Capítulo 35: Mirian

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AGENTES NADA ESPECIAIS


...esvai.

É o primeiro pensamento que tenho ao abrir os olhos, sentindo como se todo o meu corpo fosse feito de névoa. O teto sobre mim é de um vidro grosso e inquebrável. O mesmo se repete em torno quando mexo o pescoço — o que causa uma baita dor de cabeça, inclusive.

Chiando, sento-me e uma exclamação quase faz meus tímpanos estourarem:

— Mirian! — Viro-me para Lya, do outro lado do vidro, as mãos apoiadas no vidro, como Eric fez ao esperar que eu repetisse o gesto. — Como você está? O que aconteceu?

Gente, desde quando a ruiva faz tantas perguntas?

— Primeiramente, oi — sussurro. Inspiro com força, minha mente voltando a se reordenar. A dor ainda está aqui, mas pelo menos está diminuindo. — Eu tô bem, na medida do possível, e não tenho certeza do que aconteceu.

— Como não? Oh, espera, fizeram lavagem cerebral em você?

— Quê? Não... se bem que uma seria bem-vinda — suspiro. — Eu vi Eric e Maxwell.

Lya pisca mais que o necessário e me encara como se eu estivesse louca.

Talvez eu esteja mesmo.

— Onde? — sua voz soa quase desesperada, mas há algo mais, há raiva. — Eles estão aqui?

— Se eu não tiver viajado na maionese, estão em outro laboratório como esse. E também descobri umas coisinhas que farão você cair de costas.

— Nada me faz cair de costas — retruca, fazendo-me sorrir.

Ainda um pouco confusa, pergunto para Lya quanto tempo fiquei desacordada e ela me conta que desde que Samuel me trouxe, pela manhã. Segundo a última visita de um enfermeiro, há cerca de uma hora, já está noite — o que me leva ao fato de que estive desmaiada o dia todo. A última coisa que lembro é de estar falando com James, me despedir de Eric e puff, adeus consciência. Eu achei que estava morrendo. Talvez eu quisesse estar. Mas a realidade é outra e não sei se sou capaz de lidar com ela, de lidar com meus poderes incontroláveis. O que está acontecendo comigo?

Ok, Mirian, não se desespere, você já estava ciente de que as coisas estavam estranhas antes. Apenas adicione uma coisinha a mais nessa mistura, ok? Ok.

— Eu estou com medo, Lya — solto de súbito, assustando-a. Ela se escora no vidro, fitando-me de esguelha. — Se eu não estiver doida e eu conversei com James...

— Espera, você falou com ele?

Assinto com um movimento sutil de cabeça.

— Durante meu teste eu projetei minha imagem consciente e não consegui mais voltar pro meu corpo. Então fui atrás dele, achando que estava prestes a morrer. Ele me contou algumas coisas, não sei quanto disso é verdade, mas... — viro-me para encará-la — se forem reais, ele sabe tudo sobre nós, sobre a sociedade. Nós não temos como escapar de suas garras.

— Mirian, eu não sei o que ele te contou, mas não podemos desistir! — exclama. — Nós viemos até aqui, nunca é tarde para continuar tentando.

— Eu tô com medo, Lya, pela primeira vez!

— Eu não entendo...

— EU QUASE MORRI! — grito, descontrolada.

A ruiva se espanta e se silencia.

Ergo-me, caminhando até o outro lado da cela. Apoio as mãos no vidro, os braços esticados, cabeça baixa. O rosto mergulhado entre os fios encaracolados. Inspiro fundo, forçando minha razão e emoção a se colocarem em seus devidos lugares. Ok, Mirian, você está surtando, relaxa. Talvez Lya esteja certa, nunca é tarde para continuar tentando, mas como saber se tudo isso que estamos fazendo ou o que iremos fazer não foi ou será premeditado?

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Where stories live. Discover now