No mundo de Canissa só existiam dois tipos de pessoas: aqueles que se apegavam a moralidade e aqueles que sobreviviam por quaisquer meios necessários. Pobre, com uma família enorme e vivendo em uma antiga monarquia onde gente como ela nunca recebia a oportunidade de subir na vida, ela se orgulhava de dizer que fazia parte do segundo grupo. Se ainda estava viva, foi por saber lutar e morder e roubar sem dó. Nem sonhando ela teria imaginado arranjar uma oportunidade de trabalho no palácio e nem nos seus mais loucos pesadelos teria adivinhado que uma vez lá iria chamar a atenção das duas pessoas mais poderosas em todo império. Entre uma princesa tão fria que quase congelava aquele deserto onde eles moravam com um só olhar e um imperador velho demais e interessado demais em Canissa, a primeira opção parecia ser só a menos pior entre dois infernos. Mas com reuniões clandestinas, cartas suspeitas e o assassinato de um membro da realeza que a mais de dez anos vinha sendo encoberto, tudo borbulhando ao redor dela, Canissa não podia deixar de se perguntar se não tinha acabado dando um passo maior do que a perna. Quando um segundo assassinato aconteceu, um que parecia impossível dela conseguir encobertar, ficou claro que Canissa tinha dado - e agora, com sangue real nas mãos e uma testemunha impassível, não tinha como voltar atrás.