Eu não sou o único

1 0 0
                                    


#minhaescritacriativa


O mar sempre foi minha paixão. Surfar ou nadar, olhar e admirar. Sempre amei a calma que o vento traz acompanhada da adrenalina que o mar carrega. Nunca vou me sentir em paz em outro lugar que não seja aqui, ouvindo as ondas

-Já terminou de arrumar as malas?- ouço a voz doce de Jenny atrás de mim

-Quase...-respondo olhando as malas e percebendo que não fiz quase nada

-Tá tudo bem?- Jenny se aproxima me abraçando por trás- me parece meio aéreo

-Eu só estava observando o mar- respondo simples- sabe que amo as ondas

-Mais do que me ama?- pergunta fazendo uma expressão fofa

-Não...Claro que não- faço carinho em seu rosto

Em outros momentos meu coração estaria explodindo de felicidade. Estava ali sentindo a brisa fresca batendo em meu rosto, o cheiro salgado do mar e ainda estava com a mulher que amava ao meu lado, porém neste momento eu só queria gritar e entender o por quê de eu ser tão covarde, o motivo de eu sempre me colocar em situações como essas.

A alguns meses eu vinha sentindo algo estranho. Jenny estava se afastando, às vezes sumia por um dia inteiro e voltava como se nada tivesse acontecido. Tentei por em minha cabeça que era por causa do trabalho, como ela me dizia, mas mesmo assim eu sentia algo confuso, algo triste e angustiante.

Um dia segui o carro de Jenny depois do trabalho. Eu sabia que era errado, ela é minha esposa, tenho que confiar nela, mas naquele momento eu estava tão desgastado de todas as desculpas, tão cansado das noites sozinho sem saber seu paradeiro. Eu precisava saber mesmo que fosse o pior.

Estacionei meu carro longe quando vi que o carro de Jenny parou em frente a casa de alguém. ela apertou a campainha e esperava por alguém, quando a porta foi atendida consegui ver quem era mas não reconheci, eu não sabia quem era e também não queria saber, só precisava saber o que minha esposa vinha fazer em sua casa às dez horas da noite.

Quando eu estava cogitando chegar mais perto, a vejo chegando mais perto da pessoa e a beijando.

E foi neste momento que meu mundo caiu. A minha Jenny estava me traindo, a mesma Jenny com quem eu estava casado há dez anos, a mesma Jenny que eu me apaixonei ainda no fundamental, a mesma Jenny que foi meu primeiro amor, meu primeiro beijo, meu primeiro sentimento real por alguém. Aquela possibilidade existia na minha cabeça, de que realmente Jenny estava me traindo, mas eu neguei, neguei e jurei por tudo que era mais sagrado que tudo que estava na minha cabeça era uma ilusão, mas no final, não era. Neste momento era esperado que eu ficasse com raiva dela e fosse pra cima do cara, mas eu não conseguia sentir nada além de raiva de mim, porque eu neguei o que eu estava sentindo e não a perguntei nada a ela, foi por minha culpa isso ter durado, foi por eu não ter escutado meus pensamentos que parei aqui, foi por eu não ter confiado em mim, foi por eu não ter me colocado em primeiro lugar e ter seguido a primeira regra de qualquer relacionamento: conversa.

Depois do que vi voltei para casa e fui dormir, eu estava cansado demais para chorar ou pensar em qualquer coisa.

Hoje, eu tentei esquecer, tentei aproveitar a viagem que estava marcada para comemorar nossos dez anos de casamento, mas eu não conseguia olhar na cara dela sem chorar, sem pensar o quanto fui insuficiente.

-Amor...- sentia meu peito apertar com aquela palavra ainda- tem certeza que tá tudo bem?

-Na realidade, me pergunto o motivo de eu ainda estar aqui...-vi sua expressão de dúvida quando digo isso

-Como assim? Aqui vivo ou aqui neste lugar?

-Os dois- sinto meu peito apertar mais ainda e lágrimas quererem vir- sabe...a gente fez uma promessa

-Como assim vida? Que promessa?

- "Prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te, respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe".- falei baixo para que ela não ouvisse minha voz embargada- essa promessa...mas parece que não valeu de nada, né?

-Que? Vida, você tá ficando louco?- Ela pergunta se afastando de mim

-Não precisa mentir- olhei fundo em seus olhos- eu sei o que aconteceu, eu sei o que eu vi e sei mais ainda o que eu senti por meses- sinto as lágrimas finalmente descendo do meu rosto

-Vida, eu te amo, eu te amo mais do que tudo na minha vida. Desculpa ter feito isso, eu estava confusa- vi seus olhos cheios de lágrimas -você foi meu primeiro amor, meu primeiro beijo, meu primeiro tudo. Eu sei que não explica mas eu realmente estava me sentindo menos do que todo mundo, me sentia menos querida que os outros, eu não quero dizer que você não me ama ou que isso não era o suficiente, mas eu precisava saber como é o mundo lá fora. Você sempre foi o meu porto seguro e eu agradeço muito por isso, mas eu precisava saber como é viver, como é sair por aí sozinha, beber até desmaiar e acordar em um lugar duvidoso. Eu precisava viver a vida que eu nunca consegui quando adolescente.

-Jenny, era só ter falado comigo, poderíamos ter dado um jeito nisso- me viro de costas e vou em direção a porta -mas você escolheu seguir o seu caminho sozinha.

Antes de sair olho de novo para ela, esperando que talvez isso me fizesse sentir que estava fazendo algo certo, mas não, ver sua expressão de desespero fez com que eu me sentisse pior do que aquele dia. Por que agora eu tinha certeza que a amava mas também tinha a certeza que não poderia tê-la.










Inspirada na música:
I'm not the only one - Sam Smith

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Nov 15, 2023 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Escrita criativaWhere stories live. Discover now