Capítulo Quatro

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Amelin olhou ao seu redor, incrédula. Estava encantada e assustada ao mesmo tempo, sem compreender como foi que chegaram até aquele lugar. Ela admirou a paisagem e pensou que estava dentro de um vilarejo de algum livro medieval. "Isso é real?", perguntou-se. "Devo estar sonhando."

— Amelin? Está tudo bem? Você está pálida – disse Félix, enquanto parava a carruagem na frente de uma fortaleza de muros altos e agredidos pelo tempo, mostrando que estavam ali há alguns milênios.

— Está sim. Eu estava pensando mais do que eu deveria, só isso.

— Você está se sentindo bem? Precisa de água?

— Estou bem, Félix. Não precisa se preocupar.

— Preciso sim, senhorita. Esse é o meu dever. – Félix ajudou-a a descer da carruagem.

– Sua Alteza, seja bem vinda a Fortaleza de Hammerlock. Vamos até o castelo, mas antes, vou lhe mostrar um pouco da vila.

Félix adentrou a fortaleza e Amelin, saindo do transe, por ver algo tão monumental, o seguiu.

— Aqui, princesa – disse Félix, apontando para sua esquerda. — É o quartel da cidade, onde são treinados os melhores soldados do reino. – Era uma construção alta, em dois andares, de pedra e madeira, como tudo na vila. Uma porta dupla com o brasão do reino dava entrada ao quartel, de onde alguns guardas saiam e outros entravam. Pelo visto era a troca de turnos. Eles seguiram mais adiante e Amelin pôde ver algumas casas simples, com telhados em formato de V, feitas de madeira e palha. Algumas com um cercadinho para animais, outras com fumaça saindo das chaminés. Por onde passavam, todos saudavam, com lágrimas nos olhos. Amelin estava um pouco assustada com toda aquela atenção, mas deveria se acostumar, afinal, era a princesa de Hammerlock. Ela estava pensativa e encantada, perdida em devaneios, mas logo foi trazida à realidade novamente, por seu guia turístico, ou melhor, Félix.

— Ali, senhorita Amelin, se encontra a melhor ferreira do reino, Lilyana, da Ilha dos Ursos. Ela é filha de Mormont Urso Negro, o melhor guerreiro e ferreiro que esse reino já viu. Ele ajudou a fundar essa vila, e agora, sua filha toma conta da sua loja, e da sua forja.

Amelin viu uma mulher de pele morena, alta e com o corpo definido. Vestia roupas grossas de couro, e um avental vermelho, sujo de fuligem. Em sua mão tinha um martelo, que dava três cabeças dela e aparentava ser bem pesado. A ferreira estava apoiada na bigorna, e, ao seu lado, uma fornalha incandescente crepitava enquanto aquecia uma forma de barro. Deveria estar fazendo alguma encomenda.

— Lá – disse Félix, apontando mais adiante, na direção de uma multidão que andava e conversava – é a praça central e mercado da vila. Vamos princesa, precisamos ir mais rápido. Amelin mal tinha tempo de se deslumbrar com uma construção, pois logo outra ainda mais deslumbrante aparecia. Eles avançaram até o mercado e Amelin pode ver várias bancas, com os mais diversos produtos, de comida a roupas, passando por joias e armas, sendo vendidos. Ao fundo, Amelin pôde ver uma construção um pouco mais elaborada, com duas portas duplas separadas por uma coluna e uma placa de madeira ornamentada onde se lia "Taverna e hospedagem O Aadvark Bêbado". De lá, se ouvia a animação de quem bebia e de quem tocava, era um local de alegria. Amelin fez uma expressão de indagação ao ler o nome, então, Félix resolveu explicar a origem dele.

Antes de a vila existir, o primeiro dono da taverna era um caçador e ele ensinou a arte da caça para o seu filho. O filho dele era um pouco abobado e não gostava muito de tomar banho. Em um dia qualquer, ele tava caçando e um aardvark, um mamífero de origem africana, entrou na bolsa de caça dele, porque o animal sente atração por lugares fedidos. Quando o filho do dono da taverna chegou à estalagem, ele viu o animal na bolsa, e o animal em vez de correr dele, como todos faziam, acabou dormindo em seu colo e eles ficaram amigos. Um dia, o caçador estava bebendo na taverna e desafiou o pai para um tiro ao alvo. Como ele estava bêbado, acabou acertando o aardvark. Como homenagem, o nome da taverna ficou como "O Aardvark bêbado". Félix lhe disse que todos em Hammerlock conheciam essa história, que fora contada de geração em geração.

Amelin achou a história muito engraçada e não parava de rir ao imaginar as cenas. Por fim, Félix apresentou, de passagem, a pequena e simples capela da vila principal.

Chegaram ao bairro residencial. Muitas casas ali se estendiam pelas pequenas vielas. Não havia muito o que ver ali. Foram caminhando e já era possível ver as escadarias que levavam ao castelo, que ficava no alto da colina Lecce. No meio do arvoredo, o castelo se erguia alto e imponente O edifício principal do castelo, construído com pedras brancas, constituía-se de três andares, possuindo três torres elevadas e duas fileiras, que também formavam torres menores. A principal beleza do castelo estava no desnivelamento das torres. O corpo central do castelo era um edifício de pedras avermelhadas, com um portal magnífico que dava para um terraço, onde havia uma última torre. Da sua torre mais alta podia-se ter uma visão geral do reino. Ao fundo, as montanhas de gelo completavam a visão magnífica da área, fazendo com que Amelin não deixasse de deslumbrá-lo.

A exuberante construção fazia sombra nas casas mais bem construídas que se depositavam aos seus pés. Logo, vários soldados vieram acompanhar a princesa pela subida até o local que era seu por direito. Amelin deu uma última olhada na vila que se estendia embaixo. As casas, as lojas, as pessoas, o reino: tudo aquilo era muito novo para ela, ela estava assustada, mas ansiosa, uma vida nova a esperava, e ela não sabia o que estava por vir.

Félix seguia logo atrás da princesa. Na frente, os guardas a escoltavam para dentro do palácio. Um dos guardas abriu as majestosas portas de entrada do castelo e fez um gesto com as mãos para que Amelin entrasse.

O salão principal do palácio era deslumbrante e era muito luxuoso. Ao centro, pendurado no teto, estava um colossal candelabro de cristal, com detalhes em ouro maciço, e os pendentes caindo em formato de cascata. Algumas poltronas estavam espalhadas por todo o recinto, com um sofá espaçoso no lado superior direito, em frente a uma aconchegante lareira. Havia quadros decorando todo o ambiente e um grandioso espelho estava entreposto na parede superior esquerda. Logo à frente, uma suntuosa escada de mármore branco levava para o resto dos cômodos do castelo. Descendo por ela, uma figura feminina apareceu para recepcionar Amelin e Félix.

— É um prazer recebê-la, vossa Alteza. Eu sou Clariandra, uma das criadas reais do castelo – Ela fez uma reverência. – A rainha está a sua espera. Por favor, me acompanhe.

Illuminata NaturaeWhere stories live. Discover now