Capítulo 2: Vamos para sua casa?

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Eu estava paralisado, não conseguia entender. Por que o Matheus assumiu a culpa? Não demorou muito para o sinal tocar, eu entreguei minha prova e sai correndo para a diretoria. Por mais que estivesse aliviado, algo dentro de mim me dizia que aquilo era errado. Quando me aproximei da sala do diretor, vi Matheus estava sentando em um banco de madeira, me aproximei e sentei ao seu lado.

- Por que você fez isso? Você não sabe que isso vai te colocar em problemas? Agora você vai com zero na prova, como você vai fazer para recuperar a nota?

- Arthur, você deveria me agradecer, não acha?

- Pelo que? Eu não pedi para você fazer isso.

- Se você quiser eu posso falar para professora que não foi eu, que foi você que ficou passando resposta para o Murilo durante toda a prova. E afinal, por que você se arrisca tanto por aquele garoto? Não é a primeira vez que eu vejo você passando coloca para ele.

- Ele é meu amigo, eu não posso deixá-lo na mão.

- É, você não pode. Só que ele quase te deixou na mão hoje. E eu fico me perguntando, se não era com ele que você deveria estar dando sermão agora.

Por mais que eu odiasse o Matheus, até que aquilo parecia fazer sentido. Talvez eu realmente tivesse que mudar minha postura em relação ao Murilo.

Que seja! Eu só queria entender o porquê você fez isso, Matheus!

Ué, digamos que agora você fica me devendo uma.

Sei... E o que você vai querer que eu faça?

Matheus me encarou e deu um sorriso de lado, estendeu seu braço e levou sua mão até seu bolso e puxou seu celular. Então ele deslizou seu dedo sobre a tela do celular e me entregou.

- Digite seu número por favor.

- Por que, Matheus?

- Assim fica mais fácil de entrar em contato quando eu precisar que você me retribua o favor.

Não demorou muito para o diretor chamar Matheus para sua sala. Eu continuei ali sentado no banco esperando-o deixar a sala do diretor, mas sermão parecia que seria bem longo. Eu peguei meu celular para verificar as horas, já se passavam das 9 horas, o que significa que pedi metade da aula de física e já nem iria adiantar retornar para a sala, com certeza o professor já fez a chamada. O relógio parecia não querer avançar e nada do Matheus sair da sala do diretor.

- Ei, o que você está fazendo aí sentado? - Perguntou Murilo se sentando ao meu lado.

- Eu estou esperando o Matheus sair da sala do diretor.

- Pelo que eu conheço o diretor, ele não vai sair tão cedo. Não é melhor você voltar para a sala? O Matheus sabe se virar, você vai ver, o máximo que vai acontecer é ele assinar uma advertência ou algo do tipo.

- Para falar bem a verdade, eu quero é ir para casa.

- Quer fugir? Se você quiser eu pego nossas coisas na sala e a gente sai daqui.

- A ideia de fugir não me pareceu tão errada naquele momento, afinal já tinha dado tudo errado mesmo. Eu balancei a cabeça concordando e Murilo saiu correndo em direção a nossa sala. Logo ele retornou, todo ofegante e com as duas mochilas em suas costas.

- E aí? Vamos para sua casa? - Perguntou Murilo.

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A parte boa de morar com minha irmã é que ela simplesmente nunca estará em casa para me ver matando aula, ou melhor, para saber que fugi da escola. Assim que entramos em casa, nos jogamos no sofá e começamos a rir da situação. Apesar do sufoco que passei, eu estava me sentindo uma sensação muito doida, era como se seu fosse aqueles garotos rebeldes. E até que foi legal sentir aquilo. Acho que fugir da escola foi a coisa mais doida que eu já fiz.

- Tem algo para comer? - Perguntou Murilo enquanto alisava sua barriga.

- Acho que deve ter algo na geladeira.

Murilo se levantou rapidamente e foi até a cozinha. Eu aproveitei para dar uma checada no meu celular. Havia uma mensagem de um número desconhecido, só poderia ser de uma pessoa, Matheus.

''Amanhã, depois da aula, você pode me acompanhar até meu treino de natação?''

Eu sei muito pouco sobre o Matheus e algo que eu sei é que ele sempre gostou de nadar. Toda vez que ele vai para alguma competição ele sempre volta com uma medalha. Me recordo da última vez que ele venceu uma competição que teve na cidade, na manhã seguinte lá estava ele com medalha pendurada no pescoço durante aula, ele ficou falando daquela medalha para mim o dia todo. "Você precisava ter visto eu fui muito rápido, eu sou o melhor, não sou?''. Será que é por isso que ele quer eu vá com ele no treino de natação? Para ver o quanto ele é rápido? Ele deve estar precisando de atenção, será mesmo que tudo isso é carência? Por que ele não chama o Marcos para ir?

''E eu tenho escola?" respondi a mensagem.

Não demorou muito para ele responder.

''Não, você não tem! Você me deve uma. E não vai demorar, eu te prometo."

"Ok, Matheus. Eu irei com você!"

- Com quem você está conversando aí moleque? - Perguntou Murilo enquanto puxava o celular da minha mão.

- Com ninguém.

- Então liga esse videogame, vamos jogar alguma coisa. Vou derrotar você!

- Você sabe que videogame é o meu lance, né? Não tem como você me vencer, você não tem chance alguma contra mim.

- Convencido você, né Arthur? Coloca aí um futebol para ver se eu não ganho você. Você sabe que futebol é o meu lance.

- Você sabe que eu odeio futebol, não é? Eu nem tenho jogo disso... Mas nós podemos jogar Mortal Kombat.

- Ah, mas esse não tem graça, você sempre ganha.

Para de chorar, Murilo. Pega seu controle e vem jogar logo. 

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