Um

54 13 4
                                    

Taehyung sabia que o que estava prestes a fazer era a maior burrice de todas, era um fato incontestável. Mas ele faria mesmo assim, porque algo dentro dele simplesmente não aceitava que a outra opção era a desistência. E desistir era algo que ele prometeu ao seu eu de 15 anos que jamais faria, mesmo quando não houvesse solução cabível. Assim, lá estava ele, sentindo o auxiliar colocando o protetor em sua boca, passando vaselina em suas sobrancelhas e ouvindo o ruído distante dos gritos da torcida. Em alguns segundos ele estaria no tatame, em segundos ele ouviria a voz de seu treinador tentando com todas as forças lhe ajudar a sair daquela luta ileso. Mesmo que fosse praticamente impossível.

Seu foco, que sempre foi apresentado ao mundo como a maior de suas qualidades, não existia naquele momento, seus olhos vagavam pelo tatame, e quando seu adversário aparecia, era como se ele já tivesse ganhado e soubesse disso, por isso olhava para Taehyung com aquele costumeiro cinismo. Não existia nada que o irritasse mais do que aqueles olhares.

Quando a luta começou, os gritos tomaram conta da arena, Taehyung tentava se esquivar da maioria dos golpes do adversário, porque mesmo podendo lidar com alguns socos e chutes, se o brasileiro conseguisse aplicar sequer um golpe de jiu-jitsu, Taehyung sabia muito bem como acabaria. E ele conseguiu manter a luta em pé durante o primeiro round, e com apenas um lábio cortado e o olhar preocupado do treinador, ele foi para o segundo. E antes que ele pudesse se situar no que estava para acontecer, seu adversário o levou para o chão e aplicou um arm-lock.

Um arm-lock envolve o lutador prendendo o ombro de seu adversário com as pernas e puxando o braço para si, obrigando-o a bater antes que o braço seja quebrado. E tudo bem, se não fosse o pior golpe para Taehyung receber naquele dia específico. Porque antes de entrar naquele tatame, ele sabia muito bem que seu ombro não aguentaria.

[...]

Taehyung odiava hospitais, odiava medicações, e odiava médicos que estavam sempre prontos para dizer que ele deveria repensar sua carreira. "Sua lesão sempre vai piorar com as lutas constantes", "uma hora será irreversível, de qualquer forma" e várias outras frases derivadas que entravam por um ouvido e saiam pelo outro. Taehyung não queria saber. Queria apenas seguir seu rumo como sempre fez, esperar o tempo mínimo e voltar a lutar, ponto final.

Ele estava já há alguns minutos na enfermaria do pronto socorro, a enfermeira avisou que logo o médico estaria ali, e por mais que ele não quisesse nada daquilo, a dor aguda mandava mensagens indesejadas para seu cérebro clamando por um remédio bem forte.

A voz suave e masculina logo despertou Taehyung de seus delírios, e seus olhos buscaram automaticamente por sua bóia de salvação. Subindo os olhos pelo jaleco branco, o lutador encontrou um rosto pequeno e delicado, olhos redondinhos e escondidos por óculos grandes e quadrados. O homem era jovem, talvez mais do que ele mesmo. E tinha um semblante tão neutro que Taehyung não soube ler.

— Kim Taehyung? — ele perguntou, ainda olhando para a prancheta em sua mão.

— Isso — ele respondeu, esperando ter mais atenção do médico.

— Eu sou o doutor Kim, ortopedista — disse, finalmente olhando para seu paciente, oferecendo um sorriso discreto e acolhedor. — Vejo aqui que sua lesão é recorrente... o que aconteceu hoje?

— Ah... eu tive uma luta hoje e... foi isso.

Taehyung observou o doutor Kim franzir o cenho e esperar, como se aquela resposta não fosse suficiente.

— Certo, que tipo de luta, exatamente?

— Uma luta profissional. Luto MMA...

A expressão do médico foi de incerta para... impressionada. E Taehyung não soube bem como reagir.

Slow Down | TAEJINDär berättelser lever. Upptäck nu