Granger e o Vira-Tempo

Capítulo 1

    - Bela, - a voz entrou antes da mulher abrir a porta.

    Ela consegue se ver no espelho, olhando por cima do ombro da figura feminina que estava de costas em sua frente.

    - Belatrix, está bem? - perguntou, agora preocupada; o reflexo da outra estampava uma feição de angustia no espelho.

    - O que vamos fazer, Ciça? - Belatrix respondeu, deixando uma lágrima escapulir por seu rosto.

   Narcisa suspirou sem saber o que dizer, era difícil ver sua irmã, que sempre fora mais forte que ela, naquela situação lastimável.

    Aproximou-se para consolar Belatrix mais de perto, porém, quando pode ver a irmã por inteiro retratada no espelho, seus olhos se arregalaram numa reação de surpresa.

    A barriga de Belatrix apresentava-se muito redonda e protuberante.

    - Meu Deus! Quando foi que cresceu tanto? - Narcisa falou, a mão próxima à boca, ainda admirada.

    Belatrix acariciou a barriga enquanto olhava para si mesma e então desabou num choro lamurioso.

    - Os comensais não podem saber! Milord não pode saber! Ninguém pode! - reclamou em desespero, as mãos sobre a cabeça bagunçando os cachos negros e indefinidos de suas madeixas.

    Narcisa imediatamente agarrou a irmã pelos ombros, fazendo-a se acalmar.

    - Bela, chega de lástima, essa não é você! Não deveria estar assim, você deveria contar e por um fim nisto de uma vez.- falou com frieza.

    Belatrix balançou estericamente a cabeça de um lado para outro em negação.

    - Ciça, o que aconteceu, Miliord ordenou para que ficasse em segredo, se eu contar que eu e ele dormimos juntos, vou estar cometendo um ato de deslealdade, na verdade eu já estou sendo desleal, pois contei a você, por isso ninguém nunca pode saber!

    - Minha irmã, não consegue enxergar? Este pequeno bruxo dentro do seu ventre, é o herdeiro de Lord Voldemort, o mais temido e poderoso bruxo de todos os tempos, é preciso que todos saibam desta bênção! E também... será maravilhoso ter um sobrinho. - os olhos de Narcisa brilhavam enquanto ela acariciava a barriga de sua irmã.

    Belatrix no entanto, empurrou Narcisa com violência e tornou a se descabelar, parecendo uma desiquilibrada mental.

   - Você não entende Narcisa, Milord vai me matar! Se todos souberem, vou morrer antes mesmo que eu possa ter este bebê. Primeiro, porque serei acusada por traição: desobedeci uma ordem direta de Milord. Segundo, porque darei um filho, mas também um ponto fraco para Milord, um meio para o inimigo atingi-lo, e isso é tudo que não precisamos agora que finalmente encontramos o garoto pestilento, Harry Potter. - de repente o olhar da bruxa mudou de amedrontado para determinado - Algo grande nos aguarda, irmã. Não podemos dar abertura para que derrubem nosso líder, e nem nossa família. - a verdadeira Belatrix finalmente surgiu do meio de seu turbilhão de receios e secou as lágrimas.

    Narcisa engoliu em seco, encarando a barriga da irmã e sentindo silenciosamente uma precoce dor da perda de mais um Black.

    - Ok, Bela. O que pensa em fazer? - questionou.

    - Tenho que tirar isto de dentro de mim. Existem métodos trouxas que parecem ser muito eficazes. - respondeu Belatrix, sua face não exibiu expressão alguma; ela falava sério.

    Os olhos de Narcisa quase saltaram para fora de tão arregalados que ficaram.

    - Não. Bela, isto é loucura, não há como tirar este filho de dentro de você sem o risco de te machucar, e além disso, não podemos matar esta criança. É seu filho, Bela, é um Black! Um de nós, mesmo que ainda não tenha nascido... não vou te ajudar a fazer isto. - agora era Narcisa que estava à beira do pranto, seus olhos cintilantes em lágrimas.

    Belatrix revirou os olhos com deboche, porém, quando voltou mirar a irmã, o medo é que estava presente em seu olhar.

    - Então o que devemos fazer, minha irmã?

    Narcisa permaneceu estática por breves segundos, o olhar direcionado à janela, mas sem necessariamente estar prestando atenção nela. Sua mente estava longe, matutando algo.

    - Eu já sei, Bela. Sei de uma solução que não envolve a morte dessa criança. - Narcisa sorriu; realmente parecia ter tido uma ótima ideia.

    - Pois então me diga, Ciça! - Belatrix se afobou, parecia ansiosa, quase que esperançosa.

    - Conheço um feitiço de ocultação. Ocultamos a aparência da sua barriga durante a gravidez e quando o bebê nascer... entregamos ele para a adoção de trouxas, assim os bruxos jamais irão desconfiar da existência dele.

    O semblante de Belatrix se transfigurou em uma carranca.

    - Não! Não vou entregar um bruxo de linhagem tão nobre para um bando de trouxas imundos! - esbravejou, atormentada pelo simples vislumbre de seu filho sendo criado por meros trouxas.

    Narcisa respirou fundo. Realmente, a pobre criança não merecia ter os talentos, que com certeza herdaria dos pais, desperdiçados durante uma vida insignificante e desprovida de magia.

    - Certo, Bela. Então entregamos para alguma família de bruxos puros e fazemos eles acreditarem que a criança sempre fora deles... Desta forma, o pequenino bruxo ao menos terá a chance de viver. - Narcisa concluiu.

    Belatrix acarinhou sua barriga pelo que parecia ser a última vez e fechou os olhos com força, evitando que a vontade de chorar tomasse conta novamente. Ela não queria admitir à irmã, mas ter de entregar um filho que saira de seu ventre para outra mãe, iria doer demais.

    - Ok, Ciça. Não vejo escolha.

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