Capítulo 1

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O ambiente a minha volta era desagradável, pelo menos para mim. O cheiro a tabaco preenchia o ar fazendo-me tossir, a musica excessivamente alto parecia rebentar-me os ouvidos e fazer-me tremer.

Encostei-me a uma parede próxima da saída tentando controlar o impulso infantil de tapar os ouvidos com as mãos, nunca pensei sentir-me tão descolada de um lugar como agora.

As pessoas a minha volta mexiam-se freneticamente, com os braços no ar, enquanto abanavam a cabeça e o corpo de forma descontrolada no que presumi ser dançar, enquanto eu tentava manter-me o mais quieta possível, acho que por momentos até contive a respiração, para que a minha presença não fosse notada.

O bar improvisado estava lotado, quase toda a gente tinha um copo na mão, e os copos vazios formavam um tapete colorido no chão.

-Elizabeth, estas aqui!

Dei um salto quando senti uma mão no meu ombro, estava tão preocupada em passar despercebida que me esqueci que não era invisível.

-Podes relembrar-me como raio me convenceste a fazer esta festa? – Perguntei encarando a Kate que rapidamente largou o meu ombro.

-Foi muito simples, tu nunca me consegues dizer que não! – Respondeu entusiasmada enquanto dançava ao ritmo da música. – Estas a gostar da festa?

-Eu nunca mais te dou ouvidos! Acho que não há ninguém sóbrio para alem de nós as duas!

-Bem tecnicamente é ninguém para alem de ti, já bebi um pouco. – Anunciou com um sorriso matreiro. – Mas não precisas de ficar assim, estas sempre a queixar-te da tua falta de popularidade, e fazer uma festa na véspera do primeiro dia de aulas é simplesmente genial! O teu nome vai ficar na história!

Antes que pudesse responder um grupo de rapazes aproximou-se da Kate, ignorando a minha presença, e cumprimentaram-na.

-Grande festa katy! – ouvi um deles gritar na tentativa de se sobrepor a musica.

-Na verdade a festa é da... - Começou a explicar, mas eles viram costas antes de ele terminar, era obvio que toda a gente ia achar que a festa era dela, afinal de contas nem eu acreditava se me dissessem há umas semanas atrás que faria uma festa.

-Desculpa, eu vou deixar bem claro que a festa foi tua! – exclamou a Kate, mas na verdade na fazia muita questão que as pessoas soubessem. – Agora vamos dançar!

-Eu acho que se calhar é melhor eu ir embora, já é tarde e amanha temos aulas...

-É que nem penses, anda!

Fui arrastada para o meio da multidão, rapazes e raparigas dançavam freneticamente enquanto trocam beijos e apalpões descontrolados sem se quer se preocuparem com as pessoas a sua volta, e quando dou por mim já tenho um copo na mão.

-O que é isto? – Perguntei à Kate.

-Não tenho bem a certeza, mas bebe! Faz de conta que é Coca-Cola!

* * *

-Mais um Elly? – Perguntou-me uma tal a Lilian pelo que me pareceu ser a milésima vez.

-Sim. – Respondi automaticamente, não sei o que se passa comigo.

Todo o meu corpo parecia estar preenchido por uma estranha energia, o meu corpo balançava-se sem autorização previa, mas que raio?

-Aquele rapaz não tira os olhos de ti! – Exclamou a rapariga entusiasmada.

-Não me estou a sentir lá muito bem, acho que vou apanhar ar.

Nem esperei pela resposta, dirigi-me para a saída, ou pelo menos onde eu achava ser a saída, nada parecia ser claro.

Quando o ar gélido da noite me invade os pulmões, as minhas pernas cedem e fico sentada na estrada.

O barulho da musica continua forte mesmo do lado de fora do armazém, e continuei incapaz de me mover absurda nos meus pensamentos nada claros.

-Elly! Que raio estas aí a fazer?! – A sua voz despertou a minha atenção e não pude conter um sorriso involuntário.

-Hum Zayn, que bom ver-te! – Respondi.

-Vais ficar aí no meio da estrada? – Perguntou.

-Até me levantava, mas bem, não tenho a certeza se consigo.

Ele baixou-se e ficamos os dois ao mesmo nível, os seus braços agarram os meus e ajudaram-me a levantar, mas rapidamente perdi o equilíbrio e cai para cima dele numa espécie de abraço.

-Tive saudades tuas durante as ferias. – Exclamei com um sorriso nos lábios, enquanto as minhas mãos percorriam descaradamente o seu peito, e as suas mãos seguravam-me pela cintura para não cair.

-Estives-te a beber?

-Só um copo... um copo a seguir ao outro, e talvez outro... - Referi entre gargalhadas, mas porque raio estou eu a rir?

-Eu vou levar-te a casa.

-Para minha casa? Nos os dois? – Perguntei com um sorriso provocador, tinha chegado a um ponto que já nem conseguia questionar as minhas atitudes.

-Tu não estas mesmo bem.

-Estou muito bem contigo. – Respondi de imediato, ele abafou uma risada e pegou em mim ao colo, e para minha surpresa, nem ofereci resistência -Acho que devia ter medo de ti.

-Porque? – Perguntou visivelmente divertido.

-Passas mais de metade das aulas a olhar para mim, e a kate diz que quando alguém olha fixamente para outra pessoa por tanto tempo e porque quer ter relações sexuais com essa pessoa ou porque a quer matar.

-E qual das duas achas que eu quero?

-Nenhuma das duas, a Kate esta sempre a dizer que sou demasiado chata para alguém ter relações comigo.

-Isso é porque ela ainda não conhece esta tua versão bêbada de certeza.

-Estas a dizer que estou bêbada? – Perguntei escandalizada.

-Visivelmente bêbada de facto.

-Então estar bêbada é isto? Continuo a sentir-me uma porcaria, não era suposto sentir-me melhor? – Constatei, pode ver um misto de preocupação e divertimento no rosto do Zayn, mas eu não estava a achar piada nenhuma a situação.

-Vamos embora, amanha refletes sobre isso, isto é, se conseguires.

-Podes pôr-me no chão? Eu ainda consigo andar! – Protestei.

-Eu não tenho tanta certeza disso. – Respondeu em tom de desafio. Os meus pés tocaram no chão, mas o seu braço manteve-se no meu ombro para garantir que eu não voltava a cair.

Abri a mala, e procurei desesperadamente a minha garrafa de água, embora sem sucesso.

-O que estas a procura? – Perguntou-me com as sobrancelhas erguidas.

-Da minha garrafa de água, li num artigo, há umas semanas atrás, que dizia que era importante mantermo-nos hidratados quando consumimos álcool em excesso.

O Zac olhou para mim com descrença, tentando conter o riso.

-És a bêbada mais estranha que já vi, tu definitivamente não existes.

O caminho até minha casa foi feito em silêncio, embora o meu corpo teimasse e não parar quieto, o Zayn olhava para mim descaradamente, mas eu fingia não reparar, ate que senti os meus olhos a ficarem cada vez mais pesados, e o escuro invadiu a minha visão.


Anjo da NoiteWhere stories live. Discover now