Prólogo

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Nova York, 1986

A música tocava alto no salão. Luzes coloridas piscavam por entre as mesas lotadas e as garçonetes que passavam apressadas para atendê-las. Atrasos não eram muito bem-vistos por ali, mas, para compensar, as gorjetas eram boas.

Os holofotes iluminavam o centro do grande palco, onde os postes de metal refletiam a luz conforme as belas moças dançavam a seu redor. O barulho de seus saltos de plataforma contra o chão era abafado pela batida que conduzia seus movimentos; os quais, por sua vez, mantinham famintos os olhos dos homens sentados nas mesas e sofás espalhados pelo salão. Jogando, bebendo, consumindo. Pagando.

Era em uma das mesas mais afastadas, no fundo do camarote da casa, que ele se sentava. De cabelos castanhos e olhos esverdeados, vestia um terno preto de marca cara e uma camisa branca sem gravata, já um pouco úmida por causa do calor daquele salão protegido do frio cortante de Nova York. Se bem que não era o aquecedor que o fazia suar. Segurava um Martini na mão direita, e olhava para as garotas. Fixamente, avidamente.

-E então, Sr. Carter? O que está achando de nossos serviços?

O jovem milionário desviou custosamente os olhos do palco e encarou seu misterioso companheiro de mesa. Um homem robusto, avantajado, com cabelos pretos beirando os grisalhos e um par de olhos azuis estranhamente satisfeitos. Usava também um terno de marca de renome, e um relógio que poderia ser de ouro em um dos pulsos.

-Eu preciso ser honesto, Sr. Hendrick: - respondeu, tomando um gole de seu Martini - eu já estive em várias boates ao redor deste país, mas poucas delas me impressionaram tanto quanto esta.

Sr. Hendrick riu. Tinha certeza de que a resposta seria aquela. Já havia vinte anos que ele sabia como fisgar os melhores clientes para seus domínios.

Seu nome completo era Oliver Howard Hendrick. Conhecido pelos milionários mundo afora como o dono da maior boate de strip dos Estados Unidos. Um homem tão poderoso quanto os vários que iam e vinham por seu salão, ou talvez até mais. Do tipo que sempre sabia com quem estava jogando, e que nunca, jamais, perdia em seu próprio jogo.

-Pensou na minha proposta? - perguntou ele. Carter tomou mais um gole da bebida.

-Pensei sim, mas ainda não sei se devo aceitá-la. - disse - Não me entenda mal, Sr. Hendrick, parece tentador adquirir uma senha, mas eu não vejo a vantagem se posso ter acesso a tudo isso apenas pagando as entradas.

Oliver Hendrick olhou para seu relógio. Pouco passava das onze da noite. Depois, mirou ligeiramente o palco. As roupas pretas de látex moldando o corpo de suas belas donzelas, e os chicotes em suas mãos balançando de um lado para o outro até finalmente atingirem seus alvos.

-Venha comigo, Sr. Carter.

Os dois andaram até a saída do camarote, onde Hendrick começou a guiar seu futuro mais novo pagador por entre as mesas onde seus frequentadores se punham à vontade.

-Você não passou por qualquer porta para estar aqui, Sr. Carter. Além de a maior boate deste país, somos também a mais exclusiva e refinada casa de acompanhantes da América do Norte. Pelo preço certo, você pode requisitar qualquer uma de nossas garotas para qualquer tipo de evento que desejar. Elas fazem tudo que você possa imaginar. Desde uma bela massagem para reconfortar o seu fim de dia até, bem... Favores especiais.

-Eu não sou tolo, Sr. Hendrick. - disse Carter - Acha que eu não sei que estou dentro da maior casa de mulheres do país?

Hendrick riu mais uma vez.

-E, modéstia à parte, nós merecemos a fama que temos. - disse - Porém, é para aqueles que possuem uma senha que nossos verdadeiros trunfos são revelados.

Carter ergueu os olhos. Hendrick o guiou por uma entrada privada, onde uma mulher uniformizada lhes aguardava com uma chave em mãos.

-Sr. Hendrick. - cumprimentou ela, entregando ao chefe a chave que segurava. Carter moveu a cabeça de um lado para o outro, observando o corredor quieto por onde o dono da casa o guiava.

-Aqui começa o lugar onde tudo é possível. Onde suas maiores e mais exóticas fantasias se tornam realidade. - Hendrick parou em frente a uma porta, girou a chave na fechadura e abriu-a - Bem vindo à Dollhouse, Sr. Carter.

A porta foi se abrindo lentamente, e Carter então se deparou com um luxuoso quarto. Onde uma garota loira, de pele macia como a de um pêssego, o aguardava com um sorriso provocativo no rosto, ajoelhada sobre a cama em uma lingerie rendada, branca como a neve, de cinta-liga e sapatos de salto da mesma cor. Com os pés e as mãos amarrados para trás.

The DollhouseWhere stories live. Discover now