de poder é viciante. Ser a coisa preferida, a primeira opção. Eu quis ser cada vez mais. 

Mesmo quando sentia o cheiro de outras pessoas nele, mesmo quando ouvia os cochichos no campus. Eu me agarrei à certeza de que conseguia lidar com aquilo da mesma maneira que ele. 

Beijei mais bocas do que imaginei beijar um dia, e impregnava meus suéteres com outros perfumes também, assim estávamos sempre quites. Mesmo que terminássemos nossas noites sempre um com o outro, e não com eles. 

Era um bom jeito de seguir, eu pensava. Que mal tinha em ser um pouco dissimulado? Em guardar algumas coisas para si? Não podia ser assim tão ruim. 

Mas, uma hora ou outra, quando minha mente começou a pregar peças e me fazer pensar nele o tempo todo, e imaginar cenários demais com personagens demais, as coisas fugiram do controle muito rápido. 

De repente, antes do inverno acabar, eu já não conseguia mais marcar meus suéteres com outros perfumes, a mera ideia de sentir a boca de outro alguém me irritava. Ouvir a conversa deles era um martírio. Eu só queria a voz dele, o cheiro dele, a boca dele. 

Mas era tarde demais. Estávamos no meio de uma cama de gato, e eu não sabia como sair dela. Não sem que eu saísse daquilo com o coração partido e sem a única coisa que eu queria. 

Ele. 

Por isso me arrastei, fingi, suportei a ideia de que eu era dele, mas ele era de todo mundo. Era melhor que nada, talvez. Por um tempo. Até pelo menos ele começar a perceber. 

Nesse momento, esqueci completamente de quem eu era. Me vi encurralado em minha própria mentira, esperando que aquele garoto percebesse como eu era vulnerável e não valia a pena. 

Mas eu tinha lido Jeongguk de maneira ligeiramente distorcida. Ele não era apenas um conjunto perfeito de tatuagens, cabelo escuro e mãos firmes. Era apenas outro garoto de dezenove anos que descobria, da mesma forma que eu, a maneira como realmente queria viver. 

Eu achei que era bom em dissimular, mas ele era melhor em me ler. Soube muito cedo que eu não era tão desprendido como queria parecer, que festas não eram minha praia e que os perfumes doces em sua jaqueta me incomodavam. 

Ele sabia, e conforme lia minhas entrelinhas, Jeongguk se moldou a mim de outra forma. Me ouviu mais do que qualquer um e me disse coisas sobre ele que seus amigos não sabiam, coisas que os cochichos não poderiam me dizer pelo campus. 

Sua jaqueta passou a ter o meu cheiro e o dele, apenas. Meu dormitório ficou mais interessante que as festas de fraternidade, e ele me mostrou seu amor por filmes trash e eu por comédias britânicas duvidosas. 

Acontece que Jeongguk não era apenas aquilo que aparentava ser, assim como eu não pude sustentar a imagem que apresentei a ele naquele nosso início um pouco falso. 

Isso foi um erro, de fato. Mas, se Jeongguk também foi, eu não teria como negar que ele foi o melhor erro que já cometi. Porque, por mais que tenhamos prolongado as coisas e isso tenha me custado meses de mentiras idiotas e ansiedade, eu não conseguiria me arrepender de pra onde isso nos levou. 

Jeongguk não queria mais ser de todo mundo. Ele queria equilibrar nossos mundos e nos fazer dançar conforme a música, juntos. Sem outros, sem se importar com o que falavam, apenas desfrutando da verdade que encontramos no meio de tudo aquilo. 

Agora, no início do verão, nós saímos um pouco daquele meio conturbado que pode ser o campus de uma universidade, e nos refugiamos de tudo no sobrado da família dele, ouvindo as cigarras cantando, o sol se alongando e deixando as noites curtas. 

Passamos horas na beira do rio e nos beijamos com menos pressa e mais certeza. 

Faremos vinte anos em breve, e podemos dizer que estávamos redondamente errados sobre quase tudo que achávamos saber um ano antes. Erros que se parecem erros podem se tornar a melhor coisa do mundo, sim, se você encontrar a pessoa certa. 

Palavras certas por linhas tortas, afinal. 

Best Mistake | JINKOOKOnde as histórias ganham vida. Descobre agora