Prólogo

76 8 3
                                    

— De acordo com pesquisas, entre quatro e cinco por cento da população não é hétero. Isso quer dizer que aqui, dentro dessa sala, tem pelo menos uma pessoa LGBT. E meia.

Os adolescentes do segundo ano colegial, sentados em círculo no chão de ladrilhos, ficaram paralisados. O ar na sala de aula parecia ter congelado, de tão denso e pesado que ficou após o comentário. Todo mundo sem respirar, esperando pra ver quem seria o primeiro a falar depois da afirmação um tanto, hm, polêmica, no mínimo.

A professora Ana piscou; às vezes até ela se surpreendia com o que saía da boca dos seus alunos.

— É sério. Podem pesquisar! — Pedro buscou o celular na mochila, largada de qualquer jeito às suas costas, perto da carteira arrastada.

— Ok, acho que não precisamos pesquisar isso agora, Pedro Henrique. — a professora suspirou. — Nada de celular durante a aula, lembra?

O menino encolheu os ombros, as palmas no ar como se estivesse se justificando.

— Só estou dizendo que é cientificamente comprovado e tal. E, tipo, tudo bem, né? Não é um convite pra ninguém sair do armário à força, de jeito nenhum, porque isso é muito... — ele fez uma careta pra expressar seu desgosto.

— Então pode ser qualquer um. — Nathanael, de braços cruzados e a cara de deboche de sempre, provocou. — Inclusive você.

— Não, eu não — Pedro não se intimidou. — Até onde sei, pelo menos. Não que eu tenha qualquer experiência no campo, digamos, mas não acho que eu-

— Ok, meninos, já entendemos seu ponto, Pedro. Nathan. — Ana levantou a voz. Ela gostava muito das discussões que conseguia produzir em sua aula; sempre recebia comentários positivos e ver seus alunos de fato pensando em assuntos como aqueles lhe deixava orgulhosa como professora.

Mas ela sabia muito bem que às vezes problematização demais deixava os garotos vulneráveis à atritos e conflitos desnecessários, e alguns eram tão fechados que nem com sua ajuda pareciam querer abrir a mente para novas possibilidades de pensar. Ruim pra eles, ela pensava, mas triste mesmo era ela ter que aceitar aquilo sem entrar na discussão.

O sinal para o intervalo tocou cinco segundos depois, porém, lhe poupando de uma possível dor de cabeça que Nathanael poderia lhe trazer se continuassem o debate.

— Certo, meninos! Quero que escrevam a redação que pedi para a próxima aula, ok? E tragam mais dúvidas e curiosidades pra gente discutir! — Ana foi obrigada a gritar em meio ao arrastar de pés e carteiras e cochichos. — Ah! Pessoal do clube de teatro! Não se esqueçam que temos ensaio hoje depois da aula!

Do meio da confusão de gente se levantando, saindo da sala para aproveitar o intervalo, carteiras sendo empurradas para a posição original, a professora Ana visualizou os polegares levantados e o sorriso de alguns dos membros do seu clube.

— Já estamos lá, 'fessora! — Isac gritou em resposta.

— Já estamos lá, 'fessora! — Isac gritou em resposta

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

---

Olá. Essa novelinha tem capítulos curtinhos e despretensiosos, fofura, final feliz e um toque shakespereano de tragédia cômica. Pra se ler numa sentada mesmo. Sem muito profundidade, mas com mais sinestesia - ou pelo menos é essa a intenção.

A história completa se encontra disponível em ebook na Amazon.

Por favor, apoie artistas e escritores nacionais!


Um e Meio [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now