Piloto

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Os passos apressados na direção do lobby do hospital podiam ser ouvidos de todos os lados, vindo de todas as direções e assustando os enfermeiros que abriam espaço no corredor imaginando que o pior tinha acontecido.

A troca de turnos deveria estar acontecendo naquele instante, mas ninguém havia deixado o hospital ainda: o código 911 piscando repetidamente em todos os pagers indicando que havia uma emergência no saguão fazia com que qualquer vestígio de sono ou estresse desaparecesse completamente com a possibilidade de ter algum problema esperando para ser resolvido com o máximo de urgência.

Ansel trombou com Kira no caminho e os dois se encararam com as testas franzidas como se estivessem se perguntando o que diabos tinha acontecido.

– Você também? – a mulher perguntou, vendo-o assentir em resposta. Voltaram a correr conscientes de que estavam atrasados, e pararam subitamente no momento em que viram a situação em que o lobby se encontrava.

Tudo estava perfeito. Nenhum sinal de trauma ou paciente desesperadamente necessitado de um otorrinolaringologista e uma cardiologista. A única coisa que parecia fora do lugar era... bem, tudo.

Cinquenta atendentes, cinquenta internos e duzentos e cinquenta residentes estavam reunidos ali, todos ofegantes pela corrida e com a mesma expressão de confusão e desentendimento. O que estavam fazendo ali? Não era possível que todos os cirurgiões do prédio estivessem reunidos... era?

– Mas que porra... – Greyson Underwood foi quem verbalizou as palavras que se repetiam incessantemente nas mentes de todo mundo ali, mas foi interrompido pela aparição da chefe de cirurgia na enorme escada de mármore no meio do saguão.

– Bom dia, Doutores, e provavelmente devo acrescentar um pedido de desculpas pelo pequeno susto com o chamado de emergência – Megara Ousborne se pôs a falar com sua postura perfeitamente adequada.

– Quem é a mulher ao lado dela? – Raymond perguntou a Dustin, que apenas deu de ombros com uma expressão de quem não fazia a menor ideia.

– ... e não é segredo para ninguém mais ou menos bem informado que existe muita coisa acontecendo nesse hospital ultimamente – continuou falando sem focar no rosto de ninguém em específico.

– Isso poderia ser sobre mim? – Eleanor perguntou num sussurro a Finn, levando uma das mãos às costas de forma cansada pela corrida que acabara de fazer.

– Eu preciso ser sincero ou preciso te acalmar? – Finn perguntou de volta sem tirar os olhos da Chefe, que continuava seu discurso.

– Nosso hospital não trabalha com represálias. Nós da Diretoria acreditamos que suas vidas pessoais não são da nossa conta contanto que estejam fazendo seus trabalhos direito. – Megara olhou severamente na direção da multidão de médicos.

– É sobre a gente – Isla sussurrou, levando um empurrão com o cotovelo direto na costela. – Outch!

Shhh, não temos como saber – Katerina respondeu fazendo uma careta.

– Eu realmente acho que pode ser sobre a gente – Reanna arregalou os olhos na direção das amigas, recebendo o olhar repreensivo de Kate.

– Mas o bem estar dos nossos médicos é de interesse do Conselho, da Administração e da Diretoria, e em uma reunião recente nós chegamos à conclusão de que vocês estão precisando de ajuda. – Fez uma pequena pausa respirando fundo. – Vocês têm dormido? Têm comido? Se divertido? Vocês passam entre oito a doze horas dos seus dias aqui dentro, talvez mais, e estão se parecendo cada dia mais com máquinas e cada dia menos como pessoas. Em uma pesquisa de opinião recente vocês disseram que não tinham tempo para procurar a ala psicológica e psiquiátrica ou que não tinham interesse em visitar a Doutora Mendez porque ela era um fóssil. – Assumiu uma careta de desaprovação e algumas risadas contidas foram ouvidas. – É por isso que estamos implantando uma nova política: a partir de hoje todos vocês terão que passar pela triagem da nossa nova psiquiatra responsável e ela vai definir se vocês irão ou não precisar de acompanhamento...

– Eu ouvi enfermeiras dizendo que a nossa coisa é loucura – Lilith murmurou para os quatro amigos que a encararam. – Vocês acham que isso pode ser culpa nossa? – indicou a Chefe com a cabeça e os encarou esperando respostas.

– Se existe algum motivo para as pessoas nesse prédio estarem enlouquecendo essa coisa se chama Alyssa Jepsen – Bowie retrucou, ouvindo algumas risadas baixas das pessoas ao redor que o ouviram. Sorriu também, encontrando um par de olhos azuis que fez com que seu sorriso morresse no mesmo instante e ele olhasse para o chão. Má ideia citar o sobrenome mais querido do hospital daquela forma.

– ... sem exceções, começando ainda hoje. Por favor, deem as boas vindas à Doutora Helena Yandell – Megara pediu, ouvindo cochichos começarem e serem abafados pelas palmas não muito animadas que se seguiram enquanto a mais velha dava espaço à novata para que ela se apresentasse.

Quer dizer, Helena Yandell?

A mulher era uma lenda, e conhecida por aparecer nos lugares quando eles estavam caóticos demais. Ela havia começado a trabalhar no atendimento pós trauma e agora trabalhava na prevenção deles.

Ela estar ali? Em Sacramento? Não era uma boa notícia.

– Bem, bom dia, Doutores. – Ela sorriu cordial e verdadeiramente animada enquanto encarava os rostos que a estudavam com receio. – Seria assustador se eu dissesse que sei tudo sobre vocês?

Megara Ousborne riu, vendo as pessoas se entreolharem encolhidas.

– Oi – Chris disse ao se juntar a Eleanor e Finn. – Nós estamos fodidos.

How to save a lifeWhere stories live. Discover now