Capítulo 1: A mensagem da garrafa

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A mensagem a seguir foi encontrada dentro de uma garrafa de cerveja no meio de um deserto. Não se sabe quanto tempo ficou esquecida. O papel está velho e desgastado. A caligrafia é um pouco tremida, mas é possível lê-la com facilidade.

Bandoleiros, bandidos, ladrões, malucos, monstros, guarás. São muitos os nomes pelos quais somos conhecidos. Nós nos chamamos de bando. Apenas estamos tentando sobreviver, como qualquer um.

Depois da crise hídrica, a sociedade humana ruiu como uma cabana velha. Os sobreviventes se separaram em grupos. Os vermelhos, os verdes e nós, os "Guarás", como eles nos chamam.

A maioria das cidades são apenas ruínas, as habitadas são fortes altamente protegidos, a natureza foi extinta. Só há desertos, morte e poeira.

Nosso bando está passando por um momento difícil. Escrevo nesse diário para manter a calma. Não compartilho isso com ninguém, nem posso. Não podemos demonstrar sentimentos e nem misericórdia nesse mundo árido. E, além disso, com toda certeza, o bando diria que diário é coisa de boiola e daria uma surra em qualquer pessoa que tivesse um.

Aqui no nosso bando sou conhecido como "Vermelho" por causa do cabelo ruivo, meu parceiro é o Jonas. Nossa máquina de batalha é um belo fusca meia oito totalmente envenenado, reforcei a fuselagem, modifiquei o motor, tirei os bancos traseiros para adicionar outro tanque de combustível. Também coloquei duas metralhadoras no teto e marquei com um "X" no para-brisas a mira. Dirigimos uma máquina mortal de quatro rodas.

Nosso líder é o Carlão do jipe. Nem preciso dizer qual máquina ele dirige. Ele é um homem preto e gordão de quase dois metros, a careca dele brilha no sol e todos nós o tememos. Sempre está com óculos escuros daqueles que se usam em laboratórios. Graças a ele, o bando conseguiu prosperar até hoje.

As meninas do bando são Lana e Bia. Elas dirigem um Opala seis cilindros. São elas que ficam na linha de frente e nos dão cobertura durante os ataques. O opala tem metralhadoras e um lança-granadas que vem muito a calhar.

Os primos Nerso e Tonho São dois velhotes malucos do interior que dirigem um Chevette totalmente equipado e envenenado assim como meu fusquinha.

E por último, mas não menos importante. O Robertão com seu ônibus. Nosso tesouro, nossos suprimentos, nosso combustível, nossa água, nossas ferramentas... nossa vida.

É um bando pequeno, mas é implacável. Aí você poderia se perguntar: "então porque você disse que está passando por um momento difícil, Vermelho?". Eu lhe respondo. Estamos com pouco combustível. Pouco mesmo.

Eu e Lana saímos com nossas motos para darmos uma de batedores e encontramos um local. Tem recursos. Não sabemos sob o poder de quem está o vilarejo. Se são bandoleiros como nós, vermelhos ou verdes. Só torço para que não seja dominado pelos verdes. Esses filhos da puta são extremamente militarizados.

—Tem um vilarejo. Fica a quase quarenta quilômetro daqui. — Disse Lana abaixando seus óculos aviador e limpando a poeira do rosto.

Carlão parecia pensativo. Eu segurava minha bússola com firmeza e apreensão. Por fim ele falou algo.

—Tinha alguma bandeira verde ou vermelha?

—Não. – Respondi — Mas também não parecem ser da nossa laia. Está muito organizado. Não vimos carros de combate e os vigias estavam muito bem armados para serem nômades qualquer.

—Eles devem ter carros de combate. Talvez tenham nos espionado primeiro. Talvez estejamos na palma da mão deles. — disse Carlão coçando o bigode.

—E o que o comandante sugere? — disse Lana.

Carlão olhou para o céu estrelado acima da tenda. Estava sentado em um barril de inox que deveria ter gasolina, mas estava vazio. A fumaça de seu charuto subia em aspirais na noite silenciosa.

A mensagem do bandoleiroWhere stories live. Discover now