1. 𝙿𝚛𝚘𝚖𝚎𝚜𝚜𝚊𝚜 𝚍𝚎 𝚜𝚊𝚗𝚐𝚞𝚎

22 0 0
                                    

Aneline

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Aneline.

Observei mais uma vez a capa de cor ouro-fosco do pequeno diário em minhas mãos. Uma combinação impetuosa de saudade, medo e ansiedade fizeram meu coração disparar. Era difícil respirar quando lembrava que meus planos mudaram repentinamente após a morte do meu pai. Eu estava há poucas horas de ter minha vida virada do avesso, mais uma vez. O único conforto que tinha era saber que levaria comigo a última lembrança que tinha dele.

Guardei o diário com cautela entre as roupas de uma das malas que havia organizado nas últimas 24 horas, fechei todas elas com cuidado antes de olhar uma última vez para o que tinha sido meu quarto. As paredes eram pinceladas em um tom claro de citrino com poucas prateleiras a decorá-las; a desbotada escrivaninha, na qual tudo o que restara sobre ela eram os pequenos vasos de planta que minha mãe tanto insistia que tivesse; a cama estava com os lençóis e cobertores de tons claros arrumados e alinhados e, naquele momento, senti falta da tapeçaria que já havia sumido dali, deixando um clima vazio perambulando no ar.

— Ane, temos que ir — chamou minha mãe, sua voz uma melodia aveludada.

Joguei a mochila sobre as costas, as alças bem firmadas em meus ombros, antes de pegar as duas malas e sair do cômodo, deixando apenas o fantasma do que um dia foi minha presença para trás. No momento que fechei a porta atrás de mim, minha irmã, Yasmin, me surpreendeu com um abraço inesperado.

— Vou sentir sua falta — ela disse, com a voz trêmula. — Por favor, por favor, Ane, não nos esqueça, venha nos visitar quando puder.

Meu coração apertou e meu rosto esquentou em antecipação, premeditando o choro que viria em seguida se eu não controlasse minhas emoções, mas como poderia fazer isso quando ela me abraçou com tanta força, como se estivesse segurando o fio da minha vitalidade ali? Eu me mexi, apenas para agachar e abraçá-la de volta; o calor do seu corpo me envolveu e eu quase me desmanchei.

— Jamais vou esquecer vocês — afirmei, me esforçando para manter a convicção em meu tom e não acabar chorando, pois isso só a deixaria mais desesperada. — Você precisa se cuidar, entendeu? Precisa se comportar e obedecer a mamãe, tá bom? Eu virei assim que possível.

Ela balançou a cabeça em concordância e sorri ao sentir o gesto. Soltamo-nos lentamente e estudei sua face. A pele clara levemente corada pelo choro, os fios loiros desalinhados e os olhos grandes e azulados. Ela era uma miniversão da minha mãe, herdando até mesmo a curvatura dos cílios cheios e definidos, enquanto eu era a cópia feminina do meu pai.

Sorri ao deslizar meus dedos pela pele macia das suas bochechas redondinhas, e uma parte de mim se estilhaçou ao lembrar que não sabia quando a veria novamente.

— Tome, leve isso. — Yasmin estendeu a mão, revelando a sua fitinha favorita, com a qual sempre prendia seu cabelo ou amarrava nos pulsos ou tornozelos; nunca a vi sem.

— A sua fita? — perguntei baixo, completamente paralisada, enquanto ela enrolava a tira fina de cetim dourado em volta do meu pulso. — Por quê? É a sua favorita.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Mar 05 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

A Ruína Entre NósWhere stories live. Discover now