Capítulo três

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— Quem limpa lá em cima?

Minha voz ecoou pelo teto alto do andar principal da escola, mas pelo menos ninguém pareceu se importar. Ben deu de ombros do meu lado.

— Alguém que dorme no andar debaixo — ele respondeu.

— Tá aí a parte que eu menos entendo — falei, enquanto nós andávamos pelos corredores. — Para que fazer um andar que é praticamente da altura de dois e deixar vocês dormindo lá embaixo como se fosse um porão?

— Não é um porão. Eu tenho uma janela.

— Mas imagina o tamanho da janela que você podia ter com metade desse andar. Olha para aquilo — apontei para uma das janelas imensas que davam para o jardim. — Quem limpa isso, meu deus?

Ben riu. Ele andava com as mãos atrás das costas, parecendo desinteressado, mas eu sabia que prestava atenção aos detalhes ainda mais que eu. Quando chegou do treinamento mês passado, me contou que parte dele era conseguir absorver seu ambiente, ficar sempre atento ainda que não parecesse. Contar as pessoas em um cômodo, as saídas e entradas, possíveis esconderijos para uma emergência. Ele aprendeu tudo isso só para ser meu guarda.

Preferia não pensar muito no que isso significava.

Nós estávamos de volta na frente da entrada. Tínhamos começado no andar debaixo. Ele me mostrou a cozinha, a lavanderia, seu quarto e os outros dos funcionários. A porta da escada para lá ficava do lado da ala hospitalar e de uma cafeteria franqueada. Se eu já tinha pedido alguma prova de que a matrícula dessa escola era cara, não precisava mais.

Nós viemos andando de volta, enquanto eu analisava quão longe o teto estava e quantos quadros dos meus irmãos, do castelo, do meu pai e de qualquer parente meu eu encontrava.

Muitos. Cheguei a contar vinte e nem tinha ido metade do caminho direito.

De onde estávamos, de costas para as portas, podia ver o pátio do outro lado do mais largo dos corredores. À nossa esquerda, a secretaria e a sala das aulas às quais ambas as Casas participariam. Do outro lado, ficava o auditório e, depois dele e de frente para a escadaria e o elevador, ficava o refeitório. Já era quase o final da tarde, e eu ainda não o tinha visto. Tinha algumas mesas com café do lado de fora, mas o refeitório estava passando por uma decoração para a festa de inauguração.

Nós só fomos até a porta para o pátio. De lá, conseguimos ver o prédio da Casa das Artes à esquerda e o da Casa das Ciências à direita. Eram grandes, mas pareciam quase miniaturas perto da escola. Mais para a frente, pelo menos segundo o mapa que eu segurava, ficavam as piscinas, o ginásio, a academia, o campo de beisebol e até um campo para hipismo afastado.

— Pequeno aqui, né? — Ben comentou, olhando por cima do meu ombro para o mapa e depois na direção de todas as outras instalações que não conseguíamos ver dali.

— Minúsculo. Vamos ver o outro lado?

Nós voltamos e continuamos pelo corredor principal, passando pela sala de computação e banheiros, chegando finalmente à biblioteca.

— Ah, é por isso que o teto é tão alto — Ben falou, mas eu não estava prestando atenção e nem conseguiria responder.

A biblioteca era enorme e parecia ter saído da Bela e a Fera. Ela até tinha escadas para alcançar prateleiras mais altas! Eu achava que isso era um mito! Tinha dois andares e uma escadaria maravilhosa. Segundo meu mapa, a Casa das Artes e das Ciências tinham suas próprias bibliotecas das áreas, mas esta era histórica. Tinha até horário de visitação de turista durante a semana! Eu super entendia por quê.

A Princesa Escondida (amostra)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora