O Alvo

Minha Protetora

— Como é o nome dele mesmo?

   Sua tranquilidade estava me deixando assustado a cada longo segundo que se seguia. Desde que fui praticamente arrastado pelo Tae até aqui, sentamos nas cadeiras da mesa de centro na cozinha e minha mãe permaneceu em todos os mínimos minutos, sem nos olhar uma única vez, indo de um lado para o outro. Enquanto conversava sobre assuntos aleatórios com meu amigo, alguma vezes desviando a atenção para o filhote. Por que ela está ignorando o fato de eu ter trazido um cachorro de uma hora para outra? Isso é normal?

— L-Luck — Falei sem tirar o sorriso amarelo do rosto.

— Bonito nome — Proferiu se abaixando, ainda de costas, abrindo o forno.

   E então pude sentir aquele aroma que sempre me deixou nostálgico, mesmo sendo algo que eu abominei por muitos anos, agora…eram apenas boas lembranças. Quer dizer, agora eu sei que as coisas que já aconteceram não podem ser mudadas, por isso, ainda que doa muito, não posso enterrar tudo para sempre. Faz parte de mim, faz parte da minha história e também, faz parte do tempo, o qual eu daria tudo para ter de volta.

   Antes da chegada do Kwang-Seok e sua devastação, o Tae passava muito tempo aqui em casa. Lembro como se fosse ontem quando brincávamos até seus pais ligarem para minha mãe mandando-o voltar, o que o outro fazia a contra gosto.

   Essa era a nossa rotina.

   Quando, sem querer, inventavamos novas brincadeiras, corriamos sem rumo, brigavamos sem motivo, causavamos alguns problemas e, principalmente, riamos de todas as nossas besteiras. Porém, o melhor sempre vinha com o pôr do sol...

   O delicioso bolo de Baunilha com cobertura de chocolate da minha mãe.
Uma receita que havia aprendido com algum membro da sua família vinda do exterior. Por mais que eu tenha toda a receita na cabeça, nunca ficava bom como o dela. A mesma sempre cozinhou muito bem, não consigo me recordar uma única vez que tenha feito algo ruim. Pelo contrário, eu costumava dizer que ela não cozinhava, fazia arte.

   E assim que recebia aquele sorriso bonito em resposta da nossa satisfação, tudo ganhava ainda mais sabor. Foi quando eu passei a acreditar que amor realmente é o melhor e mais importante de todos os ingredientes.

   A nossa rotina era de puro conforto.

   Ao vê-la ali, fazendo a mesma receita de anos atrás para mim e para meu amigo, como se o tempo não houvesse passado, me fez pensar o quanto que sou grato por ter alguém assim ao meu lado.

   Dane-se a rotina.

   Ela é o meu conforto. 

— Você já sabia dele, mãe?

   Tentei ao máximo manter o mesmo tom de voz e até pude sentir o sorrisinho idiota no rosto do meu amigo ao lado.

— Lógico né, jungkook?! Você sabia que seu cachorro uivou quase a noite inteira? — Questionou finalmente nos olhando.

   Seu olhar, o qual eu tinha quase certeza que seria de reprovação, acabou sendo um completamente risonho e compreensivo. Eu adorava este olhar, pena que ele havia sumido por esses anos.

— Então, ele te acordou? Me desculpa…

— Você realmente bebeu muito ontem, meu filho… — Cabreiro, abaixei a cabeça. — Eu estava no sofá quando você chegou. — Pronunciou antes de se virar em direção ao bolo novamente. — Tentei falar com você e até mesmo pedi para não dormir com o…Luck, mas a única coisa que fez foi sair correndo para o seu quarto agarrado ao cachorrinho chorando em desespero. Fiquei preocupada, mas você apagou em cerca de segundos.