O Jardim Da Srta Kin

A rua de cima

Quando a bola caia dentro do pátio dela, as crianças se entre olhavam, caladas por uns segundos até que a primeira falasse: -Parabéns, conseguiu terminar com o jogo! O muro com tantos cacos de vidro afundados no cimento seco impedia as novas tentativas de pularem. Desde a última vez em que estabelecemos a regra de que quem pegaria a bola seria quem jogou dentro do pátio da velha, e Emily conseguiu um talho na palma mão direita que lhe rendeu 8 pontos e um longo castigo sem brincar na rua de baixo, ninguém mais tentou pular o muro. Lá se foi mais uma bola...
Se a rua do morro não fosse tão íngreme, poderíamos jogar nela e seria impossível a bola cair no jardim da Srta kin. Mas ter de correr lomba abaixo pra alcançar a bola antes que role toda a rua era um tanto cansativo, principalmente depois que a mãe de Emily a obrigou a trazer seu irmão mais novo junto a cada vez que fosse nos encontrar. O menino de 7 anos derrubava a bola na lomba o tempo todo. Começarmos a mandar ele mesmo buscar a bola na lomba cada vez que jogava, mas percebemos que isso demorava mais do que um dos maiores buscar. O jeito era jogar na rua da Srta Kin e torcer para o jogo durar pelo menos uma tarde.
Morar na rua de cima não era nada de tão divertido, mas ainda assim, era melhor do que as outras ruas do bairro, pois era a rua onde tinham mais moradores com filhos ou filhas mais ou menos da minha idade. A Shaen morava com a avó, e a menos que gritasse ou quebrasse um vidro, ou algo mais sério, ela sempre podia brincar na rua. Emily era mais legal antes de ter de trazer seu irmão estúpido e fofoqueiro todos os dias junto, pois antes ela falava bem mais, e não tinha que ficar controlando as palavras e atitudes.
Bem, o Iker era sempre quieto, e nunca ficava de castigo, então, um ótimo companheiro. Sua irmã gêmea Raika quase nunca saía pra rua, só ficava dentro do quarto com seus livros e papéis de carta. Apesar de gêmeos, eles não pareciam nem irmãos. Iker era magro, pequeno, e quieto. Raika era falante, mas apenas quando não estava em cima dos livros, o que era muito raro.