2 - Mamihlapinatapai

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mamihlapinatapai

(s.) um olhar trocado entre duas pessoas no qual cada uma espera que a outra tome a iniciativa de algo que os dois desejam, mas nenhuma quer começar ou sugerir


O que eu gostava em Southport era que, apesar de ser situado no litoral, quase nunca era castigada pelas fortes ondas de calor e raios de sol. Assim, todos podiam curtir o verão na praia sem sentir medo de desenvolver câncer de pele. Apesar disso, eu ainda me considerava uma pessoa do inverno, então evitava ao máximo pegar sol, mesmo que fosse mínimo.

Ainda assim, eu gostava de passar as manhãs e tardes na praia, com um grande chapéu me protegendo dos raios UV e óculos escuros enquanto lia um bom livro deitada de bruços numa canga sobre a areia. Mesmo naqueles momentos, quando eu claramente podia ouvir Emily, Beatrice e nossos outros amigos brincando de vôlei de praia a poucos metros de mim. Minhas amigas ficavam bravas, diziam que eu não sabia me divertir. Talvez estivessem certas, no fim das contas.

Quando a bola atingiu sobre o exemplar de Jane Eyre em minhas mãos, fazendo o livro voar e cair na areia eu exclamei um palavrão, zangada.

— Opa, falha minha! — disse a tão familiar voz masculina.

Abaixei os óculos escuros até a ponta do nariz para que eu pudesse olhar para ele de verdade. Landon Floyd corria em minha direção com seus cabelos castanhos balançando e seu tanquinho completamente absurdo. Sob o sol seus fios pareciam quase loiros. Ele usava uma bermuda azul e estava descalço.

Nós dois havíamos mudado muito em quatro anos.

Depois que Irina estava traumatizada demais com a perda de seu filho para continuar naquela casa, os quatro passaram um tempo em Miami. Quando voltaram, não havia mais vestígios de quem Avery e Landon costumavam ser.

Quando Dinah finalmente foi para a faculdade, só restara eu para meus pais botarem pressão. Minha irmã agora era uma universitária da Ivy League e eu não podia nem pensar em ser algo menos do que aquilo. Eu me acostumei em focar nas coisas que realmente importar. Traçar um plano e me manter fiel nele até o final era minha especialidade. Minha meta era ter um currículo excelente e nem mesmo ficar na lista de espera de Columbia. Meu quarto não era mais rosa e eu não precisava mais de estrelas que brilhavam no escuro. Meu cabelo castanho estava agora a poucos centímetros acima do ombro e uma franjinha tampava minha enorme testa.

Landon também estava completamente diferente.

Havia muitos mais músculos e até algumas tatuagens em seus braços e pernas. Ele também estava bronzeado. Apesar dos cabelos mais curtos, seus fios castanhos ainda caíam sobre seus olhos azuis de vez em quando. Ele havia trocado artes por basquete e era o atleta número um de nossa escola. O orgulho de Southport.

Me sentei sobre a canga, bufando e retirando o chapéu para ajeitar os fios de cabelo que voavam em direção ao meu rosto. Desvantagens do cabelo curto: você era incapaz de prendê-lo (e de domá-lo).

— Qual a graça de vir à praia se vai ficar aí lendo? — perguntou ele, apanhando a bola e o livro. Ele deu uma olhada na capa antes de me devolvê-lo. Landon estava suado, os cabelos escuros grudando na testa.

— Tem graça o suficiente para mim — dei de ombros, limpando a areia do livro. Ele riu e balançou a cabeça, como se eu fosse doida, antes de voltar para seu jogo.

Algum tempo depois, quando estávamos juntando nossas coisas para ir embora, Beatrice e Emily vieram até mim. Eu estava dobrando perfeitamente a canga e colocando-a dentro da minha bolsa junto com minha água e meu livro. Beatrice ficava extremamente bonita bronzeada. Ela tinha longos cabelos de um tom loiro-escuro e olhos verdes. Sua feição exalava tédio.

FateWhere stories live. Discover now