Daru

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Estaria mentindo se dissesse que não observava os interiores do Louvre de vez em quando.

Ele era fácil de encontrar, tão perto do rio Sena e tão iluminado à noite.

Era encantadora a apreciação que as pessoas tinham pela sua imagem esculpida.

Os artistas humanos realmente haviam se superado naquele trabalho.

Os outros deuses debochavam da sua estátua sem cabeça.

Mas a Vitória era assim, não era?

Demandava perdas.

Achava a representação perfeita.

Além disso, não vencia quem pensava demais.

Em todos esses séculos, vencera quem estando no lugar certo na hora certa se entregara.

Era isso que ela ratificava.

E era um trabalho bem grato esse seu de entregar a vitória.

Os humanos que tinham contato com ela sempre tinham os olhos brilhantes e o coração pulsando cheio de vida.

A tarefa de hoje era dessas prazerosas.

Ia consagrar uma cirurgiã que havia lutado contra as probabilidades e retirado um tumor de uma criança.

Espiou a coletiva de imprensa que estavam preparando para a sua vencedora.

A admiração exalando dos funcionários do hospital era o perfume dos vitoriosos.

Era tão atraente o sucesso.

Iniciou o seu mergulho para abençoar a batalha ganha.

A brisa agradável dançava nos seus cabelos e seus movimentos eram suaves como o destino.

Deslizou para o lado dando passagem para um avião.

A rota pra o sul do Brasil era bem gostosa.

Abruptamente sentiu uma emoção desconhecida lhe invadir.

O que era aquilo?

Os ventos não estavam abrindo caminho.

Devia ser impressão sua.

Apoiou os pés contra uma nuvem dos arredores para pegar uma força um pouco maior na sua impulsão.

Ainda assim sentiu seu físico lutar contra uma resistência que lhe era estranha.

Não conseguia passar.

O que estava acontecendo?

Pela primeira vez em séculos se questionou o que iria resultar se não chegasse no tempo devido.

Se não fechasse o sucesso da cirurgia a criança estaria em perigo.

E a carreira da médica também.

E as doações para o hospital.

Ninguém dava suporte a um caso perdido.

Sucesso chamava sucesso.

Essa era a regra dos céus até o abismo.

Tinha que pensar rápido.

Não estava acostumada a ter que se virar, mas ia resolver aquilo.

Subiu mais um pouco no ar para procurar aquele avião que havia passado.

O jeito seria pousar com ele e depois encontrar o hospital.

Os humanos iam de sequência em sequência até chegar nos lugares o tempo todo, não era mesmo?

Não podia ser tão difícil.

SamotráciaWhere stories live. Discover now