Desejo de uma Noite

Dando um jeitinho nele

Alguém disse por aí que ser traído é ser humano. O problema é que a traição nunca vem de um estranho e, por isso, magoa tanto. E no meu caso, eu havia sido traída duas vezes ao mesmo tempo. Como aquilo havia começado bem diante dos meus olhos e eu não tinha percebido? Todas as minhas conversas com Bianca sobre Kevin nunca pareceram despertar nenhum interesse nela. Então, em que momento tudo começou? Jurava que eles tinham se visto uma única vez, quando ele havia me deixado lá. Ah, mas isso não ficaria assim!

Kevin chegou em casa às 19:47h, quase cinco horas depois de ter saído do trabalho. Ele me encontrou na sala, assistindo um filme de comédia romântica na Netflix, com uma garrafa de vinho aberta e duas taças, sendo que uma já se encontrava abastecida. Kevin não morava comigo, mas havia começado a dormir no meu apartamento quase todas as noites. Eu havia dado uma chave para ele. Não me julguem, ele realmente parecia confiável.

— Eu estou exausto. — ele disse — Preciso de um banho.

Claro que estaria, depois de ter transado por horas com outra, arrombado do caralho! Jenny, respira e não pira.

— Já deixei a toalha no banheiro para você, amor. A janta está em cima do fogão. Fiz o prato que você gosta. Garanto que o sabor está de matar! — respondi sorrindo.

— Hummm! Estou mesmo morrendo de fome. Vou tomar um banho rápido e já volto para jantar e tomar desse vinho com você. — ele saiu em direção ao quarto.

— Não demora, querido. — disse em voz alta.

15 minutos depois, Kevin sentou-se ao meu lado no sofá, com aquele perfume que quase não me deixou ficar concentrada no que estava prestes à acontecer. Ele riu da minha cara ao me ver chorando por causa de uma cena romântica clichê do filme. Me fez um cafuné gostoso e eu quase me senti tentada a perdoá-lo. Não achava que era culpa dele de verdade, eu sou complicada... ou não, a culpa era dele, sim! E ele iria pagar bem caro pelo que me fez. Os dois iriam.

— Então amor, como foi o seu dia hoje? — perguntei para ele.

— Muito trabalho, como sempre. O chefe me encheu de papelada para corrigir. Segundo ele, tenho que fazer valer o meu salário. HaHaHa! — ele soltou uma gargalhada, como se tivesse lembrando do momento em que seu chefe disse aquilo — Mas e você, amor, ficou em casa o dia todo? — Kevin me perguntou.

Eu juro que se ele tivesse me dito a verdade até aquele momento, teria o perdoado e dado um jeito somente na Bianca.

— Na verdade, eu saí para resolver uma coisa. — respondi ao lhe entregar uma taça de vinho, a enchendo em seguida.

— É mesmo? E aonde você foi? — ele perguntou, enquanto bebia um longo gole do vinho.

— Eu fui na praça. — disse sorrindo, e ele parou a taça na metade do caminho até a boca, me olhando com o cenho franzido.

— E que horas foi isso? — percebi ele começando a suar frio, o que significava que o veneno já havia começado a fazer efeito.

— Às 17h... — respondi evasiva.

Ele tossiu.

— Jennifer...

— Eu vi você, Kevin. Vi quando você saiu, que não me atendeu na primeira chamada porque não quis. Eu vi para onde você foi! Eu segui você e descobri com quem estava me traindo. Por que mentiu para mim? — senti as lágrimas brotando nos meus olhos.

— Não é o que está pensando... — sua voz saiu falhada.

Do nariz de Kevin começou a escorrer sangue e ele caiu no chão. "Jen...", ele tentou dizer o meu nome, mas passou a ter convulsões fortes e da sua boca saiu uma espuma branca. Seus olhos estavam arregalados, presos em mim, como se pedissem socorro. Então ele parou de se debater e respirar. A dose do veneno havia sido letal.

Encarei o corpo desfalecido por um tempo e depois me despedi.

— Só lamento, meu amor.