Uma Questão de Honra

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Já estavam viajando há dias. Sir Bonn e seu cavalo Angus caminhavam lado a lado em direção ao norte, para as montanhas de Zarak, um conjunto enorme de montanhas rochosas que formavam um pedaço do que era o vasto reino dos anões. Finalmente chegaram na entrada da caverna que haviam ouvido da boca do bardo Augusto quando este esteve em sua presença em seu forte nas proximidades de Carrick.

Era exatamente como ele havia descrito: enorme. E seu interior mal podia ser vislumbrado. Acendeu uma tocha e entrou. Angus, porém permaneceu parado, o sentido animal do cavalo já o dizia que aquele lugar era perigoso para ele e estava certo. Lá dentro habitava um dragão, um poderoso e antigo ser que costumava aterrorizar algumas pequenas vilas do reino de Caithness, devorando seu gado, mas que parou depois que um nobre cavaleiro decidiu fazer um trato com ele ao invés de enfrentá-lo em um combate, no qual perderia com facilidade mediante as habilidades dessa criatura milenar.

Sir Bonn é um cavaleiro da Cantaria e passa por problema similar, mas ao invés de monstros, têm o rebanho de seus súditos atacados por uma praga mágica que só pode ser dissipada por uma criatura que possua poder e conhecimento similar ao dos criadores desta: os elfos negros. Renegados de seu próprio povo e que buscam a erradicação de todas as raças humanoides da face de Yrth. Sua magia era poderosa e somente uma poderosa criatura mágica poderia lidar com outras criaturas mágicas de tamanho poder.

O cavaleiro já andava há mais de dez minutos e nenhum perigo mostrou-se a ele, neste ponto as dúvidas do bardo poderiam ser sanadas quando dizia em seus versos acompanhados pela melodia do banjo, "e ninguém jamais presenciou que perigos poderiam acompanhar os incautos em seus caminhos até a besta mágica". 

Minutos mais tarde e já estava na presença do monstro. Enorme, imponente, exalando poder e nobreza, seus olhos estavam fixos nos do cavaleiro desde que este entrara na câmara. Ele estava deitado com o corpanzil contra o chão e o pescoço erguido com seus olhos reptilianos fixos no visitante.

- Diz-me cavaleiro – disse a criatura em perfeito ânglico com sua voz ribombando nas paredes – a que devo a tua visita?

Sir Bonn estremeceu a princípio, mas sacou sua espada com a ponta para baixo, pondo o joelho esquerdo no chão e dobrando o direto e apoiando ambas as mãos na espada enquanto abaixava a cabeça numa reverência que significava "minha espada a ti pertence" e assim permaneceu até conseguir falar.

- Ó poderoso dragão, venho diante de tua magnífica presença pedir-lhe auxílio em nome de meu povo que suplica minha ajuda, que nada pode fazer, para que me auxilie na erradicação de um mal que assola minhas terras.

- E por que eu deveria ajudar-lhe?

- Posso pagar-lhe da maneira que melhor lhe agrade.

- Nunca as posses de um mero cavaleiro seriam suficientes para satisfazer os gostos de um rei!

O cavaleiro estremeceu por dentro neste momento. Era verdade, ele não poderia pagar aquele dragão o que ele viesse a lhe exigir em ouro. A criatura já tinha centenas de anos e, segundo diziam, somente grandes lordes e reis conseguiam as somas suficientes para agradar a uma destas criaturas. Tampouco poderia forçar-lhe, seu esforço seria em vão, a criatura era enorme, antiga e só Deus sabia quanto poder poderia ter escondido. Mas não podia desistir ali.

- Diz-me então, ó poderoso, o que posso fazer para ti para que possas me ajudar a salvar meu povo que clama por mim, que se sente impotente com relação a o que lhes aflige. Posso garantir-lhe que minha palavra será paga com minha vida ou com o que lhe aprouver se com esta eu falhar.

Uma Questão de HonraWhere stories live. Discover now