Capítulo Três

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R A V E N 

Era sexta-feira quando eu finalmente resolvi aparecer na Electric.

Depois daquela primeira noite com Stephen, eu pensei muito se deveria ou não voltar. Não queria ter que lidar com todas as coisas mal resolvidas entre nós, mas a ideia de fazermos aquelas sessões fora minha, pra começar.

Quando cheguei em Carmine, e o encontrei ali, eu pedi por aquilo. Pedi para que ele me ajudasse. Stephen nem pensou antes de aceitar — talvez, por causa da sua consciência pesada, ele acreditasse que, de alguma forma, estava em dívida comigo.

Mas depois da primeira semana de trabalho no Pandemônio, eu percebi que precisava extravasar tudo, descontar minha frustração. A Electric era uma boa maneira de fazer isso e, entre ouvir os comentários cínicos de Hades e ter que servir cerveja para criminosos, lidar com Stephen parecia a tarefa mais fácil da minha agenda.

Quando cheguei no galpão, fiquei um tempo parada na calçada olhando para sua fachada. O letreiro azul neon estava meio apagado e não existiam janelas para ver se ainda havia alguém lá. Era uma hora mais tarde do que Stephen combinara comigo na semana passada, então ele poderia já ter ido embora. Quando não compareci nos últimos dias, ele provavelmente presumira que eu não voltaria mais.

Respirei fundo e tentei empurrar a grande porta cinza do galpão, que cedeu, demonstrando que não estava trancada. As luzes brancas, fracas e esparsas do lugar estavam acesas. A Electric era bem ampla por dentro. Tinha as paredes também cinzas e um ringue no centro.

Sentado na beirada, esperando, estava Stephen. Seus cabelos loiros estavam presos com um elástico em sua nuca. Ele estava sem camisa, exibindo seu torso nu. Sua pele branca tinha um leve brilho dourado de um bronzeado natural. Ele usava apenas calças de moletom e seus pés estavam descalços. Mexia no celular, despreocupadamente.

Resisti ao impulso de simplesmente recuar e fingir que nunca havia aparecido, e dei alguns passos para dentro da academia.

Quando eu soube que Stephen era professor de luta no centro da cidade, pensei que poderia finalmente aceitar a proposta que ele fizera quando eu tinha catorze anos. Ele começara a treinar quando ainda era bem jovem, para descontar a raiva. Depois, se tornou questão de necessidade para não ser esmagado no mundo em que vivíamos.

Stephen se oferecera para me ensinar a me defender durante toda a nossa adolescência, mas eu pensava que aquilo não era pra mim. Agora, após ter fugido de Dallas, eu precisava estar preparada caso alguém fosse me procurar.

A primeira sessão de treino não fora tão intensa, eu não me machuquei — diferente do que pensava Stephen. Não fui às outras aulas porque ficar tão perto dele era estranho e me deixava confusa.

Assim que adentrei ao grande espaço, Stephen levantou a cabeça e seus olhos logo encontraram os meus. Coloquei as mãos nos bolsos da calça e dei passos incertos em sua direção. Ele deixou o celular de lado e se levantou, saltando do ringue. Sua figura era alta e esguia, com músculos muito bem delimitados em seus ombros e peito.

— Que bom que veio — disse ele, abrindo um sorriso gentil. Dei de ombros.

— Vamos começar logo — falei, retirando o casaco preto de moletom e os tênis em meus pés. Prendi os cabelos num rabo de cavalo alto com um elástico que estava em meu pulso e passei por ele, subindo no ringue. Stephen não me seguiu instantaneamente, entretanto. Quando percebi que ele continuava parado lá em baixo, me encarando, levantei uma sobrancelha. — O que foi?

— Está tudo bem? Você parece meio tensa — observou ele, franzindo o cenho.

Suspirei.

— É só o trabalho — respondi num tom casual, tentando amenizar a real importância do que estava acontecendo no Pandemônio.

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