Apenas Saia Da Bolha

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Paredes lilases.

Duas camas.

Um enorme guarda-roupa.

Uma cômoda.

Dois criados-mudo.

Uma escrivaninha.

Um computador não muito moderno.

Cortinas Coloridas.

Um tapete igualmente colorido.

Uma pequena estante abarrotada de livros, CDs e troféus.

Um mural sem um único centímetro livre.

Pôsteres de bandas desconhecidas ou semi desconhecidas em uma parede.

Desenhos de roupas em outra.

Vestidos e maquiagem deixados à própria sorte sobre uma colcha de retalhos.

Uma echarpe azul-Tiffany caída sobre o piso de porcelana.

Sapatos prata de salto alto.

Um vestido azul-Tiffany, sem mangas, longo, de decote redondo, saia justa e fenda na lateral esquerda.

Maquiagem borrada.

Uma menina de dezoito anos.

Toda uma vida destruída.

Essa era Eleonor Mary Cross no que deveria ser a noite mais perfeita da sua vida - até  ali.

Metade da barra de chocolate já havia sido devorada pela menina que nunca havia se sentindo tão sozinha, nem mesmo a sua infância era tão solitária, pois ela sabia que o pai sempre estaria lá. Ali encarando o quarto silencioso ela também sabia que ele estava a distância de uma ligação, mas naquele momento não era do colo do seu pai que ela precisava.

Duas horas haviam se passado desde que ela saíra correndo da festa e ninguém havia ido ao seu encontro.

Ignorando sua dieta mordeu mais um pedaço do chocolate ao leite, na manhã seguinte teria que dobrar o tempo de corrida e passar alguns dias comendo apenas legumes, só então aquele pecado que ela devorava seria perdoado.

Alguém já deveria estar ali.

Faltava apenas dois quadradinhos para ela terminar a barra de chocolate e ela continuava se iludindo, sobre  logo irem até ali e dizerem que ela estava certa, que eles haviam errado e ela continua sendo amiga deles.

Será que ela havia se tornado invisível? Não, ela não conseguiria ser invisível mesmo que quisesse, afinal,  era enormemente gorda, Antonia havia lembrado isso naquela noite e a droga do vestido azul que ela mesma havia desenhado comprovava.

G-O-R-D-A.

Antes daquele dia de merda ela via no espelho uma garota deslumbrante - sorriso perfeito, cabelo perfeito, roupa perfeita (mesmo sendo 44) - e adorada, agora, no presente, ela era uma fracassada.

Ontem ela era outra garota, não que em vinte e quatro horas ela tivesse mudado fisicamente, porém, ontem ela ainda conseguia se convencer que tinha apenas ossos largos e não gordura acumulada.

Agora ela entendia que nunca caberia no lindo e impressionante vestido salmão 38 que Maria havia lhe dado há dois meses.

Ela nunca caberia na droga daquele vestido e em nenhum outro que não fosse quarenta e quatro .

Q-U-A-R-E-N-T-A-E-Q-U-A-T-R-O!

Os outros chocolates sobre o criado mudo pareciam tão tentadores, tão gostosos.

CHOCOLATE  e outros contos Where stories live. Discover now