O anoitecer já ensaiava a chegada enquanto nós voltávamos de viagem, descendo a montanha em direção à cidade. A estrada estava praticamente vazia. Nossos amigos estavam no carro da frente e poucos veículos passavam por nós.
Senti a mão de Matt tocar minha coxa esquerda. Eu o fitei enquanto ele prestava atenção na estrada. Olhá-lo dirigindo era delicioso demais, toda a concentração dele era acompanhada a um toque de serenidade que eu admirava.
Matt sempre gostou de estradas e de toda a liberdade que elas davam. E eu? Sempre as odiei. Tenho pavor. Sempre tive a impressão de que algo poderia acontecer no meio da viagem e não ter para onde ir, nem o que fazer ou alguém para me socorrer. Era lindo ver o horizonte, mas não havia mais nada ali além da própria estrada. E isso me assustava, principalmente quando se dirigia à noite.
—Matt? Não é estranho esses carros passarem por nós em alta velocidade e depois desaparecerem? — Perguntei, após notar que três carros haviam passado por nós e desaparecerem em questão de segundos.
Uma hora estávamos sozinhos. Logo um carro aparecia e, segundos depois, éramos apenas nós e o carro dos nossos amigos novamente na estrada escura.
—O que? Não, o que há de estranho nisso, Beck? Eles estão correndo, é normal sumirem no horizonte.
— Pode ser... — respondi indiferente, ainda mantendo a questão em mente.
— Hey, não se preocupe, anjo. Logo estaremos em casa.
Matt tentou me confortar ao perceber minha preocupação.
O carro deu um tranco para trás quando ele mudou de marcha e aumentou a velocidade.
— Por que eles estão correndo? — Indagou Matt com certo receio.
— Eu não sei. Por que você está correndo? — Questionei.
O telefone tocou.
— Alô? — Matt atendeu ao telefone com uma das mãos.
—Matt, me dá esse telefone aqui — solicitei, enquanto tentava pegá-lo da mão dele sem sucesso.
— Como assim cara? Eu estou logo atrás de você — ele afirmou.
"Não cara, eu não estou te vendo. Para onde você foi?"
Escutei Allan pelo viva-voz.
— Allan? Estamos te vendo, olha para trás.
"Matt, cara, aparece. Eu não sei o caminho, seu veado. Não tem ninguém atrás de mim."
Encarei Matt assustada.
— Ele não está vendo a gente? Mas ele está logo ali na frente.
O telefone ficou mudo por um tempo, chiados apareceram. Não dava para escutar a voz de Allan direito.
" Matt... sa... Na... trada..."
" Aaaaaaah"
— Matt, eles ainda estão ali? O que está acontecendo?
O carro da frente acelerou e desapareceu.
— Maaatt, cadê eles? — Meu desespero já era aparente, estávamos sozinhos. O que estava acontecendo?
— Eu não sei — ele respondeu confuso.
Matt acelerava o carro com certo desespero, a feição era tensa apesar de ele tentar demonstrar uma calma inexistente.
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Roadville
Short StoryA estrada se torna verdadeiramente assustadora à noite. Um fenômeno inexplicável afeta os carros que passam pelo local e vultos e silhuetas humanas aparecem à beira da estrada. Beck e os amigos voltavam de uma viagem tranquila, mas ao final da últi...