Capítulo 15: A Festa

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O ano estava chegando ao fim. Depois que a chantagem acabou e Giovani passou a ocupar outros lugares na vida de Fernando, o tempo começou a voar. Em duas semanas seria Natal; mais um pouco e 2009 se encerrava, tendo sido, de longe, o ano mais louco e mais intenso da vida de Fernando. E foi movido por toda essa loucura e pela avalanche de acontecimentos atípicos dos últimos meses que ele decidiu fazer algo que nunca havia feito: dar uma festa. Era sempre ele sendo chamado para um encontro aqui, uma baladinha ali, uma social no condomínio de fulano ou ciclano, mas ele nunca era o anfitrião, e aquele ano não poderia se encerrar sem que ele fizesse isso pela primeira vez.

Os pais foram os principais incentivadores. Concordaram que às vezes também era bom recepcionar as pessoas e não só ir até elas, o único pedido que fizeram foi que ele devolvesse a casa inteira, como a encontrasse antes da reunião. Passariam um final de semana fora para que o filho e seus convidados pudessem se divertir à vontade, sem a preocupação de que a qualquer momento a festa acabaria porque os pais voltaram. Viajariam para a praia, aproveitando lá alguns dos dias de férias que Valério deu a si mesmo.

Laura ficou encarregada de garantir que ninguém derrubaria a casa, embora Fernando fosse responsável o bastante para não deixar isso acontecer. Lorenzo foi intimado a ajudar com a logística da coisa, pois era o mais festeiro e quem sabia onde comprar o quê e onde e quanto. Giovani ficou por conta de espalhar a notícia e convidar as pessoas relevantes. Ele sempre sabia quem chamar, sempre tinha os contatos certos. Fernando ficou por conta de fazer o restante e de rezar para que ninguém se afogasse nem usasse drogas nem vomitasse nos lugares errados nem quebrasse nada.

Os amigos de sempre foram chamados, mas ele tinha poucas expectativas de que eles fossem, primeiro porque não eram tão sociais, segundo porque o público não era o favorito deles. Giovani certamente convidaria os outros alunos populares da escola, incluindo os atletas, as garotas fúteis, os que iriam aonde ele estivesse, e Rafaela, Marina e Yuri não eram bem esse tipo de cool kid. Com um pouco de insistência, porém, Fernando conseguiu convencê-los a ir, prometendo que não os abandonaria para ficar com Giovani e Lorenzo, que agora pareciam ser seus novos amigos favoritos.

Ao anoitecer, a casa já estava pronta para receber os convidados para a Festa do Fernando. Lorenzo passou a tarde toda por lá, ajudando a deixar coisas no lugar, dispor copos, bebidas, aperitivos, tudo. Laura e Rodrigo o ajudaram; Fernando estava ansioso e empolgado demais para conseguir fazer alguma coisa. Não sabia nem que roupa vestir; não queria parecer relaxado, mas também não queria parecer que se esforçou demais para ser legal. Acabou seguindo o conselho da irmã e vestindo qualquer camiseta, qualquer bermuda e qualquer tênis, o que ele fez depois de uma investigação minuciosa do guarda-roupa—elegendo peças que não fossem quaisquer.

O início da festa estava marcado para as sete da noite. Até as oito e meia ainda tinha gente chegando. Às nove, já estava difícil circular pela casa; deviam ser em torno de quarenta adolescentes ocupando cada centímetro quadrado do lugar. A música dos altos falantes do home theater na sala competia com a algazarra juvenil em volume. Fernando queria dar atenção aos convidados, mas logo, logo percebeu que a maioria das pessoas não estava ali por causa dele, mas pela bebida e pela diversão, e isso acabou o fazendo se sentir desobrigado das funções tradicionais de um anfitrião. A única pessoa que ele queria encontrar era Giovani, mas ou ele ainda não havia chegado ou estava perdido na multidão. Perguntou a Lorenzo quando o viu passando para pegar mais bebida se ele sabia se Giovani já tinha chegado, mas ele não sabia de nada, disse que não falou com ele o dia todo.

Na volta para se reunir com Marina e Rafaela na sala, porém, quem Fernando encontrou foi Maitê, conversando com um grupo de amigas perto da entrada da casa. Uma sensação péssima se formou no estômago de Fernando, e outro pensamento igualmente ruim em sua cabeça. Será que o Giovani convidou ela? Por que ele faria isso? Giovani não era bobo: ele sabia que Maitê fazia Fernando se sentir inseguro. Embora os garotos não tivessem nenhum tipo de compromisso, embora o relacionamento sem nome que eles sustentavam fosse muito secreto e particular, Fernando era o elo fraco. Era ele quem nutria esperanças, era ele quem estava apaixonado, era ele quem sofria ao pensar que, não importava o quanto ele gostasse de Giovani, Giovani nunca gostaria dele do mesmo tanto; era ele quem se sentia um passatempo, um item descartável. Era ele quem tinha tudo a perder. Mas o que tornava a presença da garota ali ainda mais incômoda era o fato de que, com o passar do tempo, Giovani começou a indicar sistematicamente que ele e Maitê tinham terminado, embora ele jamais usasse essa palavra, porque para terminar com alguém, eles precisariam estar namorando, e ele jurava que o que tinha com Maitê nunca passou de um rolinho.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora