O primeiro momento em que Sherlock havia ouvido aquilo fora enquanto muito jovem.
Suas deduções não costumavam agradar a quem estava por perto e quando ele pôde ler no corpo de seu pai linhas que mostravam seu romance com outra mulher, ficar calado havia sido impossível.
"Você é vazio, não tem coração." Seu pai falou aquilo olhando em seus olhos antes de sair de casa com uma mala pendendo em suas costas e mesmo que Sherlock tentasse fingir que aquilo não havia o abalado, no fundo ele sabia que aquelas palavras haviam causado a primeira rachadura dentro de si.
***
Ser um adolescente que vê além do que pessoas conseguem ver não é fácil. Ser um adolescente que vê além do que as pessoas conseguem ver e gay é menos fácil ainda.
Aos quinze anos Sherlock havia sido mandado para um internato de garotos em Berkshire. Sua mãe obviamente não sabia de suas preferências quando o mandou pra lá, se ela soubesse talvez tivesse o mandado para um psiquiatra e o trataria como um doente. Pelo menos era aquilo que Sherlock imaginava.
Se o fato de estar num internato cheio de garotos não fosse ruim por si só, ter Sebastian Wilkes como colega de quarto seria capaz de arruinar tudo. O garoto atlético e sorridente não tratava Sherlock como a aberração que os outros garotos costumavam tratar. Talvez ele fosse educado demais para isso, ou talvez ele até gostasse de Sherlock.
Com o tempo o quarto pequeno do internato parecia ainda menor. Os olhares entre ele e Wilkes mais intensos. Sebastian parou de sair do banho vestido e passou a deixar para pegar sua cueca boxer e vesti-la em frente a Sherlock constantemente.
Foi naquele quarto, aos dezesseis anos, que ele perdeu a virgindade. Seu corpo entregue enquanto Wilkes entrava em si repetidamente e gemia por seu nome, mas somente seu corpo estava entregue. Sua mente estava focada no prazer que Sebastian lhe dava e revezava entre isso e experimentos inacabados da aula de química.
***
Aos dezessete anos Sherlock foi liberado do internato e recebeu um certificado que provava sua aptidão para começar a estudar química numa universidade.
Sebastian Wilkes, apegado, não gostou da ideia de perder a companhia do garoto. A briga foi feia, entretanto no meio dela três palavras foram ditas com impulsividade e Sherlock não sabia como as responder.
"Não vai responder?" inquiriu Wilkes com tristeza no olhar "Você me ama, Sherlock?" insistiu sentindo lágrimas escorrerem por seu rosto.
"Não." Respondeu o garoto com uma expressão impassível.
"Eles estão certos," sorriu entre lágrimas "você é mesmo uma aberração. Uma máquina vazia, sem coração." Sherlock sentiu outra rachadura se formar dentro de si, mas apenas assentiu para Sebastian, pegando sua mala e deixando o campus e Sebastian Wilkes para trás.
***
Por um momento a vida de Sherlock foi baseada apenas em coisas que a ciência podia explicar. Aos dezenove anos, Holmes estava completamente focado em sua graduação e apesar de ser considerado excêntrico e rebelde, era o melhor aluno da instituição.
Ele não tinha interesse em ninguém daquele lugar e tudo o que importava para ele eram resultados. Até que ele viu Victor.
Victor Trevor era estudante de arte e Sherlock nunca o havia visto antes. Entretanto, naquela tarde o professor de Trevor exigiu um estudo sobre objetos inanimados e ele achou que seria interessante pintar o melhor ângulo de uma pipeta graduada.
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HEARTLESS | Johnlock Fanfiction
FanfictionSherlock Holmes, sem coração. Máquina. Seria isso mesmo verdade?