Capítulo 2

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"NEBRASKA!"
Ouvi minha mãe gritando da cozinha no andar debaixo.

Me levantei enquanto me espreguiçava como um gato, ainda um pouco chocada devido ao pesadelo da noite, normal para mim mas esse fora particularmente desconfortável.

Lembro de ouvir sombras sussurrando em meu ouvido, o lugar era extremamente escuro e minha voz não saia e eu não conseguia me mexer, até que o grito de minha mãe me acordou.

"DEIXA EU FALTAR" gritei enquanto caía na cama, empurrando as cobertas para cima da minha cabeça, na tentativa de impedir que a luz solar me cegasse.
Ouvi os passos da louca subindo os degraus da escada.

"Lá em vem" resmunguei.

"FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!" Ouvi ela gritando enquanto arrancava minhas cobertas, me fazendo gritar.
"MÃE!" Berrei
"FILHA" ela berrou de volta, sorrindo.
"Minha menina tá tão mocinha!!" Ela exclamou dando saltinhos.

"ARGHH" resmunguei

"Vamos lá meu floco de neve, 16 anos é uma data incrível! Vai chamar seus amigos? Se você quiser eu deixo a casa para vocês!!" Ela disse animada.
"Só mais um ano mãe, e não sei talvez eu saia com o pessoal..." ela deu saltinhos "...para ir a lanchonete" completei e percebi a decepção no olhar dela.

"Tudo bem, mas o café da manhã de aniversário ainda é MEUUU" ela me puxou pela porta e escadas me lançando para o assento na cozinha.
Ela colocou um prato de panquecas cheias de chantili ruidosamente em cima da mesa, seguido de uma xícara de café.

"Maluca" disse rindo enquanto mastigava as panquecas que estavam deliciosas, a lembrança do pesadelo dessa noite já esquecida.

Eu amava minha mãe, com todo o meu coração, mas ela era muito estranha (mas de um jeito relativamente bom).
Primeiramente: seus cabelos eram branco-prateados como a neve e seus olhos eram super azuis, mais que os meus. Segundamente: ela era a única mãe que não deixava a filha sair de casa, muito raramente ela permitia que eu saísse para a casa de uma amiga, desde que ela conhecesse toda a família da garota e seus antecedentes criminais, era super protetora e já havíamos brigado muito por isso.

Mas ela era a única família que eu tinha, já que papai nos deixou para ir morar na Suécia com a "nova família perfeita".

Balancei a cabeça, lançando os pensamentos sobre meu pai escroto para o fundo da minha mente.
*

A mãe fez questão de me levar a escola, com direito a alguns gritos histéricos com o propósito exclusivo de me deixar com as bochechas rosadas.

Entrei rapidamente no prédio, esperando que poucas pessoas tenham presenciado a cena de minha mãe.

Encontrei Dove no corredor, estava absorta em pensamentos enquanto pegava seus livros e tive que cutucá-la para que ela notasse minha presença ao seu lado.

Ela se virou para mim, levando um susto.

''Braska! Feliz Aniversário! '' ela exclamou e pude perceber que algo a incomodava, ela parecia nervosa e mexia suas mãos de forma ansiosa.

''Ah, obrigada! Mas Dove, o que aconteceu?'' perguntei, segurando sua mão para impedir que ela continuasse a mexê-la.

''Ahn? Nada... só nervosa para a prova do Brentley''

A olhei desconfiada.

Dove era a pessoa mais estudiosa que eu conhecia, ela não ficava nervosa para nenhuma prova.

Mas resolvi deixar o assunto de lado, quando ela quisesse contar ela contaria.

Além de estudiosa, Dove morava sozinha, e tinha que trabalhar de Babá todos os dias após a escola, senão provavelmente passaria fome já que a tia não liga muito para ela.

Sua família havia morrido há anos, e Dove acabou parando nas mãos da tia excêntrica.

Eu a conheci uma vez, uma senhora de uns 50 anos, com milhares de colares de pedras rodeando seu pescoço, de acordo com Dove ela era ''super'' religiosa e passava mais da metade do ano indo em cultos em todos os países possíveis.

Andei com ela até a sala, me preparando psicologicamente para os interesseiros e curiosos.


