Capítulo 4

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ALERTA DE GATILHO: LGBTFOBIA EM UM LAR RELIGIOSO.

    Eu estava sentada no canto da cama há horas, abraçada com os meus joelhos e mal desviava os olhos das paredes verdes claras do meu quarto

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    Eu estava sentada no canto da cama há horas, abraçada com os meus joelhos e mal desviava os olhos das paredes verdes claras do meu quarto. Não tinha conseguido pregá-los a noite toda, pois minha cabeça estava fervilhando com todos os pensamentos que resolveram aparecer de uma vez só e eu sentia a todo momento que estava prestes a ter uma outra crise de ansiedade.

    Mesmo sabendo que não aconteceria, passei a madrugada toda olhando o celular de dez em dez minutos na esperança de ter uma mensagem de Muriel, até o um emoji de cara feia faria com que eu me sentisse melhor. A todo momento eu imaginava a cena de quando eu me assumisse lésbica para a minha mãe e ao mesmo tempo em que eu sabia que a quantidade de crises que eu tinha poderia diminuir significantemente, eu também sentia medo, muito medo. Amava minha mãe mais do que tudo e só a possibilidade de ser ignorada e odiada por ela me deixava triste.

“Eu não aguento mais!” — Minha consciência disse cansada e eu tive que concordar com ela. Odiava toda aquela situação, sentia como se estivesse vivendo com uma bomba dentro de casa e que ela estava prestes a explodir.

    O sol já estava nascendo em Sunflower Town e iluminando o chão do meu quarto, quando eu, já cansada de ficar dividida entre contar e não contar, de sentir medo de minha mãe estar sabendo de algo, de sentir saudades de Muriel 24 horas por dia e não poder fazer nada, senti um a coragem surgindo em meu peito e tomando o lugar da ansiedade. Meus punhos que antes estavam cerrados se abriram e as unhas que estavam cravadas nas palmas das minhas mãos pararam de me machucar, o sentimento de pânico que tomava conta do meu ser foi se transformando aos poucos em nervoso, mas não um nervoso ruim.

    O relógio marcava 06:30 da manhã, quando ouvi o início de uma movimentação na cozinha e tive certeza de que minha mãe já tinha acordado. Ela trabalhava em um consultório de dentista na cidade de Alamanda Town e saía cedo de casa todos os dias.

    Tremendo de ansiedade, eu soltei os meus joelho e com delicadeza repousei os pés sobre o chão frio, tinha medo de levantar rapidamente e cair por as minhas pernas estarem fracas. Soltando um longo suspiro, me pus de pé e prendi os meus cabelos cacheados em um coque alto, eles insistiam em cair sobre o meu rosto e estavam me deixando irritadiça.

    Cansada de ficar enrolando, saí do meu quarto e rumei em direção ao primeiro andar onde ficava a cozinha e ia tentando preparar todo um discurso pelo caminho, mas nada vinha a minha mente. Minha mãe estava sentada à mesa sozinha, tomando seu costumeiro café com leite, açúcar e uma pitada de sal, quando eu adentrei o cômodo. Ela abriu um sorriso ao me ver e indicou a cadeira em sua frente, para que eu pudesse me sentar junto à ela, mas eu neguei com a cabeça.

— Você acordando cedo nas férias...que milagre é esse? — Ela indagou pegando sua caneca e tomando mais um gole de se café.

— Mãe, e-eu preciso conversar uma coisa séria com a senhora.

Querido Papai Noel... -Spin-Off de Sem Rodinhas [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora