Nasce uma Estrela

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Agosto de 2017

Eu achei que sabia o que me aguardava em uma gravidez. Eu conhecia todos os processos biológicos, físicos e químicos que nosso corpo enfrentava durante os meses em que carregávamos um bebê. Mas eu não esperava a mudança que isso traria para a minha vida.

Não falo dos enjoos, das dores, dos desejos e das transformações que sofri no meu corpo durante a gravidez. Por mais louco que eu possa parecer, eu consegui lidar muito bem com isso. Não me assustava ganhar peso ou algumas estrias por conta da gravidez. Na realidade, eu ficava encantada com cada etapa vencida. Era algo quase mágico poder gerar uma vida e senti-la crescendo dentro de mim. Eu vivia em um clima de felicidade e entusiasmo.

Enxergava cada estria como uma marca de amor. Cada grama que ganhei, era um lembrete de que meu bebê estava crescendo, cada vez mais saudável. Os enjoos, bem presentes no primeiro trimestre, foram vencidos com muita paciência, alguns remedinhos e receitas caseiras. Hilário era o desespero do Miguel com cada enjoo. Ele quase não dormia, e me tratou como uma boneca, principalmente quando o médico recomendou repouso absoluto no início da gravidez. Não havia risco aparente, mas, como eu havia sofrido um aborto recentemente, era melhor não arriscar. Assim, foram basicamente três meses deitada, sendo mimada e paparicada, com Miguel tentando me convencer a ir morar com ele.

Já perto da metade, entrando na reta final, cedi a suas chantagens e reclamações, sabendo que isso amenizaria sua preocupação e daria paz para todos nós. Junto à superproteção de Miguel, havia toda a loucura da Débora, que virou uma tia louca que enchia a criança de mimos, mesmo antes de ela nascer.

Um dos momentos mais incríveis da gravidez foi a primeira vez em que ouvimos o coração de nosso bebê. Miguel me acompanhou em todas as consultas. Segurava a minha mão na primeira ultrassonografia, quando o médico informou que nossa luz estava bem e perguntou se queríamos ouvir seu coração. Emocionados, não conseguimos emitir nenhuma palavra, apenas assentimos com a cabeça, quase ao mesmo tempo.

Segundos depois, um som forte e ritmado encheu a sala. Miguel apertou ainda mais a minha mão, e eu não pude conter as lágrimas. Era o barulho da vida, do recomeço. Meu bebê arco-íris nem havia nascido, mas já irradiava luz com suas pequeninas batidas de coração. A partir daquele momento, ouvir seu coração bater tornou-se a minha música favorita. E eu soube, naquele momento, que não nasceria apenas uma criança, mas uma nova Samantha viria com ela. Eu me tornei mãe no momento em que ouvi seu coração pela primeira vez.

E essa é a parte mais louca da história: sentir. O amor que um filho te desperta, é algo inenarrável. De repente, você está carregando todo o seu mundo dentro de você, e em breve poderá tê-lo em seus braços. Seus planos, desejos e vontades não são mais sobre você, mas sobre aqueles pequenos centímetros tomando forma em seu ventre. Sua felicidade tem tamanho e endereço: literalmente mora dentro de você.

Eu já estive grávida antes. Na primeira vez, eu era uma adolescente assustada, que não sabia ao certo o que estava fazendo da vida. Foi traumático engravidar, e mais ainda perder o bebê. Não tive apoio do pai, de uma das minhas melhores amigas, e morria de medo de contar pra minha mãe, que, no final, foi a pessoa que mais me ajudou, junto com a Débora. Ao superar esse episódio, uma coisa levei comigo: o sonho de um dia poder ser mãe, mas de uma forma tranquila, responsável e muito mais amorosa. Eu sabia que seria uma boa mãe, trazia esse desejo e essa vontade comigo. Não teve pressão, eu simplesmente nasci para isso. Ser mãe deve ser algo natural. Acredito que algumas mulheres nasceram para isso, outras, não. A maternidade deve ser um momento único, não um trauma. Eu havia nascido para ser mãe. Só não esperava que estaria perto de realizar o meu sonho enquanto vivia meu pior pesadelo.

Nasce uma EstrelaWhere stories live. Discover now