Capítulo Único

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  Nós nunca esperamos que alguém especial apareça em nossas vidas, muito menos de repente.

   Eu também não esperava que ele aparecesse literalmente entrando pela porta da frente.

   Estava sentado no balcão de um bar o qual costumava frequentar todas as sextas-feiras, bebendo como se pudesse fazer com que todos os meus problemas desaparecessem a cada gole de álcool, como se meu pai fosse parar de bater em minha mãe e minha irmã caso eu ficasse bêbado.

   Foi naquele dia em que a porta de entrada se abriu, como de costume, porém daquela vez, um desejo estranho de observar quem entrava se apossou de mim. Assim, virei o rosto apenas o suficiente para olhar.

   Um garoto aparentemente da mesma idade que eu, se não mais novo, entrava no bar, parecendo determinado em seja lá o que fosse fazer ali, e eu pensei que seria bom ser assim, ter certeza do que fazer e quando fazer.

   O garoto acabou sentando-se ao meu lado no balcão, olhando-me por alguns segundos antes de sorrir e pedir algo ao barman.

  — Boa noite. - desejou-me.

   Lembro de encará-lo com certa irritação. Estava bebendo, com cara de quem odeia a vida mais do que qualquer coisa, e ele desejava-me uma boa noite?

   — Não se diz isso à alguém que gostaria de se afogar no copo de whisky. - respondi, mau humorado, roçando os nós dos dedos pela beirada do copo, contornando-o.

   — Pelo contrário. Acredito que pessoas com problemas são as que mais precisam de desejos simples como esse.

   Encarei-o sem palavras. Aquela fora a primeira vez que alguém conseguiu deixar-me sem respostas pessimistas e mau humoradas.

   Ele tomou apenas um copo de vodka, no completo silêncio, então virou-se para mim e disse apenas um nome. "Kim Kibum".

   Naquele dia eu não fazia ideia de que passaria a encontrar com Kibum todas as sextas-feiras antes de ir para casa. Também não imaginava que iria contar-lhe toda a minha vida, e que ele me contaria a dele.

   Nunca cheguei a de fato me interessar pelos problemas alheios, acreditando sempre que os meus já eram suficientes, mas desde que Kibum começou a se abrir comigo, passei a procurar soluções para os problemas dele mais do que para os meus próprios.

   De repente, Kibum e eu éramos como melhores amigos.

   Passamos a sair nos finais de semana, e nos encontrarmos algumas vezes durante a mesma. Os problemas não eram mais os assuntos principais, e ficavam de canto quando estávamos juntos. Descobri que ele era mais novo, e sua família morava na Inglaterra, mas ele preferia construir a vida no país de origem. As coisas em minha vida passaram a melhorar com a ajuda dele, meu pai finalmente tinha sido preso, e minha mãe e minha irmã recuperavam-se do trauma.

   Certo dia, levei Kibum para conhecê-las, já que estavam curiosas sobre quem havia me mudado tanto em tão pouco tempo. Quem tinha me tirado do fundo do poço, de uma depressão que já me assolava durante dois anos, e trazido-me de volta a vida.

   — Bom dia, Jonghyun. - foi a primeira coisa que me disse quando abri a porta de casa.

   Sorri para ele, puxando-o pela mão para dentro e fechando a porta. Tirei o cachecol rosa bebê de seu pescoço e pendurei-o no cabideiro do hall de entrada. Kibum tinha um gosto peculiar para roupas, e eu achava incrível como ele ficava bem nelas.

   — Bom dia, Key. - respondi, usando o apelido que tinha lhe dado.

   — E pensar que há um tempo atrás você não sabia nem o significado da palavra "bom". - piscou para mim, o orgulho perceptível em sua voz.

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