➸ 01.

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Grace tentou fazer a expressão mais inocente que conseguiu, examinando o próprio reflexo no espelho do banheiro escolar. Então suspirou, tapando o rosto com as mãos.

Morta. Ela estava literalmente morta.

Ser expulsa do St. Louis por arruinar um dos banheiros masculinos e talvez quebrar o braço de um dos seus colegas era a gota d'água de uma longa lista de incidentes que pareciam ansiosos para fazer da sua vida miserável, a chutando para um futuro arruinado. Não havia para onde escapar, não importava quantas vezes ela dissesse que era inocente.

O reflexo da sua indesejada companhia reapareceu logo atrás dela e Grace fechou a cara, se virando para ele.

— Isso aqui é culpa sua — Acusou.

— Você desejou isso. Eu ouvi — O homem baixinho de roupa militar empoeirada retrucou. As muitas medalhas presas ao seu uniforme indicavam que ele merecia (tecnicamente) algum respeito, mas a garota estava se lixando para formalidades — Por que não para de choramingar como uma desistente? Nós vencemos essa batalha.

Vencemos? Grace grunhiu para ele, indignada. Ela não sabia dizer se preferia aceitar o fato de estar enlouquecendo por falar com alguém que estava morto ou com a ideia de ter a sua vida arruinada por alguém que já havia arruinado a vida de milhões de pessoas. Literalmente.

— Quando eu disse que queria que um exército afogasse Jason na privada, não estava falando sério — Ela explicou com irritação — Não te ensinaram o que era figura de linguagem na escola de como arruinar o planeta com guerras que literalmente ninguém pediu?

O homenzinho cruzou os braços, com expressão de desdém. Eu te ajudo e ganho esse tipo de agradecimento, seus olhos fantasmagóricos diziam.

— Grace? — Heitor chamou e no mesmo instante o homenzinho desapareceu do banheiro, como se nunca tivesse sequer estado lá. A garota por sua vez, se virou para o melhor amigo, assustada com a entrada repentina.

— Garotos não entram no banheiro feminino — Ela avisou, conferindo o espaço de forma neurótica com os olhos, temendo ver algum outro fantasma novamente.

— É, vou me lembrar disso no seu velório, depois que a sua mãe te estrangular até a morte — Heitor retrucou com sarcasmo, colocando as mãos nos bolsos da calça jeans — Que diabos te deu para acertar Jason? Ele foi da enfermaria escolar direto para o hospital. Quebrou um braço, Grace. A mãe dele é maluca e vai berrar ameaças ao diretor até os neurônios de todos explodirem e...

Grace se desconectou da fala desenfreada do amigo, nervosa. Okay, ela havia mesmo machucado Jason. Mas na verdade, não. Tudo o que havia feito era sussurrar uma ameaça na porta do banheiro masculino, já que sequer tinha coragem de revidar qualquer coisa em voz alta. Depois, um estrondo foi ouvido, misturado ao som de sirenes e rádios (essa parte ela iria tratar de não citar na sua tentativa de implorar por perdão) e então, um grito de Jason. Mas ela sequer havia entrado no banheiro. Ou tocado no colega.

Mas Jason tinha testemunhas. Quatro amigos que juravam ter visto Grace entrar ali e lançá-lo em uma das cabines, iniciando uma briga épica, o que era ridículo, uma vez que ela era fraca demais para sequer bater de frente com o capitão do time de futebol. Quanto mais agredi-lo.

— Eu sairia do colégio de qualquer jeito — Grace disse baixinho, se rendendo ao desânimo — Jason convenceu o treinador de que um time misto atrapalharia o desempenho do time no campeonato. Eu só tenho a bolsa porque sou parte dele, Heitor. E agora eu estou fora. Você sabe que eu não tenho grana para as mensalidades. Acabou para mim.

— Mas a sua saída seria menos humilhante se não constasse agressão na lista de motivos para você ir embora — O garoto argumentou, pensativo. Mas então pareceu perceber o erro porque pigarreou, sem graça — Mas bater no insuportável do Jason te fez uma lenda. Todos se lembrarão de você.

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⏰ Last updated: Mar 25 ⏰

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