Encontrei o pessoal sentado nas mesas da sala de aula, e assim que eu entrei, todos gritaram e começaram a cantar "Feliz Aniversário" em um coro animado.

Sorri fraco e deixei minha mochila em minha mesa que dividia com Dove. Abracei o pessoal que havia me desejado feliz aniversário e tive de aguentar perguntas como:

"E a festa Nebraska?" Nathan perguntou animado.

"Às 6 no cheap moraine?" Perguntei incerta.
Cheap Moraine era uma lanchonete aqui de Princeton, uma das únicas... mas a comida era divina! Além de ter o Liam como dono, desconfiava que ele tinha uma queda pela minha mãe desde que ela se mudara para cá, e isso sempre me rendia hambúrgueres de graça.

"Faz alguma coisa na sua casa Braska!! Todo mundo quer ver sua mansão" Nathan exclamou, não fazendo nem o mínimo de interesse em seu tom de voz.

Revirei os olhos discretamente para que ele não percebesse.

"Claro, pode ser às 6 na minha casa então" falei desanimada assim que o professor entrou na sala.

Eu amava meus amigos, mas a maioria era interesseiro ou curioso.

A única que parecia realmente verdadeira era Dove, como minha vizinha, nós crescemos juntas e ela passa mais da matade dos dias na minha casa, loira, alta e com cara de princesa mas coitado de quem se colocassem em seu caminho.

Sempre em que eu me envolvia em alguma discussão ou briga ela me defendia com unhas e dentes.

Mandei uma mensagem para a mãe avisando que alguns amigos iriam lá para casa às 6.
*

As aulas foram horríveis (para variar), e o intervalo entre elas foi pior ainda. Vários alunos me olhavam de esguelha, querendo ser convidados para a "festa", me fazendo ficar com raiva de Nathan por espalhar para o colégio todo sobre a mesma.

Assim que o último sinal tocou, eu e Dove corremos para o ponto de ônibus, e apesar de já termos feito a prova ela continuava nervosa.

Conseguimos dois lugares no onibus apinhado de alunos e conseguimos ir para a casa sem interrupções.

*

Claro que o embuste do Nathan havia compartilhado meu endereço para o colégio todo, a cara da minha mãe quando viu todos aqueles adolescentes estranhos entrando na casa dela quase me fez rir, eu disse quase pois ela me lançou um olhar cortante me impedindo.

Tudo bem, depois de umas 2 horas de festa, conseguiram colocar um B A R R I L de cerveja no meu quintal, os sofás da sala estavam cheios de adolescentes se beijando e a cozinha estava cheia de copos vermelhos sujos.

Dove ficara em minha cola nas primeiras horas da festa, mas assim que a casa começou a encher demais, nós nos separamos e eu não via ela desde então, deve estar beijando algum felizardo em algum canto da casa.

Pior aniversário.

Aposto um rim meu que a maior parte das pessoas aqui não sabem que é meu aniversário e o resto não liga.

Abri a porta da frente e sai para respirar ar puro, o gramado também estava um caos, cheio de adolescentes bêbados tropeçando e outros dançando ao som da música alta (que provavelmente me renderia reclamações dos vizinhos)que tocava dentro da sala, e minha mãe já havia sumido a tempos.

Me inclinei e sentei no meio-fio, observando a noite cálida, finalmente uma trégua das chuvas de verão, mas elas com certeza, voltariam em uma semana ou duas.

Suspirei cansada e apoiei minha cabeça no meu joelho esquerdo, eu havia bebido apenas um pouco de cerveja e já estava assim!

Senti o vento ficar mais forte e tremendo pela falta de um casaco, abracei meu corpo e encolhi minhas pernas até meu queixo, fechando os olhos por um tempo, apenas para inspirar o ar puro que parecia cortar minha pele e invadir meus ossos.

Abri os olhos e levantei minha cabeça do joelho, me assustando com a imagem de 2 figuras encapuzadas na minha frente.

Que beleza, vou ser roubada e\ou sequestrada bem no meu aniversário!

Me levantei rapidamente, fazendo o mundo ficar preto por um segundo e minhas pernas falharem.

"É ela" ouvi uma das figuras encapuzadas dizer e senti minha clavícula pegar fogo e o mundo ficar completamente preto.

Peças ElementaisWhere stories live. Discover now