Cenas de Aeroporto

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As mulheres na sala de embarque conversam sobre filhos, sobre os chefes e sobre a nova alta do dólar, como se fosse uma onde gigante, que a cada ano atinge níveis mais altos; as ondas que poucos surfistas ousam encarar. "Somos obrigadas, por que senão não viajamos" diz uma delas, a ruiva da bolsa gigante. Na outra ponta da sala, um homem com cara de pai tenta, sem sucesso, uma ligação por vídeo com a filha, mas só o áudio funciona. A sala de embarque inteira escuta o relato da filha sobre as apresentações no colégio, ela foi Julieta numa peça de teatro. Não muito longe, logo ali, a dona da lanchonete aproveita o final de tarde para mais uma fornada de pães de queijo, que serão vendidos por 4 reais. "É a inflação, mas até que vende bem!" diz a gerente, que coleciona selfies com os artistas que passam pelo portão "da lanchonete". A mulher que descansa com os pés apoiados em cima da mala diz que a fome no aeroporto se multiplica conforme avançamos nas etapas até embarcar. É tipo um jogo, ganha quem gasta menos com alimentação, com revistas, com badulaques. Enquanto as mulheres conversam sobre o dólar, três crianças correm pela sala de embarque, que é apertada e está cheia. Os homens lá fora, os únicos autorizados a permanecer na pista junto com a aeronave em solo, reclamam do sol e pedem chuva, que não vem. Na cabine, os pilotos trocam as gravatas, comentam sobre as páginas amareladas do plano de voo, e consultam a torre sobre o próximo destino. Uma voz (de mulher ou de homem, não conseguimos identificar) avisa que o voo está confirmado e quando autorizado, o embarque será feito pelo portão 32. As mulheres, as crianças, o homem que tentava ligar para a filha, e mais algumas pessoas não identificadas, se levantam num susto e correm para o portão em questão, que fica do outro lado do aeroporto, quase em outro terminal.

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