O Clube dos Cinco

Cap. 1 - John Bender

John Bender

A escola era um espaço inabitado aos finais de semana. Os corredores ficavam vazios, não se ouvia nenhum ruído pelo pátio e muito menos os tradicionais sinais para a troca de aula.

Até que a biblioteca era agradável. No total de 18 carteiras, as cadeiras estavam arrumadas no padrão (o que eu achava inútil, já que sempre trocávamos as carteiras de lugar durante as aulas) e as estantes permaneciam intocadas.

Os outros alunos que estavam submetidos à detenção foram chegando aos poucos e se acomodando nas carteiras. Claire, a patricinha, sentou na primeira fileira e Brian (o nerd que parecia ter saído de um filme colegial dos anos 80) tomou o assento na fileira ao lado.

Observei do canto da biblioteca eles se habituarem ao ambiente e resolvi fazer a minha entrada triunfal. Tocava tudo o que via pelo caminho, aproveitando para pegar um caderno abandonado na estante e um lápis preso no parapeito da lousa.

No mesmo momento vi Andrew (o esportista que se achava o Michael Jordan) sentar-se ao lado de Claire. A biblioteca ainda estava vazia, por isso resolvi pegar a fileira logo atrás deles, assim seria mais fácil de provocá-los e arranjar um passatempo para esse dia entediante na escola.

Allison, a garota gótica não quis se misturar e ocupou a última carteira, espalhou os seus lápis pela mesa e resolveu adentrar-se em sua bolha.

Richard Vernon, o responsável pelos alunos da detenção entrou na sala como um raio e não parecia estar de bom humor.

- Bem, bem. Aqui estamos. – Disse o velho com cara de inspetor de museu.

- Quero parabenizá-los por chegarem na hora. – continuou Vernon, se mostrando para a turma.

Como se não bastasse estar na detenção, ainda tinha que aguentar o sarcasmo daquele sem noção.

- Com licença, senhor? – disse Claire, enquanto enrolava uma mecha de cabelo na ponta dos dedos.

- Acho que há um engano. – completou - Sei que é um castigo, mas... Hum... Eu meio que acho que eu não deveria estar aqui...

Vernon não ligou para o comentário de Claire e continuou o seu discurso.

- Agora são 07h06min a.m. Vocês têm exatamente 8 horas e 54 minutos para pensar por que realmente estão aqui.

Ter uma lição de moral não estava nos meus planos, mas ele insistiu em piorar a situação quando começou a escrever algumas regras no quadro negro.

1) Vocês não devem falar.

2) Vocês não devem mover as cadeiras.

3) Vocês não podem dormir.

Vernon só podia estar de brincadeira. Só faltou ele proibir a gente de respirar.

- Certo pessoal. Vamos tentar algo diferente hoje. – disse Vernon.

- Ao invés de vocês ficarem por horas grudadas na tela do celular, quero que vocês escrevam uma redação, com no mínimo mil palavras descrevendo quem vocês realmente são. – continuou gesticulando para a sala e completou -- Não quero que escrevam quem vocês aparentam na escola ou que seja legal para os seus amigos.

- Isso é uma prova? – perguntei ao senhor Vernon.

- Quando digo “redação”, quero dizer uma redação de verdade. Não estou querendo dizer uma única palavra repetida mil vezes. Está claro, senhor Bender? – perguntou Vernon, terminando seu discurso.

- Como Cristal – vociferei, com descaso.

- Bom! Talvez vocês aprendam um pouco sobre vocês mesmos. Talvez vocês até decidam se vale a pena ou não voltar para a detenção.

- Posso responder isso agora mesmo, senhor. Estava me divertindo cada vez mais à custa do Sr. Vernon.

- Seria “não” para mim, por quê?

- Sente-se já, Johnson. – esbravejou Vernon.

- Obrigado, senhor. – retruquei, demonstrando um auto grau de maturidade.

Vernon caminhava de um lado para o outro da sala e apontou para a direita.

- Meu escritório é do outro lado daquele corredor. Qualquer brincadeirinha será digna de punição. Alguma pergunta?

- Sim, tenho uma pergunta. (Não podia perder essa) - John Lenon sabe que você usa o guarda-roupa dele? – perguntei, apontando para o casaquinho dele.

- Senhor Bender, - continuou Vernon - responderei essa no próximo sábado.

- Não mexa com o touro, garoto, pois você pode acabar conhecendo os chifres. – respondeu Vernon, tentando parecer engraçadinho.

A garota gótica soltou um risinho que se parecia com um guinado do fundo da sala. Todos se viraram para ela, e o Sr. Vernon bateu na mesa, repreendendo a nossa atenção.

Quem aquele velho pensava que era? Mais um sábado de detenção? Não sozinho...

- Ei Brian, já te vi antes, sabia? - disse, batucando com o lápis na mesa.

- Quem sou eu? – perguntou Brian, enquanto colocava duas canetas na boca.

- Não quem, mais o quê? – perguntei realmente confuso.

- Sou um leão-marinho. – respondeu Brian.

Era só o que me faltava, estar preso com uma gótica, uma patricinha, um esportista bombadinho e um nerd com crises animalescas.

- Não consigo acreditar que isso está acontecendo comigo. - disse Claire, para si mesma.