Capítulo 32

141 49 9
                                    

— Nando, juro que não vou demorar — afirmei para o meu gato carente enquanto afagava sua pelagem amarelada com as pontas dos dedos.

O gato miou esfregando a cabeça em minha mão. Ele estava manhoso desde a cirurgia do meu pai, pois fiquei muito tempo fora de casa. Nem acreditava que já tinha passado dois meses desde aquele dia terrível que achei que meu pai fosse morrer. Graças a Deus, ele se recuperou bem e voltou à vida normal.

Tanta coisa aconteceu nesses sessenta dias. Conheci a minha sogra e o irmão mais velho do Fernando em uma viagem que fizemos a São Paulo. Também encontramos a Talita, ex-noiva dele. Obviamente tive uma crise de ciúmes quando vi a loira lindíssima que ainda era apaixonada por ele e nem tentou esconder.

Os dias se resumiram a uma rotina que eu havia me acostumado demais e estava amando viver. Eu trabalhava muito por causa da construção do hospital e outras coisas que o trabalho exigia. Fernando, por sua vez, se dividia entre ser médico e administrador de uma rede de hospitais com meu pai, ou seja, trabalhava mais ainda. Íamos juntos caminhando para o hospital quando não estava chovendo. Víamos televisão, fazíamos o jantar, tomávamos café da manhã, às vezes passávamos na minha panificadora favorita antes de ir para o trabalho e me empanturrava de donuts sob o olhar reprovador do meu namorado.

Passamos a ir mais vezes para a chácara dos meus avós, adorávamos andar a cavalo e transar na cabana do lago. Esse se tornou o nosso cantinho, meu avô fazia graça dizendo que agora era espaço proibido para menores, ou mais velhos, por isso colocou uma mesa bem mais resistente, caso apareça algum bicho que me faça pular em cima dela no desespero.

— Sabia que às vezes tenho ciúme desse gato?

Nando se arrepiou todinho quando Fernando se juntou a nós, ergueu a patinha e bateu no braço do Fernando fazendo um barulho estranho antes de pular para longe. Eu estava muito apaixonada por ele, Nando percebia isso com seu sentido de gato e ficava meio bravo. Fernando era meu primeiro pensamento ao acordar e o último antes de eu ir dormir, mesmo que estivesse agarrado a minha cintura enquanto deitávamos de conchinha. Eu abriria mão de qualquer coisa para estar com ele, porque o mundo era muito mais bonito com ele por perto. Apesar de meu gato discordar disso.

— Ele morre de ciúme de você.

— Está pronta?

— Sim, vou pegar a minha bolsa e podemos ir.

Quando voltei, Fernando estava alisando a cabeça do Nando, franzi o cenho e encostei o ombro na parede observando os dois. Fernando ergueu os olhos para mim e sorriu fazendo meu coração disparar.

— Eu disse, ele só me destrata quando você está por perto, esse gato é duas caras. Fingido que só.

— Olha, vou ter que concordar. Vamos?

Ele se levantou, segurou a minha cintura e seus lábios pousaram sobre os meus, eu deslizei meus dedos por seus ombros musculosos.

— Se quiser desistir de sair...

— Não me tente.

Ele sorriu, segurou a minha mão e saímos.

Minutos depois estávamos jantando com meu pai e a namorada dele, minha melhor amiga. Era muito estranho, mas estava feliz que finalmente os dois pareciam ter se entendido. Júlia deu um trabalhão para ele, pois segundo ela, meu pai só a tinha pedido em namoro porque eu havia pedido, e Saulo só fazia o que eu queria, se eu fosse contra, certamente ele não iria contra mim e os dois jamais ficariam juntos, pois ele jamais me desagrada. Talvez ele não tenha demonstrado o quanto gostava dela da maneira certa. Júlia fez meu pai sofrer um bocado até finalmente ceder.

Quebrando promessas? - DegustaçãoWhere stories live. Discover now