Destroços

Crônica: Destroços

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As calhas danificadas vazam a água suja da chuva, manchando as paredes e lavando as imundícies das calçadas.

No bar da esquina uma prostituta tenta convencer um velho bêbado que seria uma boa fazer negócios com ela, vendendo seu corpo por alguns trocados para está viva amanhã.

Bem em frente fica o bordel, que é para onde ela tenta levar-lo.

Em algumas ruas mais a frente fica um beco parcamente iluminado, onde jovens perdidos nas drogas, cheiram seu baseado. Esqueléticos dividem o pouco que tem, o amor da mãe de todos. A maconha.

Do lado oposto da cidade, um garoto armado faz o roubo do dia. Apenas alguns reais, uma bolsa e três celulares.

"Droga! Essa merreca não vai dar pra nada!" Se martiriza o pequeno de apenas dez anos, pensando em como conseguir o suficiente para dar de comer a família de dose pessoas.

Ali perto, em uma casa de portas e janelas fechadas, uma mulher é xingada e espancada por seu marido, por não ter feito seu jantar corretamente, ameassando-a de morte e prometendo levar seus filhos para longe, se ela não ficasse calada.

Dentro de um dos quartos desta mesma casa, dois garotinhos se encolhem em baixo dos cobertores, e choram abraçados, pedindo a um Deus qualquer, que os tirassem dali, vendo surgir dentro de si, um incessante sentimento de ódio e de vingança contra o homem que um dia chegaram a chamar de pai.

Olhando um para o outro em meio às lágrimas, prometendo silenciosamente com o olhar, acabar de uma vez por todas com aquilo.

Trementes saem do esconderijo em baixo dos lençóis, andam sorrateiramente pelo corredor, enquanto escutam os gemidos de dor da mãe na sala. Entram no quarto do casal e pegam a arma -- que sabiam existir ali -- de dentro do guarda roupa e a carrega como viram fazer em um vídeo game.

Ficou decidido que o mais velho tinha o direito de puxar o gatilho, então seguiram para a sala e, parados na soleira da porta viram sua infância morrer ao cometer seu primeiro crime.

Se tornado mais uma estatística naquela cidade feita por destroços.