Conto

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Certa vez, no consultório de Freud, chegou um paciente com uma série de perturbações.

- Doutor, eu sonhei que era uma mula!

Sabiamente, o grande pai da psicanálise, Sigmund Freud, analisou seu relato e ponderou:

- Você tem um desejo reprimido de fazer sexo com sua mãe.

- E como posso curar isso?

- Faça sexo com várias mulheres até esquecer a sua mãe, ou transe com ela!

- É só isso?

- Precisamente.

- Obrigado, doutor! O senhor é mesmo um gênio!

- Não esqueça de pagar a consulta com a minha secretária.

- Pode deixar!

Poucos minutos depois, chega outro paciente. Uma mulher, jovem, com um grande vestido. Ela relata uma série de pesadelos, envolvendo morte, confisca de bens, um homem sonhando em fazer o seu país grande, a França reagindo, o mundo imerso em caos. Freud observa sua fisionomia, conforme ela destaca seus problemas, e lhe diz:

- Você tem desejo reprimido de transar com o seu pai.

- Mas como? Eu sou decente para ter tais desejos!

- Isso é inconsciente, você pode ser uma duquesa, mas sofre desse desejo. É um mal que aflora no nascimento.

- E como posso me livrar desse tormento, doutor?

- Basta transar com o seu pai, ou com um marido, várias vezes, sem parar, até seu desejo ficar satisfeito. Porém, deve fazer isso todos os dias da sua vida, assim seus hormônios não deixarão que seus desejos desabrochem.

- Obrigada, doutor! O senhor é mesmo incrível! Não me admiro da sua reputação tão nobre!

- De nada, m'lady! Fiz apenas o meu trabalho!

Saindo a mulher, mais uma série de clientes vão se consultar com o pai da psicanálise. Muitos pacientes, agenda lotada, um grande dia para um grande homem. Então surge o luar, para anunciar que a rotina diária está a se encerrar, um cumprimento final para a secretária e o grande homem está a caminhar em direção ao seu lar.

No dia seguinte, mais uma serie de pacientes, todos com um x em comum: o desejo interno de esposar a mãe ou ser esposada pelo pai. Motivado pela curiosidade, o grande Freud decide ler obras literárias, pensando que, de certa forma, existam registros desses desejos profanos em nossa sociedade, e Freud lê Édipo Rei.

Em Édipo, ele tem a oportunidade de conhecer um homem que foge de sua terra, pois está amaldiçoado a matar o pai e esposar a mãe, e que mata o pai no caminho, sem saber, vai para Tebas, livra Tebas da maldição e esposa a mãe. Tem uma prole maldita e sofre com um destino que ele não pode escapar.

Após essa noite inteira em claro, lendo Édipo Rei, no dia seguinte Freud deixa sua clínica fechada, formando a teoria de que o desejo inconsciente de esposar a mãe e o desejo de ser esposada pelo pai são coisas naturais da espécie humana, que foram repudiadas ao longo do tempo e que, de fato, a falta de sexo e as tensões do cotidiano fazem esses impulsos primitivos desabrocharem, mostrando o lado animal do ser humano.

No próximo dia, com sua tese em ordem, ele atende aos seus pacientes, explicando que isso vem dos nossos impulsos mais primitivos, e que isso é algo natural e ninguém deveria ter vergonha.

Seus pacientes saiam de seu consultório extremamente aliviados para consigo mesmos, sem sentirem-se depreciados ou enxergarem a si mesmos como monstros, escórias da sociedade. Mesmo o próprio prefeito da cidade recebe essa boa notícia de Freud, em uma conversa informal, e decide realizar um evento popular, no qual ele pede para os cidadãos realizarem seus desejos em via pública, para acabar com os estigmas impostos pela sociedade.

Com a presença de Freud, alguns dias após essa descoberta, o evento ocorre, um verdadeiro bacanal, cheio dos maiores incestos que poderiam ocorrer, com o total consentimento dos cônjuges, e Freud observou o povo realizando seus atos sexuais, observou, começou a coçar o seu queixo, e a tossir muito. Freud, o grande pai da psicanálise, desfalece.

No hospital, ele se recupera desse mal que o atormenta, e requisita, urgentemente, um pronunciamento público, que é agendado para o dia seguinte.

Com fortes dores, um olhar lacrimejado, ele fala, em praça pública, perante todos da cidade:

- Peço perdão por todos que cometeram incesto com seu pai ou sua mãe, a culpa é toda minha. Observando-os no auge de suas orgias, percebi que não são vocês os que sentiam esse desejo nojento, mas eu, quem sempre desejei esposar a minha mãe, porém, por vaidade minha, não reconheci o meu erro, e através de um mecanismo de defesa psicológico do homem, chamado de projeção, que diz que o ser humano transfere sua cólera, ou seu sentimento de desagrado a outro menos perigoso, eu transferi minha frustração de meu desejo irrealizado para vós. Peço humildemente perdão pelo meu ato.

Bocas abertas, dor, arrependimento, fúria, olhares de ódio, lágrimas, sofrimento. Ira. Ira para com aquele chamado de gênio. Ira, para aquele excêntrico, o qual manchou a integridade humana. Ira. Ira e dor.

Mateus Santana Corrêa.

27/06/2015

Nota: dedico esse conto em homenagem a Freud, o pai da psicanálise, fazendo uma brincadeira com uma de suas conclusões acerca do complexo de Édipo, para gerar humor.

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⏰ Last updated: Jan 29, 2016 ⏰

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Loucuras de um psicólogoWhere stories live. Discover now