Capítulo 18

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— Noiva? Do príncipe? Como isso aconteceu?

— Acontecendo. Ele pediu minha mão e estamos noivos — respondi dando de ombros.

Meu irmão não estava engolindo aquela história muito bem. Era verdade que ele não tinha vindo me questionar logo após o pedido, graças às obrigações dele e à mudança que fizeram de meu quarto para outra ala, longe das outras peças.

O quarto era maior e muito mais bonito que o anterior. Em vez de uma, tinham duas portas para uma varanda ainda maior que a anterior, assim como o espelho, o banheiro e todo o resto. Eu havia ganhado roupas novas, nada de azul, e como eu já não era uma peça, por algum motivo aleatório as outras foram automaticamente desconvidadas da festa de aniversário de Liam, por "motivos internos dos jogos".

Mateus veio à minha procura assim que conseguiu arranjar um tempo, depois que a notícia se espalhou. Estávamos ali, sentados no chão da varanda, enquanto eu tentava convencer meu próprio irmão de que estava tudo bem, quando era mais que óbvio que isso era mentira.

— Ele é legal. Ele me trata bem e isso vai mudar as coisas lá em casa — expliquei, mas não foi suficiente para tirar do olhar de Mateus aquela pergunta que não parava de martelar dentro de minha cabeça.

Quem eu queria convencer? Ele ou a mim mesma?

— E é por isso que você vai casar com ele? Pela titia e nossos primos? E você como fica?

— Serei princesa e morarei num palácio. O que mais posso querer?

— Que tal, ser feliz? É o que geralmente as pessoas querem, sabia? E você não parece muito feliz para mim.

— Você abriu mão de se casar com aquela garota que você gostava para se alistar no exército por nós. Não está numa posição muito boa para puxar minha orelha, Mateus — reclamei me levantando e indo em direção ao parapeito. — E não é como se eu gostasse de outra pessoa. Então que mal tem?

Daquela posição eu podia ver os funcionários do palácio arrumando a área ao ar livre destinada especificamente para festas. Estruturas de ferro eram carregadas de um lado para o outro enquanto ordens eram dadas.

— Fiz o que fiz para poupar vocês, mas você não precisa fazer o mesmo. Esse noivado... isso não me cheira bem — disse passando um de seus braços pelo meu ombro.

Minha vontade era mandar que ele se calasse, pelo simples motivo de não querer ouvir dele as mesmas coisas que eu me dizia a todo instante. Eu odiava estar com raiva de meu irmão por algo que não tinha nada a ver com ele.

Felicidade. Desde quando eu poderia sonhar com felicidade? Eu ia ser de Branco se não viesse para cá e, talvez, mesmo com o dinheiro que supostamente eu ganhasse nos jogos, eu poderia não conseguir quitar as dívidas da casa. Casando com Thomas eu poderia cuidar de minha família, ter um lar e um bom marido que prometeu ser o melhor que pudesse ser, mas claro que Mateus não sabia dessas coisas. A impressão que tive foi de que ele esqueceu o que é viver no gueto. Casar por amor era um luxo que nunca pude me dar. Precisava casar com alguém que pudesse colocar comida na mesa e um teto sobre nossas cabeças. Thomas era capaz de me dar muito mais que isso. Então por que meu irmão não podia ver isso? Por que eu não me sentia bem com minha decisão?

Eu sabia um dos motivos e ele tinha nome: Victória. Casar com Thomas acabava com todos meus problemas, mas roubava os sonhos de uma das duas únicas amigas. Mas que escolha eu tinha? Eu podia casar com ele, ou então poderia enfrentar o pelotão de fuzilamento por trair a coroa.

Ele faria isso? Eles me mataram mesmo por dizer não? A raiva tomou conta de mim quando me lembrei de quem era a culpa de tudo aquilo. Se Liam não tivesse me escolhido e me obrigado a isso, eu não estaria nessa situação. Ele salvou a mim e a minha família, mas fez com que eu fizesse papel de vaca.

Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da AscensãoWhere stories live. Discover now