IV - MÃO MORTA

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TRECHO EXTRAÍDO DO JORNAL THE HAMPTON UNION.

South Hampton, New Hampshire

TRAGÉDIA EM DARRINGTON, por Helen Mirtes

A pacata cidade de South Hampton, New Hampshire, vê-se no olho de um furacão após a grande repercussão das mortes de Brad (34) e Linda Bowel (31), em sua casa, na Colina de Darrington.

Autoridades afirmam ter encontrado Linda enforcada, pendurada por uma corda, presa a uma viga no teto próxima à escada da casa. Brad foi encontrado no chão, próximo ao corpo de Linda, com uma marca de tiro na têmpora direita. A polícia trabalha com a hipótese de assassinato seguido por suicídio.

Amigos e familiares, ainda muito abalados, foram interrogados na esperança de esclarecer o ocorrido. No entanto, muitos afirmam ter perdido o contato com as vítimas meses antes.

"Brad e Linda eram muito apaixonados, e a casa no condado de Rockingham foi a realização de um sonho", afirma Robert Wilson, primo de Linda.

"Algum tempo depois de se mudarem, sem motivos, ficamos sem ter notícias de como estavam, e sempre que telefonávamos ambos pareciam nervosos e com pressa de desligar.

Charles Williams, dono da loja de armas William's Fine Gun Shop, no centro comercial de South Hampton, afirmou à polícia ter vendido a Brad uma arma como a usada no crime, apesar de a mesma nunca ter sido encontrada:

"Sim, eu tenho o registro da arma e da munição compradas por Brad. Ele entrou na loja apressado, com uma aparência debilitada, como se estivesse cansado, abatido. Achei estranho, mas ele puxou conversa normalmente e ainda fez algum comentário bem humorado. Pediu uma Smith & Wesson calibre 38 e pagou em dinheiro vivo", conta Charles.

"Quando eu perguntei se ele realmente estava bem enquanto ele assinava os papéis, um pouco antes de ele sair da loja, ele simplesmente respondeu, com um sorriso, algo como que a escuridão estava chegando e que ele podia ouvir seus cascos."

O departamento de polícia de South Hampton ainda junta as peças para entender o motivo do horrendo crime e a casa na Colina de Darrington foi posta à venda, sendo constantemente visitada por curiosos e evitada por compradores.

***

A sensação era de estar caindo continuamente.

Luzes e imagens disformes passavam velozes por mim e eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Ainda assim, conseguia sentir a mão de tia Julia agarrada firmemente ao meu punho.

Quando a queda finalmente pareceu terminar, me vi em um quarto que lembrava vagamente aquele em que eu estava momentos antes. No entanto, nada era igual. Era muito mais escuro e, no lugar da cama hospitalar e dos equipamentos que mantinham tia Julia viva, havia uma cama enferrujada caindo aos pedaços, vários lençóis rasgados e sujos de sangue e velas negras por todos os lados. Eu respirava alto, estava confuso e amedrontado.

— Carlinha! — foi a primeira frase que eu me lembro de ter gritado. — Carlinha, cadê você?

Olhei em volta, tentando me situar no ambiente. Fui caminhando até a porta e senti, a cada passo, que o chão estava estranhamente escorregadio. Olhei para baixo e quase vomitei. O assoalho estava impregnado de sangue e havia montes do que parecia ser carne estragada. Segurei a respiração por alguns segundos e continuei andando. Podia sentir o cheiro podre que dominava o ar. Passei as mãos nos meus braços para me aquecer e me encolhi perto da porta. Estava estranhamente frio. Tateei à procura da maçaneta e a abri devagar.

Horror na Colina de Darrington [Degustação]Where stories live. Discover now